17 setembro 2023

Nova recorrente: T CorB terá um máximo em 2024?

Fig. 1 Um modelo para T CorB segundo a Wikipedia.

Há uma história fascinante ligada a T CorB ou "T Coronae Borealis" (AAVSO 1555+26, TIC 462607643 ou HD 143454), uma estrela de mag. 10 na constelação da Coroa Boreal. Dizem que, de temos em tempos, essa estrela apresenta um fenômeno de aumento súbito de brilho que pode levá-la a se tornar visível à vista desarmada.

A estrela em si é um sistema binário formado por duas componentes: uma gigante vermelha (chamada componente "fria" justamente por ser vermelha) e uma anã-branca que canibaliza a gigante e tem seu próprio disco de acreção (Fig. 1). O conjunto binário é chamado também "par simbiótico" por causa talvez dessa relação mais ou menos perigosa que seria melhor descrita como uma espécie de "parasitismo estelar".

A novidade é que a Associação Astronômica Britânica já lançou alguns informes para início de uma campanha de observação dessa estrela. Segundo um artigo escrito por Jeremy Shears [1]:
É necessária vigilância, e os observadores são encorajados a manter um olhar atento sobre o T CrB. São solicitadas observações noturnas visuais e digitais (CCD/CMOS) para monitorar o desvanecimento atual e identificar o mínimo do mergulho Peltier pré-erupção, que será o aviso de 3 meses da erupção. Gráficos estelares de comparação do campo estão disponíveis no site do VSS (7). No momento em que este artigo foi escrito, T CrB apresentava mag. 10, portanto, um pequeno telescópio é suficiente para observá-la. Durante a queda, é provável que seu brilho diminua brevemente para a mag. 12.
Diz a história que essa estrela foi descoberta em 1866 por J. Birmingham durante uma erupção em que atingiu a mag. 2.0 em maio daquele ano. Outra erupção ocorreu em fevereiro de 1946 (NOVA CrB 1946). Parece que o máximo ocorre aproximadamente a cada 80 anos, como consequência da intermitência do derramamento de matéria da gigante vermelha sobre o disco de acreção de sua companheira anã. O fenômeno em si (chamada "erupção") é muito rápido, ele requer observadores em monitoramento constante, pois com a mesma velocidade que o máximo chega ele se vai, não dura mais de um dia. 

Para observadores interessados em localizar essa estrela, um mapa da posição de T CorB pode ser visto abaixo:

Fig. 2 Mapa da posição de T CorB fornecido pela Associação Astronômica Britânica. Essa estrela tem mag. 10, mas está prevista uma erupção até a mag. 2.0 para o iníco de 2024 (provavelmente janeiro).

Essa estrela se localiza próximo a ε e δ Cor conforme mostrado no mapa. A grande questão no momento é saber quando será o novo máximo. Segundo Shears, um artigo recentemente publicado prediz o próximo máximo para o início de 2024 [2]. É um ponto da conclusão 5 desse artigo que:
Uma comparação da curva de luz AAVSO para o período 2005-2023 com o modelo da explosão de 1946 criado por Schaefer (2023) torna possível prever a data da próxima erupção do tipo nova clássica do T CrB - o início de 2024.
Portanto, que os observadores diligentes estejam atentos!

Referências

[1] Shears J (2023). Get set for the next eruption of the recurrent nova T Coronae Borealis! https://britastro.org/section_news_item/get-set-for-the-next-eruption-of-the-recurrent-nova-t-coronae-borealis 

[2] Maslennikova, N. A., Tatarnikov, A. M., Tatarnikova, A. A., Dodin, A. V., Shenavrin, V. I., Burlak, M. A., ... & Strakhov, I. A. (2023). Recurrent Symbiotic Nova T Coronae Borealis Before Outburst. arXiv preprint arXiv:2308.10011.

08 setembro 2023

Cometas em 2023: C/2023 P1 (Nishimura)

Cometa C/2023 P1 (Nishimura) observado desde a Áustria por Michael Jaeger em 3/9.
Esse interessante cometa foi descoberto de maneira espetacular pelo astrônomo amador japonês H. Nishimura no último 11 de agosto. Espetacular porque sua existência passou incólume por inúmeros sistemas de imageamento robotizados para ser descoberto por um humano dedicado. Parabéns ao seu descobridor!

Esse cometa tem condições peculiares de observação no hemisfério sul. Em primeiro lugar por causa de sua posição no céu, está praticamente junto ao sol, o que torna difícil sua observação em latitudes tropicais austrais antes de 12/9 (data de sua maior aproximação com a Terra). Esse cometa será melhor observado depois que tiver sua passagem periélica, o que ocorrerá após 17/9/2023 [1].

De fato, o site cometchasing [2] não dá como certo que esse cometa seja observável no hemisfério sul em setembro de 2023. Colocamos este post para orientação de nossos leitores, dadas as inúmeras notícias do norte sobre esse cometa na internet [3], sem a preocupação de saber se ele é um objeto apropriado para observação no hemisfério sul.

Com bastante dificuldades o cometa poderá ser visto desde Brasília/DF emergindo das "brumas do crespúsculo" como mostra a Fig. 2 abaixo, que é uma simulação do Stellarium para o dia 18/9 as 18:50. Nessa data, para Brasília, o cometa será um objeto muito baixo no horizonte ocidental, com magnitude próxima a 3.5. 

Fig. 2 Cometa Nishimura emergindo das brumas do crepúsculo no dia 18/9 por volta das 18:50 como visto desde Brasília/DF. Nessa data, o cometa será um objeto localizado a menos de 1 grau acima do horizonte oeste.

Em 21/9, o cometa já terá se elevado um pouco mais em relação ao horizonte e será observado junto ao planeta Marte, na constelação da Virgem. Em compensação, seu brilho se reduzirá para mag. 4.6. 

Os dias 20-22/9 parecem ser as datas para melhor observação desse cometa. Mesmo assim, ele não poderá ser observado a mais de 5° em relação ao horizonte, o que fará com que sua observação seja um desafio. Depois do dia 28/9, esse cometa desaparece por tempo indeterminado para os observadores na Terra.

Referências


[3] Descoberto há um mês, cometa Nishimura será visível neste fim de semana. https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2023/09/06/descoberto-ha-um-mes-cometa-nishimura-sera-visivel-neste-fim-de-semana.ghtml É uma notícia falaciosa sobre a observação desse cometa.