Os astrônomos Vitali Nevski e Artyom Novichonok descobriram esse cometa (C/2012 S1, chamado ISON, a sigla vem de "International Scientific Optical Network") em Setembro de 2012 no observatório ISON-Kislovodsk, Rússia. Na data ele se encontrava à distância de 1 bilhão de quilômetros. (1)
Mesmo a uma distância tão grande, o objeto parecia brilhante, o que fez com que estimativas de tamanho do núcleo variassem entre 1 a 10 quilômetros. Espera-se que o cometa se aproxime do sol nos incríveis 1,2 milhões de quilômetros, o que é muito perto para os padrões do sistema solar (para se ter uma ideia, a distância Sol-Terra é da ordem de 150 milhões de quilômetros). Isso ocorrerá no dia 28 de Novembro de 2013.
Descobridores do cometa ISON. Copyright © 2012 by A. Novichonok (ISON-Kislovodsk Observatory, Rússia) |
Modernamente, cometas têm sido designados pelo nome das colaborações ou redes de observação onde são descobertos e não pelo nome dos descobridores. Com isso, cometas diferentes podem receber o mesmo nome. Isso resulta em confusão e há quem peça um retorno ao costume anterior (2). Para evitar isso, é bom sempre utilizar a convenção de sigla que, para o ISON, é C/2012 S1, o que também indica que ele não é um cometa periódico. O nome do cometa segundo a tradição anterior deveria ser "Cometa Nevski-Novichonok".
O que mais traz esperança aos cientistas é que esse cometa tem elementos orbitais muito parecidos com o cometa de Kirch ou grande cometa de 1680, que foi o mais brilhante cometa do século XVII. Isso significa que o cometa ISON pode repetir o espetáculo de mais de 300 anos atrás, o que inclui aparecimento durante o dia. Além disso, o cometa encontra-se bastante ativo, embora a região onde se encontre, muito distante do Sol.
Antes de acreditar em tais previsões, é bom lembrar o caso do cometa Kohoutek em 1973, que também foi previsto como sendo o "cometa do século XX", mas que não cumpriu as expectativas. Quando estiver próximo em seu máximo da Terra, o ISON estará a 64 milhões de quilômetros, pouco menos da metade da distância Sol-Terra. O que importa, porém, é saber a posição geométrica do cometa em relação à Terra e ao Sol, assim como sua posição aparente para observadores em diferentes partes do mundo.
Uma simulação mostrando várias visões no sistema solar da passagem do cometa ISON. A órbita é bem parabólica, indicando que esta é a primeira vez que este cometa se aproxima do sol.
Perspectivas para o Brasil (latitudes 23 graus sul)
Interessante é ler na obra de Ronaldo R. de Freitas Morão (3) o relato da observação do grande cometa no Brasil:
Um dos grandes espetáculos cometários do século XVII foi o cometa Kirch (1680), descrito por Vieira e Estancel, no Brasil, e por Soror Joana, no México. Descoberto em 14 de novembro pelo astrônomo Kirch, através de uma luneta, tornou-se visível a olho nu desde o começo de dezembro até meados de janeiro, com cauda superior a 30 graus, que atingiu 70 graus de extensão em 25 de dezembro.
Mourão diz também que este cometa foi observado inclusive no Quilombo dos Palmares na época.
E, como será a aparição do ISON no Brasil? É importante saber os detalhes de forma antecipada, pois, se o cometa não cumprir as expectativas, é provável que se tenha dificuldades em observá-lo, principalmente se se confiar em notícias da mídia, quase sempre atrasada e baseada em informação que vem do hemisfério norte.
Uma inspeção da órbita desse cometa revela que o ISON procede a partir do norte do equador celeste, faz uma incursão breve pelo sul do equador e depois segue para o norte novamente. Isso significa que este cometa será melhor observado no hemisfério norte. Portanto, é preciso cuidado com anunciantes de última hora, que farão previsões erradas para o Brasil com base no que é anunciado no hemisfério norte. Porém, este cometa se aproximará muito do sol (é chamado de cometa 'sungrazer') e sua cauda, talvez, possa ser vista no hemisfério sul.
Outubro de 2013
Na metade do mês, o cometa poderá ser visto de madrugada (horário 4:30 da manhã para uma boa observação), na constelação de Leão, bem próximo a Marte e a estrela Régulus. A magnitude estimada do cometa será algo superior a 9.0 (invisível à vista desarmada, mas visível com binóculos). O cometa praticamente 'seguirá' o planeta Marte na segunda semana de Outubro/2013.
Novembro de 2013
Este parece ser o melhor mês para observação do cometa ISON caso ele não cumpra as expectativas de 'espetáculo' como grande cometa do início do século. A animação abaixo mostra a evolução do cometa ISON entre 14 a 19 de Novembro de 2013 como visto desde a latidude 23 graus sul às 5:20 da manhã na constelação da Virgem (note que, na data, estaremos no horário de verão). Essa será a época em que ele fará uma 'pequena incursão' abaixo do equador celeste em direção ao norte novamente, antes de encontrar o periélio em 28 de Novembro. Nesse período (14 a 20 de Novembro) o cometa passará por uma variação rápida de brilho, desde 5,5 a 3,5 por volta do final de Novembro, quando estará bem próximo do sol, envolvido nas brumas da alvorada. No dia 18 de Novembro, ele passará próximo da estrela Spica (alfa da Virgem).
No dia 22 de Novembro, por volta das 5:30 da manhã, o cometa ISON poderá ser visto baixo no horizonte leste, próximo ao planeta Mercúrio e outro cometa, o 2P/Encke que poderá ser visto com auxílio de binóculos. A magnitude estimada do ISON nesse dia será 3,2, enquanto que a do 2P/Encke está estimada em 4,6, embora a proximidade da aurora torne difícil a observação desse último cometa à vista desarmada. Certamente este será um dia interessante para registro fotográfico.
