20 dezembro 2020

A estrela de Belém

E, tendo nascido Jesus em Belém de Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém, dizendo: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? porque vimos a sua estrela no oriente, e viemos a adorá-lo. (Mateus 2:1,2) 
E, tendo eles ouvido o rei, partiram; e eis que a estrela, que tinham visto no oriente, ia adiante deles, até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde estava o menino. (Mateus 2:9)
Para quem gosta de Astronomia, a proximidade do Natal lembra a "Estrela de Belém" ou a referência nos Evangelhos sobre o surgimento de um corpo celeste que teria indicado aos três Reis Magos a posição da Manjedoura. De fato, inúmeros astrônomos no passado se dedicaram a desvendar o significado astronômico do surgimento dessa estrela, que está registrada apenas no Evangelho de Mateus. Céticos naturalmente considerem a descrição fantasiosa, como criada à posteriori para validar toda a narrativa dos Evangelhos sobre a vida de Jesus. Entretanto, para a imensa maioria dos cristãos, essa opinião não é válida. 

O que seria essa estrela? Encontrar uma explicação astronômica é uma tarefa difícil, pois envolve reconciliar o texto do Evangelho com diversas possibilidades em um cenário de escassos registros da época. Dependendo de qual for favorável, há uma sequência de datas que, se aceitas, determinariam o momento mais exato do nascimento de Jesus e toda a sequência de acontecimentos de sua vida conforme narrado no texto dos evangelhos. 

Excluindo a hipótese levantada pelo ceticismo - que chamamos aqui de "teoria da fábula"- algumas das possibilidades levantadas ao longo dos séculos para a Estrela de Belém são descritas de forma breve aqui. O assunto é complexo, pois envolve inúmeros autores e explicações possíveis.

Teorias

Meteoro: um bólido ou pedaço de meteorito que atinge a Terra vindo do espaço é um fenômeno bastante comum, mas rápido demais para se adequar ao texto evangélico, que diz ter sido a estrela vista "no oriente", de onde teriam vindo os magos. O texto sugere que o tempo envolvido desde o avistamento da estrela até o instante da manjedoura é incompatível com a hipótese do meteoro.

Cometa: uma representação universal dos presépios é o da Estrela de Belém como um cometa. Essa explicação leva em conta a descrição de movimento da estrela ao longo do tempo (seu "aparecimento" repentino) e apenas um cometa poderia ter essas características em um período de alguns meses (que seria comensurável com a duração da viagem dos magos até Belém).

O únicos registros que duraram milênios de passagens de cometas foram feitos por astrônomos chineses e coreanos. Um apareceu em 5 a. C e outro em 4. a. C.  Um outro, registrado em 12 a. C, coloca a data do nascimento de Cristo muito antes do tempo para ser aceito como possível. Segundo Humphreys [1] apenas o cometa de 5 a. C. seria um candidato à identificação de estrela dado seu brilho, conforme descrito na cronologia chinesa. Visível à vista desarmada de 6 de abril a 9 de março de 5 a. C, foi um cometa com longa cauda que teria aparecido e visto pelos magos. A cronologia permite inferir a região do céu onde o cometa foi visto, o que corresponde à constelação de Capricórnio (Ch'ien-niu). Conforme descreve Humphreys:
É interessante observar que os registros chineses descrevem o cometa de 5  a. C. como cruzando a constelação de Capricórnio. Em março-abril, Capricórnio se levanta no horizonte leste como visto desde a Arábia e vizinhanças e é observado nas primeiras horas do dia. Assim, esse cometa em particular foi visto se levantando à leste no céu da manhã. Mateus 2:2 diz que os magos viram "a sua estrela no oriente". Uma tradução alternativa para "no oriente" seria "em sua ascensão". Se essa tradução for adotada, o cometa de 5 a. C. se encaixa na descrição (...) [Ref. 1, p. 398] 
A hipótese cometária foi vista com ceticismo entre acadêmicos dada a crença generalizada de que cometas anunciariam desastres. Entretanto, conforme lembrado por Humphreys [1], cometas podiam simbolizar tanto bons como maus presságios. 

Uma vantagem da hipótese do cometa é que ela resolveria o problema com a data da morte de Herodes (por volta de 4. a. C), o que claramente indica que Cristo teria nascido meia década antes da data oficialmente fixada pela Igreja. Outro autor que defende a teoria comentária é Nicholl [2], embora não identifique o cometa chinês como um possível candidato, e afirme que o cometa de Cristo foi um outro, não encontrado nos registros chineses.

Fig. 1 Imagem da Wikipedia da obra de Kepler "De Stella Nova" de 1606 aberta na ilustração da nova estrela na constelação do Ofiúco (Serpentário). 

Conjunção planetária seguida de "nova estrela". Em outubro de 1604 uma "nova estrela" apareceu na constelação de Ofiúco (o Serpentário, Fig. 1), que foi vista por Johannes Kepler (1571-1630) depois de algumas dificuldades de observação por causa do mau clima na Europa Central [3][4]. 

Kepler, hoje conhecido como um dos mais importantes astrônomos do Renascimento, era também astrólogo. Um pouco antes, ele também observou uma grande conjunção entre Júpiter, Saturno e Marte em uma região do céu conhecida na época como o "Triângulo de fogo" (entre Sagitário, Áries e Leão). Para os astrólogos de então, uma conjunção desse tipo tinha um significado profundo. Kepler especulou que tal conjunção prenunciou o aparecimento da estrela no Serpentário . Como Kepler sabia que o ano imaginado para o nascimento de Jesus estava errado (como vimos, sabia-se que Herodes - responsável pelo massacre dos inocentes - teria morrido em 4 a. C), ele lançou a teoria de que a estrela de Belém seria uma nova estrela também precedida por uma conjunção como de Júpiter e Saturno. Os três reis magos, como astrólogos, teriam previsto a aparição da nova estrela por causas dessas conjunções. 

