Fig 1 Representação pictórica da NASA ilustrando como uma nuvem de poeira obscureceu a visão de Betelgeuse. Créditos: NASA/ESA/E. Wheatley (STScI). |
O leitor deve se lembrar do mínimo histórico atingido por Betelgeuse no final de 2019. Escrevemos o post "Será que Betelgeuse (α Orionis) vai explodir ?" logo no começo deste ano. Nesse texto alertamos para a onda de "catastrofismo" que também assola a Astronomia. A crença é que aquela estrela estava prestes a explodir, o que iluminaria o céu com um segundo sol.
Pois bem, passado mais de meio ano desde a notícia, há novidades sobre o caso. Em um artigo recente, Dupree et al (2020) descrevem algumas conclusões baseadas em análises do telescópio Hubble e uma nova hipótese para a redução de brilho:
A supergigante vermelha Betelgeuse (Alpha Orionis, HD 39801) experimentou um esmaecimento visual entre dezembro de 2019 e o primeiro semestre de 2020, alcançando uma mínima histórica entre os dias 7 e 13 de Fevereiro. Durante o período de setembro a novembro de 2019, antes do evento de redução de brilho óptico, a fotosfera expandiu-se. Ao mesmo tempo, espectros ultravioletas com resolução espacial usando o espectrógrafo de imagem do telescópio espacial Hubble revelaram um aumento substancial, no espectro ultravioleta, da linha de emissão de Mg II da cromosfera sobre o hemisfério sul da estrela. Além disso, a temperatura e densidade eletrônica inferidas a partir do diagnóstico espectral da linha CII também aumentaram no hemisfério. Essas mudanças aconteceram antes do grande evento de esmaecimento. Variações nos perfis da linha de Mg II sugerem que material se moveu para fora em resposta à passagem de um pulso ou onda de choque de setembro de 2019 até novembro. Parece que esse fluxo extraordinário de material da estrela, iniciado provavelmente por elementos fotosféricos convectivos, foi aumentado por coincidência com movimento de fluxo de fase da pulsação de 400 dias. Essas observações em ultravioleta parecem fornecer uma conexão entre as grandes células convectivas da fotosfera e o evento de ejeção de massa que se resfriou para formar uma nuvem de poeira sobre o hemisfério sul registrado em dezembro de 2019, e que também resultou no esmaecimento óptico excepcional de Betelgeuse em fevereiro de 2020.
A Fig. 1 é uma ilustração do Instituto para o Telescópio Espacial que simplifica o resumo do artigo de Dupree et al de 2020 traduzido acima. Ao invés de uma grande contração que reduziria o brilho e seria o prenúncio de uma catástrofe estelar, algo mais simples teria ocorrido.
Uma gigantesca ejeção de massa como observada no hemisfério sul da estrela já em setembro de 2019 teria coincidido com uma das pulsações "para fora" da estrela gerando uma nuvem de poeira. Por coincidência (alinhamento geométrico), essa nuvem de pó ficou entre a Terra e a estrela, e o que vimos foi o brilho de Betelgeuse se reduzir drasticamente.
Novas imagens e medidas de brilho de Betelgeuse continuarão ao longo de 2020 tão logo a estrela saia de sua fase de conjunção helíaca. As medidas de brilho, aliadas à observações espectrais, fornecerão uma imagem dinâmica da evolução desses eventos de variação irregular de brilho e auxiliarão a compreensão do mecanismo de evolução de grandes estrelas como Betelgeuse.
Referências
- "NASA telescope uncovers the cause of Betelgeuse's mysterious dimming". Cnet.com (Agosto de 2020)
- Dupree et al (2020). Spatially Resolved Ultraviolet Spectroscopy of the Great Dimming of Betelgeuse. The Astrophysical Journal. https://iopscience.iop.org/article/10.3847/1538-4357/aba516
- Hubble Finds That Betelgeuse's Mysterious Dimming Is Due to a Traumatic Outburst. (Agosto de 2020)
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