Caso a expectativa se cumpra, a aurora do dia 28 de Novembro trará uma visão inesquecível da cauda do cometa a partir do horizonte leste. Para esse dia, a magnitude estimada será de -3,3, o núcleo do cometa estará bem próximo do sol. Sua cauda, que se espera grande em extensão aparente, poderá ser vista bem antes do nascer do sol e a representação artística abaixo é para as 6:07 desse dia.
Depois de Novembro de 2013...
Depois do final de Novembro, as simulações de posição mostram que o cometa ISON se deslocará no céu muito paralelo ao horizonte (para a latitude de -23 graus sul) e próximo ao sol por todo o mês de Dezembro. Isso significa que, caso ele se torne um objeto excepcional, poderá ser visto durante o dia no Brasil, no início de Dezembro de 2013 (isso está restrito a uma janela de pouquíssimos dias antes e depois do periélio). Sua posição geométrica em relação ao sol para o início de Dezembro fará com que seja um objeto de difícil observação progressivamente com o tempo, à medida que ele se afaste do sol e diminua o seu brilho.
Conclusões
Para o Brasil, a melhor época para observação do ISON será antes do periélio, nos meses de Outubro e Novembro e preferencialmente na última semana de Novembro, ainda que o cometa não tenha ainda atingido seu máximo de brilho. Observadores do céu austral devem estar atentos a isso para que não percam a janela de observação.
Depois do início de Dezembro, quem quiser observar bem o cometa C/2012 S1 terá que viajar para o hemisfério norte.
Outubro de 2013
Na metade do mês, o cometa poderá ser visto de madrugada (horário 4:30 da manhã para uma boa observação), na constelação de Leão, bem próximo a Marte e a estrela Régulus. A magnitude estimada do cometa será algo superior a 9.0 (invisível à vista desarmada, mas visível com binóculos). O cometa praticamente 'seguirá' o planeta Marte na segunda semana de Outubro/2013.
Posição do cometa ISON como visto desde Campinas/SP no dia 15/10/2013 as 4:30. Próximo a Marte e a alfa Leo. Será visto com binóculos. |
Este parece ser o melhor mês para observação do cometa ISON caso ele não cumpra as expectativas de 'espetáculo' como grande cometa do início do século. A animação abaixo mostra a evolução do cometa ISON entre 14 a 19 de Novembro de 2013 como visto desde a latidude 23 graus sul às 5:20 da manhã na constelação da Virgem (note que, na data, estaremos no horário de verão). Essa será a época em que ele fará uma 'pequena incursão' abaixo do equador celeste em direção ao norte novamente, antes de encontrar o periélio em 28 de Novembro. Nesse período (14 a 20 de Novembro) o cometa passará por uma variação rápida de brilho, desde 5,5 a 3,5 por volta do final de Novembro, quando estará bem próximo do sol, envolvido nas brumas da alvorada. No dia 18 de Novembro, ele passará próximo da estrela Spica (alfa da Virgem).
Simulação para a madrugada de22 de Novembro. |
Caso a expectativa se cumpra, a aurora do dia 28 de Novembro trará uma visão inesquecível da cauda do cometa a partir do horizonte leste. Para esse dia, a magnitude estimada será de -3,3, o núcleo do cometa estará bem próximo do sol. Sua cauda, que se espera grande em extensão aparente, poderá ser vista bem antes do nascer do sol e a representação artística abaixo é para as 6:07 desse dia.
Alvorada do dia 28 de Novembro. A cauda do cometa ISON talvez seja visto bem antes do nascer do sol. Esta concepção artística é para as 6:07 de 28/11. |
Depois do final de Novembro, as simulações de posição mostram que o cometa ISON se deslocará no céu muito paralelo ao horizonte (para a latitude de -23 graus sul) e próximo ao sol por todo o mês de Dezembro. Isso significa que, caso ele se torne um objeto excepcional, poderá ser visto durante o dia no Brasil, no início de Dezembro de 2013 (isso está restrito a uma janela de pouquíssimos dias antes e depois do periélio). Sua posição geométrica em relação ao sol para o início de Dezembro fará com que seja um objeto de difícil observação progressivamente com o tempo, à medida que ele se afaste do sol e diminua o seu brilho.
Conclusões
Para o Brasil, a melhor época para observação do ISON será antes do periélio, nos meses de Outubro e Novembro e preferencialmente na última semana de Novembro, ainda que o cometa não tenha ainda atingido seu máximo de brilho. Observadores do céu austral devem estar atentos a isso para que não percam a janela de observação.
Depois do início de Dezembro, quem quiser observar bem o cometa C/2012 S1 terá que viajar para o hemisfério norte.
Notas e referências
(1) Este post foi baseado em um texto por Elizabeth Howell, editora da Space.com.
(2) Como é o caso do presidente da sociedade astronômica real do Canadá, Peter Jedicke.
(3) Mourão, R.R. de Freitas (2000), "Introdução aos cometas", Belo Horizonte: Editora Itatiaia, Os cometas do Quilombo dos Palmares, p. 446;
Para saber mais:
Olá, Ademir. Grato pela postagem. Estamos no dia 25 de novembroe até agora nenhum comentário na mídia. Pode-se esperar algo a se observar no céu?
ResponderExcluirTchau
Ola Edi
ExcluirObrigado por seu comentário. Sim, a mídia está preocupada em ir atrás do que o povo mais gosta, há pouco espaço para a astronomia e as coisas do céu...Mas, nós aqui vamos continuar a divulgar essas notícias.
Acho que a boas perspectivas para outros cometas em 2014. Vamos anunciar em tempo aqui.