De fato, conjunções desse tipo ocorreram em 7 a. C. e nos anos seguintes [5]. As datas das conjunções foram 27 de maio, 6 de outubro e 1o de dezembro de 7 a. C. Uma conjunção tripla (envolvendo Júpiter, Saturno e Marte) ocorreu em 6 a. C. na constelação de Peixes (associada ao Cristianismo). Elas são comuns, embora a raridade aumente quanto mais próximo se avalie os planetas na conjunção ou se a conjunção é tripla (envolve três planetas).

Há quem afirme que uma coincidência de três grandes eventos astronômicos marcou o nascimento de Cristo [1]: um cometa, uma nova estrela e conjunções planetárias. Todas essas ideias estão profundamente arraigadas em interpretações astrológica, que se perderam no passado [1], p. 398:
Sugere-se que uma combinação de três eventos astronômicos estavam envolvidos: uma sequência de três conjunões de Saturno e Júpiter em 7 a.C, uma conjunção de três planetas em 6. a. C. e, finalmente, o aparecimento de um cometa na constelação de Capricórnio em 5 a. C. A história mundial astrológica, "Sobre conjunções, religiões e povos" de Mashalla do Sec. 8 AD baseou-se em uma teoria babilônica anterior de que importantes mudanças religiosas e políticas são preditas por conjunções de Saturno e Júpiter. Assim, Mashalla usou cálculos astronômicos Iranianos para declarar que inundações, o nascimento de Cristo e Maomé foram preditos por conjunções de Saturno e Júpiter sob circunstâncias astrológicas especiais... Dessa forma, sugere-se que a mensagem astrológica da conjunção de Saturno e Júpiter em Peixes em 7 a.C. era esta: o rei Messias nasceria em Israel. O fato de que a conjunção ocorreu três vezes em 7 a. C (maio, outubro e dezembro) reforçou a mensagem provavelmente. 
E os autores de [1] continuam:
Um encontro semelhante foi observado por Kepler em 1604 que, diferentemente de Regiomontano, calculou que tais encontros entre Júpiter, Saturno e Marte ocorreriam a cada 805 anos, e sugeriu que eles coincidiam com grandes eventos históricos (suas datas supostas foram 1617 a. C. para Moisés, 812 a. C. para Isaías, 6-7 a. C para Cristo, 799 AD para Carlos Magno e 1604 para a Reforma Protestante). Para Kepler, o encontro de três planetas era astrologicamente mais importante do que conjunções sucessivas de Júpiter e Saturno, de forma que sugeriu que a supernova de 1604 e a nova estrela de 5 a. C. devem ter sido resultados dessas conjunções. Para Caldeus, Marte representava o deus da guerra, para os Persas, o guerreiro celestial. Assim, sugere-se que o encontro de três planetas em 6 a. C., depois de três conjunções sucessivas em 7 a. C., confirmou para os magos que o rei Messias haveria de nascer em Israel e seria um rei poderoso. A cena estava dada: suas expectativas aumentaram depois do terceiro sinal que indicaria que o nascimento do rei era iminente. 
Assim, os "sinais do céu" (conjunções planetárias, eclipses etc) encontrados em citações bíblicas denunciam a influencia da astrologia na narrativa bíblica. A própria teoria de Kepler se fundamenta em crenças muito mais antigas, de raiz verdadeiramente astrológica.

Teorias "Aeronômicas". Para essas teorias, a tal estrela seria um corpo muito mais próximo da Terra - algo pertencente à alta atmosfera terrestre. Aqui entramos no campo puramente especulativo, sem registros ou de impossível "comprovação". Entretanto, um objeto desse tipo se ajustaria perfeitamente a uma interpretação literal do texto do evangelho.

A conjunção de Júpiter e Saturno em 2020. 

Conforme já divulgamos, o final de 2020 será marcado por uma aproximação entre Júpiter e Saturno, mais exatamente entre 20-21 de dezembro. Essa aproximação, de fato, é a mais fechada e visível a noite desde 4 de março de 1226. A Fig. 2 traz o registro da conjunção tripla que fizemos envolvendo também a lua em 16 de dezembro último. Muitos artigos recentes [6][7] identificam essa conjunção com o nome de J. Kepler, e erroneamente inferem que se trata de uma nova "estrela de Belém". Como vimos aqui, essa não foi a ideia de Kepler, a conjunção - como "ocorrência astrológica" prenunciaria para ele provavelmente outros fatos astronômicos. Para Kepler, a estrela de Belém seria uma nova estrela, que hoje sabemos serem "supernovas" ou estrelas grandes em seus últimos estágios de vida, que nenhuma relação podem ter com conjunções de planetas a milhares de anos-luz de distância.

Seja qual for a explicação, o mistério da estrela de Belém continua...

Fig. 2 Conjunção tripla entre a Lua, Júpiter e Saturno em 16 de dezembro de 2020, como visto em Brasília/DF. Foto do autor. Para J. Kepler (um dos últimos astrônomos-astrólogos), conjunções desse tipo prenunciavam o aparecimento de "novas estrelas" no céu. Uma delas teria sido a Estrela de Belém.

Referências

[1] Humphreys, C. J. (1991). The Star of Bethlehem a Comet in 5-BC and the Date of the Birth of Christ. Quarterly Journal of the Royal Astronomical Society, 32, 389.

[2] Nicholl, C. R. (2015). The great Christ comet: revealing the true Star of Bethlehem. Crossway.
http://www.armaghplanet.com/blog/6-theories-about-the-star-of-bethlehem.html

[3] Burke-Gaffney, W. (1937). Kepler and the Star of Bethlehem. Journal of the Royal Astronomical Society of Canada, 31, 417.

[4] Kemp, M. (2009). Johannes Kepler on christmas. Nature, 462(7276), 987-987.

[5] Clark, D. H., Parkinson, J. H., & Stephenson, F. R. (1977). An Astronomical Re-Appraisal of the Star of Bethlehem-A Nova in 5 BC. Quarterly Journal of the Royal Astronomical Society, 18, 443-449.

[6] C.  Choi (2020). Jupiter and Saturn’s Great Conjunction Is the Best in 800 Years—Here’s How to See It. https://www.scientificamerican.com/article/jupiter-and-saturns-great-conjunction-is-the-best-in-800-years-heres-how-to-see-it/ 

[7] Ashley Strickland (2020). "Watch for the 'Christmas Star' as Jupiter and Saturn come closer than they have in centuries":

02 dezembro 2020

Alguns eventos astronômicos em 2021

D. Pedro II, patrono da Astronomia no Brasil.

Trecho do diário de D. Pedro II em 16 de maio de 1891: 
A 23 haverá eclipse total da lua visível em parte em Paris. 
Entrada no perímetro da terra às 4h50 da tarde...
Grandeza do eclipse 1299 de diâmetro da lua. 
Como a 23 a lua nasce em Paris às 7:44 da tarde, 
só se observará o fenômeno no fim,
 saindo a lua da sombra às 8:26 e da penumbra às 9:31.
(Acervo histórico do museu imperial)

O ano de 2021 terá alguns eventos astronômicos interessantes como eclipses parciais da lua. Porém, não há ainda previsão de grandes cometas. Quase sempre cometas muito brilhantes são descobertos quando já estão mais próximos do periélio. Vamos torcer para que 2021 nos traga ao menos um. 

Apresentamos abaixo alguns dos principais eventos previstos para cada um dos meses do ano, com destaque para sua observalidade desde o Brasil.

Detalhes de alguns dos eventos descritos abaixo serão apresentados ao longo de 2021.

Janeiro

Uma conjunção de Saturno e Mercúrio ocorre no dia 9, e Mercúrio está em conjunção com Júpiter no dia 11. O asteroide 14 Irene atinge oposição no dia 14 com mag. 9.3. O cometa C/2019 N1 (Atlas) alcançará máximo brilho (mag. 9.7) no começo do mês. A luna nova (13 de janeiro) não atrapalhará as observações. Máxima elongação oriental de Mercúrio em 24 de janeiro, o que permitirá observar esse planeta ao entardecer. Na verdade, serão vários dias em que o mais próximo planeta do sol poderá ser observado.  

Fevereiro

A lua nova ocorre no dia 11 e a cheia no dia 27. Não há previsão de cometas brilhantes, o mais importante deles no mês será o C/2019 N1 (Atlas), com mag. 12, acessível apenas por instrumentos. O pico do chuveiro Alfa Centauridas ocorre em 8 de fevereiro com um máximo de 6 meteoros por hora. No dia 22 ocorre a oposição do asteroide 29 Amfitrite que atingirá mag. 9.7. Uma conjunção da lua e saturno ocorre no dia 10.

Março

Mercúrio atinge a máxima elongação ocidental no dia 6, sendo possível observar esse planeta antes do sol nascer. Júpiter e Mercúrio estão em conjunção no dia 5. A lua nova ocorre no dia 13. Vênus atinge máxima elongação ocidental no dia 20, sendo facilmente observado antes do nascer do sol. Ao telescópio será possível observar facilmente a "meia-lua" do planeta.  O cometa 10P/Tempel 2 atinge o periélio no dia 24 atingindo mag. 11. 

Abril

A lua nova ocorre em 12 e a cheia em 27. Sem perspectiva de cometas brilhantes. O asteroide 4 Vesta atinge oposição no dia 4, atingindo mag. 6.2. (Ver Fig. 1 para mapa de localização desse asteroide). Haverá uma ocultação de marte pela lua em 17 de abril, que será visível apenas entre a Índia e a Austrália.

Figura 1 Mapa da localização em 2021do asteroide Vesta.

Maio

Haverá uma conjunção da lua com Saturno no dia 3 e da lua com Júpiter no dia 4. A lua nova ocorre em 11, o que é relevante para a observação das Eta Aquáridas e Eta Líridas que tem picos neste mês.  Esse último chuveiro, para o Brasil não será favorável (taxa horária baixa, ~3 meteoros por hora). Mercúrio atinge máxima elongação oriental em 17. Destaque para uma conjunção de Vênus e Mercúrio poderá ser vista em 29. O cometa mais brilhante do mês será ainda o 10P/Tempel 2, com mag. 11. Há um eclipse total da lua em 26 que será observado no Brasil como eclipse parcial, com a lua se pondo no horizonte ocidental. Em 29, Mercúrio e Vênus estão em conjunção.

Junho

Os cometas do mês são 15P/Finlay (que atinge o perigeu no dia 18) e 7P/Pons-Winnecke ambos com mag. 11. A lua nova ocorre no dia 10, quando um eclipse anular do sol poderá ser visto em regiões setentrionais (como o Canadá, Groenlãncia e Rússia). Esse eclipse não será observado no Brasil. Uma conjunção da lua com Saturno ocorre em 27 e da lua com Júpiter em 28.

Julho

Máxima elongação ocidental de Mercúrio no dia 4. A lua nova ocorre em 9. No dia 7, o cometa 15P/Finlay atinge máximo brilho (mag. 8.5-9). Com a proximidade da lua nova, será uma boa data para observação desse cometa. Há várias conjunções da lua com planetas: com Mercúrio (dia 8), com Vênus (dia 12), com Saturno (dia 24), com Júpiter (dia 25). O asteroide 12 Victoria atinge oposição no dia 30 com mag. 8.8. Nesse dia também ocorre o pico do chuveiro Delta Aquáridas austrais.  Em 13, ocorre uma conjunção entre Vênus e Marte, que estarão separados por apenas 29' (um diâmetro da lua cheia).

Simulação Stellarium da conjunção de Marte-Vênus-Lua
no entardecer do dia 12 de julho de 2021.

Agosto

Saturno atinge oposição no dia 2. A lua nova ocorre no dia 8. Há uma conjunção da lua com Vênus em 11. O máximo das Perseidas ocorrem no dia 12. Júpiter atinge oposição no dia 19. Os cometas mais brilhantes do mês são 8P/Tuttle e 15P/Finlay, ambos com mag. 9.0. O asteroide 89 Júlia atinge oposição no dia 24 com mag. 9.0. A lua cheia ocorrem em 22 e é considerada uma "lua azul". Em 19, ocorre uma conjunção de Mercúrio e Marte que estarão separados por apenas 41.

Setembro

O cometa mais brilhante no mês será o 8P/Tuttle que atingirá mag. 8, sendo visível antes do por do sol.  Observações desse cometa são ideais próximos à lua nova, que ocorre no dia 6. Outro cometa previsto para o mês é o 4P/Faye que tem periélio no dia 10. Esse cometa, entretanto, atingirá mag. 10-11. O asteroide 2 Pallas atinge oposição no dia 11 com mag. 8.6 (ver Figura 2).  Mercúrio atinge máxima elongação oriental no dia 13. A lua cheia ocorre no dia 20. 

Figura 2. Mapa da posição do asteroide Pallas em 2021.

Outubro

O asteroide 40 Harmonia atinge oposição no dia 1 com mag. 9.5.  A lua nova ocorre em 6. O cometa 8P/Tuttle continua visível com mag. 8. Outros cometas de mesmo nível de brilho são 6P/d'Arrest e 67P/Churyumov- Gerasimenko com mag. 9-10. Vênus atinge máxima elongação oriental no dia 29. O planeta é visível por vários dias após o entardecer.  A famosa chuva Oriônidas, tem máximo no dia 21 e será prejudicada pela lua cheia que ocorre no dia 20.

Novembro

A lua nova ocorre no início do mês, dia 4. O cometa mais brilhante deste mês será 67P/Churyumov-Gerasimenko com mag. 8. No dia 5, Urano estará em oposição. O mês anterior e novembro será um período ideal para observar Urano. A lua cheia ocorrem em 19, que também será marcada por um eclipse lunar visível como eclipse parcial no Brasil com a lua se pondo no horizonte ocidental. Esse eclipse será total no oceano pacífico. O pico do chuveiro das Leônidas ocorrem entre 17-18. O asteroide Ceres está em oposição no dia 27 quando atinge mag. 7.2 (ver mapa de sua posição). 

Dezembro

A lua nova ocorre no início do mês, dia 4. A data marca também um eclipse total do sol que será visível apenas da Antártica. Não haverá eclipse em qualquer outra parte do mundo. O cometa mais brilhante deste mês será 67P/Churyumov-Gerasimenko com mag. 9. O asteroide 44 Nysa estará em oposição em 10 quando atingirá mag. 9.1. A lua entra em conjunção com vários planetas: Vênus em 6, Saturno em 8, Júpiter em 9. A lua cheia ocorre em 19. Em 29 ocorre uma conjunção entre Vênus e Mercúrio. O dia 31 é marcado por uma ocultação de Marte pela lua que somente será visível da Antártica. Para outros locais no mundo, o evento será uma conjunção. 

Referências

https://in-the-sky.org/  (mapas dos asteroides)

http://www.seasky.org/astronomy/astronomy-calendar-2021.html


16 novembro 2020

Conjunção de Júpiter e Saturno em dezembro de 2020

Aspecto da conjunção de Júpiter e Saturno em 21/12/2020 como visto por um telescópio de baixo aumento.

Júpiter e Saturno em conjunção em 20-21 de dezembro de 2020, a aproximadamente 6' de arco de distância (1/10 de grau) ou 1/5 do diâmetro da lua cheia. Trata-se de um fenômeno fácil de se observar a vista desarmada e que somente ocorreu nas mesmas condições de aproximação em 1623.

O melhor horário de observação será depois do pôr do sol, por volta das 19:00 no horário local do observador. O tempo de observação da conjunção após o por do sol é pequeno, com os planetas muito próximos do horizonte ocidental.  Assim, a conjunção não será visível por muito tempo nas datas indicadas - a menos que o observador localize o par de planetas durante o dia. 

Júpiter e saturno estarão na constelação do Capricórnio.

Essa conjunção oferece uma boa oportunidade para fotografar o par de planetas usando uma câmera acoplada a uma teleobjetiva. Deve-se usar máximo ISO e um tempo de exposição que sature os discos dos planetas para registrar os satélites (de Júpiter e Saturno).  

O melhor instrumento para observar essa conjunção é um binóculo.

Associada à conjunção de dezembro, uma conjunção tripla envolvendo a lua, júpiter e saturno ocorrerá em 19 de novembro de 2020, na ocasião, os planetas estarão ainda bastante afastados. 

Conforme o site earthsky.org, uma conjunção semelhante somente ocorrerá em março de 2080.

Referência

[1] https://earthsky.org/astronomy-essentials/great-jupiter-saturn-conjunction-dec-21-2020 

08 outubro 2020

Uma rara monografia sobre Marte por R. R Freitas Mourão

 

Podemos calcular, portanto, que a observação telescópica nas condições mais favoráveis será um disco - equivalente, em superfície, a 16 luas cheias. O número de detalhes observáveis, então, com um tal aumento será teoricamente imenso. Para o astrônomo, entretanto, ver "tudo o que se pode ver" sobre a superfície de Marte, serão necessárias observações persistentes, noite após noite, no fim das quais seus olhos tornar-se-ão cada vez mais espertos, até que, por fim seja fácil distinguir pormenores superficiais completamente invisíveis no começo. (R. R. de Freitas Mourão, "O Enigma Marciano").

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão (1935-2014) foi um conhecido astrônomo brasileiro e diretor do Observatório Nacional. Dotado de uma cultura imensa, ele escreveu dezenas de obras relacionando a Astronomia com inúmeros outros temas. 

Já escrevemos aqui, na ocasião de seu falecimento, uma descrição de sua bibliografia. Em nossa biblioteca particular encontramos um livro antigo de nossos pais, a coleção "Ciência Atraente e Recreativa" da década de 50, editada por Ary Maurell Lobo (quinto livro), um interessante ensaio de Mourão, apresentado como aluno do Colégio Andrews no Rio de Janeiro. 

Trata-se do ensaio "O Enígma Marciano" (Fig 1 e ref. 1), na grafia típica da época. Ainda com 21 anos, seu estilo parece não ter se modificado. Isso indica a precocidade de sua personalidade e que a metodologia que ele adotaria para escrever suas obras já estava definida desde muito cedo.

Página Inicial do Ensaio de Mourão sobre Marte
Fig. 1 Página inicial do ensaio de Mourão sobre Marte.

O editor da obra, que também era professor de Mourão, afirma na introdução não ter realizado nenhuma alteração no manuscrito original. Embora sem contar com uma lista de referências bibliográficas, o texto é repleto de citações, mostrando que Mourão já tinha, desde muito cedo, acesso a uma grande quantidade de informação sobre a astronomia marciana ou "aerografia". 

O texto é interessante para historiadores da Astronomia Nacional, porque revela o conhecimento que tínhamos então - na era pré-espacial - sobre Marte. Sua relevância cresce por representar a opinião de um autor nacional - ainda que muito jovem. Assim, pela comparação entre o que sabemos hoje e o texto de Mourão, fazemos ideia do quanto avançamos nesse conhecimento ou não. 

Mourão mistura informações de então - colhida de nomes profissionais como G. Vaucouleurs e G. Kuiper - com dicas sobre como observar marte, bem como conexões com a mitologia e a história da Astronomia. Na época, sobravam teorias sobre como uma possível vegetação poderia ser responsável pelas alterações de cor e tonalidade observadas na superfície de Marte, todas elas realizadas por meio de telescópios terrestres e sem a ajuda de sondas espaciais. 

Exemplos: sobre a descoberta dos satélites de Marte por A. Hall, descreve Mourão:
Em 11 de agosto (1877), Hall, juntamente com a sua secretária (que por sinal era a sua esposa), e, com ele, também se mostrava bastante interessada nessa pesquisa), observa o primeiro satélite de Marte (Deimos). Como nas cinco noites subsequentes não faça bom tempo, no dia 17 é que ele volta a pesquisar as vizinhanças de Marte, encontrando, então, o segundo satélite (Fobos). (p. 161)
Fig. 2 Desenho clássico de Marte e especulações de Mourão
na legenda sobre a superfície marciana.

Especulações da época estão presentes na monografia (Fig. 2), demonstrando as crenças entre astrônomos sobre a dinâmica da superfície de Marte. Um autor muito citado por Mourão é Gérard Henri de Vaucouleurs (1918-1995). Por exemplo:
São tais variações de coloração as que maior interesse despertam, por estarem estreitamente ligadas à existência de uma possível vegetação no planeta. G. Vaucouleurs observou que elas estão relacionadas com a chegada nessas regiões de uma onda de umidade, que se propaga por difusão na atmosfera seca, alternativamente, a partir das regiões polares Norte e Sul ao curso da evaporação vernal dos depósitos de gelo polar. ("Manchas Escuras", p. 165)
essa opinião, de fato, fazia sentido na época, pois era natural imaginar que água evaporada ou derretida das calotas polares (que se podia ver apresentavam modificações visíveis de tamanho) poderia "inundar" os desertos ou estepes secas do planeta e fazer crescer a vegetação. Hoje sabemos que parte das calotas polares se derrete e é formada por água, mas opinião mudou desde Mourão sobre a composição das calotas. O fato é que a atmosfera de Marte, sendo muito tênue, não permite esse fenômeno de "difusão de umidade" especulado por Vaucouleurs. 
  
Sobre o aspecto de Marte ao telescópio, Mourão escreve:
Examinado ao telescópio, três quartas partes aproximadamente da superfície de Marte apresentam uma tonalidade rósea ou ocre. Elas são, de um modo geral, bastante monótonas e de grande estabilidade. seu relevo è assaz moderado, pois as deformações observadas atingem no máximo 2 a 3000 metros. Entretanto, algumas vezes, aparecem pequenos pontos brancos em certas partes fixas, que talvez sejam montanhas isoladas, muito altas, capazes de favorecer uma condensação de gelo ou nuvens. Esses pontos esbranquiçados tem sido observados por vários astrônomos, entre eles: Schiaparelli, Jarry-Desloges, Wright, Maggini, Trumpler e Antoniadi. ( "Manchas Claras", p. 168)
De fato, tais ideia se confirmaram. A "Nix Olympica", por exemplo, foi identificada mais tarde como o topo de um dos mais elevados vulcões do sistema solar, o "Olympus Mons" com 21 km de altitude. 


Sobre os canais (Fig. 3), Mourão faz um resumo da polêmica ainda existente na época sobre a existência dos canais marciano. 
Foi no histórico ano de 1977 - marco de uma nova aerografia, como muito bem asseverou o grande Flammarion - que, no Observatório de Milão, Giovanni Schiaparrelli observou traços mais ou menos regulares e finos, atravessando as regiões desérticas do planeta. Na denominação destas formações usou Schiaparelli o vocábulo italiano "canali", no seu sentido de origem (traço, linha etc), que, entrentanto, com o tempo - terrível é a deturpação das palavras! - passou a significar canais artificiais. Logo após, em 1886, o mesmo astrônomo relatava, perante a Regia Academia dei Lincei, o curioso fenômeno de "geminazione", por ele observado, em 1881 e 1882, no qual os canais se desdobravam em outros paralelos. (p. 173)
Mourão descreve a controvérsia (ver ref. 3) e divide os nomes de astrônomos em dois times: os que observaram o fenômeno dos canais e os que não conseguiram ver nada. Mourão cita Domingos Costa (1880-1956) como um dos que não conseguiram ver os canais de Marte (ver ref. 2). 

Fig. 3 Reprodução do famoso mapa de Schiaparelli dos canais de Marte na monografia de Mourão. 

A solução? Segundo Mourão, ela estava na próxima oposição de Marte, que ocorreria no ano da publicação de sua dissertação:
Contudo, a grande esperança para a completa elucidação dos canais é a próxima oposição deste ano, em que se utilizará o telescópio de 200 polegadas, de Monte Palomar - que pode fotografar Marte em exposições de um décimo de segundo ou menos - para se obter um número imenso de fotografias (na oposição de 1954, foram tidadas 8.100 fotografias, nos Observatórios de Monte Wilson e Palomar), que permitirão revelar a existência e a estrutura real dos "canais". (p. 174)
Desnecessário dizer que não houve solução alguma pelo telescópio de Palomar. De qualquer forma, na grande oposição de 2020, homenageamos aqui seu autor que, no cenário nacional presente de desencando e desinformação, está fazendo muita falta.

Referência
  1. R. R. F. Mourão (1956) - "O Enigma Marciano". Ciência Atraente e Recreativa, 5 Livro. p. 157-176. Interessados podem escrever para o autor deste post sobre como obter acesso ao texto integral. 
  2. Sobre Domingos Costa: http://brasilianafotografica.bn.br/?tag=domingos-fernandes-costa
  3. O que aconteceu aos canais de Marte? http://astronomiapratica.blogspot.com/2015/02/o-que-aconteceu-com-os-canais-de-marte.html

05 outubro 2020

Oposição de Marte em 2020

fig. 1 Diagrama da ALPO dos principais aspectos da oposição marciana de 2020.

Outubro em 2020 é o grande mês da oposição marciana. Este ano, a posição do planeta será favorável a sua observação com diâmetro máximo de 22.6". Como o período orbital deste planeta é aproximadamente o dobro do ano terreno, apenas a cada dois anos temos a oportunidade de observá-lo mais próximo.

Conforme noticiamos aqui, e segundo o comunicado da ALPO

A aproximação máxima ocorrerá as 14:19 TU em 6/10/2020, com um disco planetário aparente de 22,6" a uma distância de 0,41 UA ou 62,07 milhões de quilômetros de distância. Durante a máxima aproximação em 2020, o diâmetro de Marte será 1,7" menor que na oposição de 2018, porém, ele estará 31 graus mais alto no céu, o que favorecerá observadores nos hemisférios norte e sul da Terra. Observa-se que a máxima aproximação da Terra com Marte não necessariamente coincide com o tempo de oposição, mas varia num intervalo de até duas semanas.

Em realidade, o planeta permanecerá visível favoravelmente ao longo de todo o mês de outubro e parte de novembro. A data de máxima aproximação é 6 de outubro, mas sua oposição ocorrerá em 13 de outubro. As datas não coincidem porque o ponto de máxima aproximação não corresponde à posição de sua órbita em que ele se posiciona em "oposição" ao sol em relação à Terra.

Na oposição de outubro de 2020, Marte estará na constelação de peixes. Nessa oposição, o hemisfério sul de marte estará em posição mais favorável de observação para a Terra. Por meio de um bom telescópio será possível ver regiões claras e escuras na sua superfície que correspondem a desertos e a regiões onde rocha está exposta. Será possível observar a calota polar sul, que dominará a visão dos polos.

Para observar o planeta, como já comentado, um telescópio de no mínimo 150 mm de abertura é recomendado. Grandes aberturas (~ 300 mm sob boas condições atmosféricas) podem proporcionar imagens detalhadas de características da superfície do planeta. Com instrumentos menores (p. ex., um refrator de 75 mm de diâmetro), é possível ver marte como uma pequena "bolinha" sem grandes aumentos.

O problema das tempestades de areia

Como é conhecido, não está garantida uma observação absolutamente límpida dos princiapais detalhes na superfície de Marte, dada a chance de ocorrerem tempestades de areia.

fig. 2 Diagrama do aspecto de Marte em sucessivas oposições desde 2016 até 2035. Crédito: Pete Lawrence. 

Para quem perder a oposição de 2020, haverá outra em 2022. O diagrama da fig. 2 mostra o aspecto do planeta e seu tamanho nas diversas oposições desde 2016. A oposição de 2018 foi a mais favorável, com diâmetro de 24.3". A partir de então, Marte reduzirá seu tamanho aparente até 2033 quando uma oposição semelhante à de 2020 ocorrerá. Em particular, a oposição de 2035 será bastante favorável.

Referência

Revista "Sky at Night". https://www.skyatnightmagazine.com/ 

14 agosto 2020

Novas notícias sobre Betelgeuse

Fig 1 Representação pictórica da NASA ilustrando como uma nuvem de poeira obscureceu a visão de Betelgeuse. Créditos: NASA/ESA/E. Wheatley (STScI).

O leitor deve se lembrar do mínimo histórico atingido por Betelgeuse no final de 2019. Escrevemos o post "Será que Betelgeuse (α Orionis) vai explodir ?" logo no começo deste ano. Nesse texto alertamos para a onda de "catastrofismo" que também assola a Astronomia. A crença é que aquela estrela estava prestes a explodir, o que iluminaria o céu com um segundo sol.

Pois bem, passado mais de meio ano desde a notícia, há novidades sobre o caso. Em um artigo recente, Dupree et al (2020) descrevem algumas conclusões baseadas em análises do telescópio Hubble e uma nova hipótese para a redução de brilho:

A supergigante vermelha Betelgeuse (Alpha Orionis, HD 39801) experimentou um esmaecimento visual entre dezembro de 2019 e o primeiro semestre de 2020, alcançando uma mínima histórica entre os dias 7 e 13 de Fevereiro. Durante o período de setembro a novembro de 2019, antes do evento de redução de brilho óptico, a fotosfera expandiu-se. Ao mesmo tempo, espectros ultravioletas com resolução espacial usando o espectrógrafo de imagem do telescópio espacial Hubble revelaram um aumento substancial, no espectro ultravioleta, da linha de emissão de Mg II da cromosfera sobre o hemisfério sul da estrela. Além disso, a temperatura e densidade eletrônica inferidas a partir do diagnóstico espectral da linha CII também aumentaram no hemisfério. Essas mudanças aconteceram antes do grande evento de esmaecimento. Variações nos perfis da linha de Mg II sugerem que material se moveu para fora em resposta à passagem de um pulso ou onda de choque de setembro de 2019 até novembro. Parece que esse fluxo extraordinário de material da estrela, iniciado provavelmente por elementos fotosféricos convectivos, foi aumentado por coincidência com movimento de fluxo de fase da pulsação de 400 dias. Essas observações em ultravioleta parecem fornecer uma conexão entre as grandes células convectivas da fotosfera e o evento de ejeção de massa que se resfriou para formar uma nuvem de poeira sobre o hemisfério sul registrado em dezembro de 2019, e que também resultou no esmaecimento  óptico excepcional de Betelgeuse em fevereiro de 2020.

A Fig. 1 é uma ilustração do Instituto para o Telescópio Espacial que simplifica o resumo do artigo de Dupree et al de 2020 traduzido acima. Ao invés de uma grande contração que reduziria o brilho e seria o prenúncio de uma catástrofe estelar, algo mais simples teria ocorrido. 

Uma gigantesca ejeção de massa como observada no hemisfério sul da estrela já em setembro de 2019 teria coincidido com uma das pulsações "para fora" da estrela gerando uma nuvem de poeira. Por coincidência (alinhamento geométrico), essa nuvem de pó ficou entre a Terra e a estrela, e o que vimos foi o brilho de Betelgeuse se reduzir drasticamente. 

Novas imagens e medidas de brilho de Betelgeuse continuarão ao longo de 2020 tão logo a estrela saia de sua fase de conjunção helíaca. As medidas de brilho, aliadas à observações espectrais, fornecerão uma imagem dinâmica da evolução desses eventos de variação irregular de brilho e auxiliarão a compreensão do mecanismo de evolução de grandes estrelas como Betelgeuse.

Referências

06 agosto 2020

Ocultação de Marte pela lua em 6 de setembro de 2020 (GMT)


Mapa IOTA para a região de observação da ocultação de marte pela lua em 6 de setembro de 2020.

Em 6 de setembro de 2020 (GMT), a lua ocultará Marte para boa parte do território nacional como mostra a figura acima. A ocultação também será visível na parte ocidental da América do Sul.

Em conformidade com a página da IOTA [1], o desaparecimento de Marte terá início para Brasília/DF, por exemplo, em 6/9/2020 as 2:49 TU (ou 23:49 da hora local do dia 5/9/2020. Atenção para as datas!). 

Fig. 1 Aspecto do reaparecimento de marte as 1:05 BRT em 6/9/20 como visto desde Brasília/DF. 

Na ocasião, marte brilhará com mag. -1.9 e a lua estará bem alta no céu. Mais interessante do que o desaparecimento, o reaparecimento de marte ocorrerá na parte não iluminada do disco lunar. Para Brasília/DF, o aspecto do reaparecimento de marte é visto na Fig. 1 e ocorrerá próximo de 1:03 do dia 6/9/2020.

Para outras localidades do Brasil consulte [1]. O software Stellarium permite determinar o aspecto da ocultação para qualquer localidade, desde que a posição do observador esteja ajustada corretamente. 

Referências

[1] http://lunar-occultations.com/iota/planets/0906mars.htm


09 julho 2020

Ocultação de Marte pela lua em 9 de agosto de 2020 (GMT)


Mapa IOTA para a região de observação da ocultação de marte pela lua em 9 de agosto de 2020.

Em 9 de agosto de 2020, a lua ocultará Marte para a parte sul e sudeste do Brasil conforme mostra o mapa acima, o que também inclui considerável parte sul da América do Sul (Uruguai, Argentina e parte austral do Chile). A ocultação terá seu início um pouco antes do nascer do sol.

A página da IOTA [1], fornece os horários de desaparecimento e reaparecimento para diversas localidades.

Em Brasília/DF não haverá ocultação, nem mesmo razante. Entretanto, marte se aproximará da lua  por volta das 06:15 BRT, a menos de 16" de arco segundo uma simulação Stellarium. Será uma boa ocasião para se tirar fotografias. 

Para a cidade de São Paulo/SP, o desaparecimento ocorrerá as 8:28 TU (ver Fig. 1) e o reaparecimento as 09:40 TU. O reaparecimento ocorrerá na face não iluminada da lua e ocorrerá com o sol já acima do horizonte. 

Fig. 1 Aspecto do desaparecimento de marte em 9 de agosto de 2020 como visto desde a cidade de São Paulo/SP por volta das 5:26 hora local.

Referência

04 julho 2020

Cometas em 2020: C/2020 F3 NEOWISE


Aspecto do cometa C/2020 F3 (Neowise) em 28 de julho as 18:49 BRT simulado com  o Stellarium.

Em um post anterior, dissemos que 2020 não seria um ano propício para cometas. Entretanto, ser um bom ano para cometas não depende apenas do ano, mas da sorte e, principalmente, da posição do observador.

O  cometa C/2020 F3 NEOWISE, descoberto em 27 de março último, se apresenta no início de julho como astro de magnitude próxima a zero. É uma pena, porém, que ele esteja muito próximo do sol a ponto de se mostrar apenas para observadores em posições favoráveis.

Infelizmente, esse não é um cometa que em seu máximo brilho se mostrará para observadores no hemisfério sul. Assim, o leitor no Brasil não deverá perder seu tempo tentando buscá-lo no céu, se sua posição estiver ao sul do paralelo de latitude 5 graus sul. 

Para observá-lo no hemisfério austral, teremos que esperar até, pelo menos, o final de julho. Na data, seu brilho será consideravelmente reduzido, mas ainda assim talvez se comporte como objeto visível sem auxílio de instrumentos.

A partir de 27 de julho, o cometa será visível para observadores austrais após o entardecer (por volta das 18:30), como um objeto próximo ao horizonte boreal. Passará entre Coma Berenices e Canes Venatici em 31 de julho com magnitude próxima a 4.0.

Em 14 de agosto cruzará a fronteira entre Bootes e Virgo como mostra a Fig. 1

Fig. 1 Posição do cometa F3 Neowise em 14 de agosto de 2020 para um observador em Brasília/DF. O horário é 18:30. O cometa se colocará entre Spica (Azimeq) e Arcturus.
 
Progressivamente se tornará um objeto melhor visto para observadores no hemisfério sul, ainda que seu brilho se reduza consideravelmente. Para o final de julho, um pedaço do mapa disponível no site Comet Chasing foi reproduzido abaixo, onde a posição do cometa para o período de 21 a 31 de julho é mostrada.

Pedaço do mapa do Comet Chasing mostrando a posição do Cometa C/2020 F3 no final de julho de 2020. 

Referências











11 janeiro 2020

Será que Betelgeuse (α Orionis) vai explodir?

A grande constelação de Órion. Betelgeuse é a estrela mais brilhante do 'quadrilátero' visto acima nesta foto.
Betelgeuse é a conhecida estrela vermelha da grande constelação de Órion, ou o caçador. Ela também é considerada  uma estrela grande na Astronomia, como uma 'gigante vermelha'. 

Para um observador cuidadoso e reparador, a forma da constelação de Órion é facilmente distinguível. Visto 'de ponta cabeça' desde o hemisfério sul, a figura do homem tem o seu ombro formado por duas estrelas: Bellatrix (γ Orionis) e Betelgeuse (α Orionis). O primeiro nome serviu para uma personagem do filme 'Harry Potter', mas seu significado como 'a guerreira' é antigo na astronomia. Já Betelgeuse significa 'a mão de Jalsa' (يد الجوزا , yad al-Jawza, [1]) de origem árabe. 

Recentemente, porém, o ombro do gigante apresenta-se visivelmente mais fraco.

Sobre Betelgeuse 

Betelgeuse é uma estrela variável. Isso significa que, ao longo o tempo, ela apresenta variações mais ou menos cíclicas na quantidade de luz que emite. Tecnicamente ela é uma supergigante vermelha do tipo M2 Iab [2] e dista da Terra em 700 anos-luz. Trata-se de uma variável irregular com quase 12 vezes  a massa do sol e que apresenta um dos maiores diâmetros aparentes visíveis em estrelas, o que possibilitou a observação de seu 'disco', ou melhor, seu diâmetro como limitado pela sua cronomosfera, o que depende fortemente do comprimento de onda usado para tomar uma imagem. 

Não obstante a observação de seu 'disco', não existe uma imagem clara do mecanismo que gera as pulsações. Há trabalhos que sugerem um modelo para Betelgeuse como uma grande esfera débil na superfície da qual existiriam manchas brilhantes [3]. Quando essas manchas se interpõem entre o núcleo da estrela e a Terra, seu brilho aumenta. Outros modelos explicam Betelgeuse como um sistema pulsante, com várias 'células de convecção' que seriam responsáveis pelo brilho variável. 

O fato 

Um relatório recente [4], que apresenta medidas quantitativas de brilho, indica que Betelgeuse continua sua crise de debilidade como pode ser visto na figura abaixo. Essa é a curva de luz de Betelgeuse como função do tempo em 'dias Julianos heliosféricos' (HJD). O último ponto dessa curva corresponde a 6 de janeiro de 2020. Cada unidade é um dia e,  no eixo vertical, se mostra a magnitude visual. As lacunas nesse gráfico correspondem a 'conjunções helíacas' da estrela, quando seu brilho não pôde ser medido porque estava em conjunção como sol.

Curva de brilho (magnitue visual) de Betelgeuse como medido por um time da Universidade de Villanova [4].
A estrutura da curva de brilho, embora recorrente, é irregular (um período em torno de 400 dias). Como se pode ver, todo munda já sabe que a estrela reduz seu brilho. No ciclo anterior de mínimo, sua magnitude chegou a 1.0, enquanto que hoje ela está em 1.4, o que não mais faz de Betelgeuse a mais brilhante estrela da constelação (a mais brilhante - e o leitor poderá verificar isso por si mesmo - é Rigel ou β Orionis). É importante entender que o tal mínimo pode ser devido ao fato de as manchas brilhantes estarem em outro lugar na estrela e não visiveis a nós, o que só ocorre no máximo.

O destino de nosso conhecimento sobre Betelgeuse depende inteiramente de quem acertar o melhor 'modelo' para sua superfície. Diante de diversas referências sobre o assunto [2][3], é possível ver que não há um consenso sobre a estrutura da estrela. Há previsões de que o mínimo estaria na sua fase final [5], sendo aguardado, no máximo, até fevereiro de 2020. 

Conclusão

O fato de que a estrela tenha atingido um mínimo não significa que ela está na iminência de 'explodir' como recentemente alardeado por sites da internet e revistas consideradas de divulgação científica [6]. De forma irresponsável, esse raro mínimo tem sido associado à possível explosão de Betelgeuse. 

A previsão de uma explosão depende das 'trajetórias evolutivas' [3] da estrela, o que sujeita-se fortemente os modelos estelares admitidos. De fato, apenas se esses modelos e hipóteses estiverem corretos, uma explosão da estrela seria esperada daqui a 100 mil anos [3], e criaria no céu um objeto com magnitude -12.4, mais brilhante que a lua cheia. Haveria considerável produção de Raio-X e radiação gama, mas isso não chegaria a afetar a vida na Terra pela blindagem de sua atmosfera.

Ainda assim, o leitor deve atentar para o fato de que, se isso acontecer hoje (tempo em que o leitor ler esta frase), só saberá disso daqui a mais ou menos 700 anos. Mas, se acontecer, tudo o que sabemos sobre Betelgeuse está errado...

Referências

[2] FREYTAG, Bernd; STEFFEN, Matthias; DORCH, Bertil. Spots on the surface of Betelgeuse–Results from new 3D stellar convection models. Astronomische Nachrichten, v. 323, n. 3‐4, p. 213-219, 2002.
[3] DOLAN, Michelle M. et al. Evolutionary tracks for Betelgeuse. The Astrophysical Journal, v. 819, n. 1, p. 7, 2016. https://iopscience.iop.org/article/10.3847/0004-637X/819/1/7/pdf
[5] SIGISMONDI, Costantino. Betelgeuse at the end of 2019: an historical minimum about to end. arXiv preprint arXiv:1912.12539, 2019. https://arxiv.org/ftp/arxiv/papers/1912/1912.12539.pdf
[6] Exemplos que mostram a precariedade da imprensa científica são: