Ilustração que condiz com a realidade do cometa C/2023 A: um núcleo já em desintegração prenuncia perda de brilho avançada e nenhum cometa depois do periélio. |
No céu, um cometa a passar
Sua cauda intensa quem sabe a brilhar.
Mas antes do periélio, sua destruição
Do núcleo a despedida, na terra dos homens a solidão
Não há mais cometa, não há mais alegria.
Só na próxima década, quem sabe algum dia!
Recentemente postamos aqui alguma notícia sobre a grande expectativa deste ano para os "cometófilos" ou amantes de cometas. O Tsuchinshan-ATLAS (C/2023 A3) poderá atingir brilho surpreendente, chegando a ser visto facilmente ainda envolto nas brumas do crepúsculo, ou seja, praticamente de dia. Porém, essa previsão é principalmente para depois do periélio.
Mas, parece que as perspectivas desse cometa não são boas. Em um artigo recente [1], Zdenek Sekanina apresenta argumentos com base em observações mais recentes que indicam que esse cometa está se fragmentando! Para uma introdução à análise de Sekanina, vale a pena ler ao menos uma tradução do resumo do trabalho:
Há esperanças de que o C/2023 A3 possa se tornar um objeto visível a olho nu por volta da época de sua passagem pelo periélio, no final de 2024. No entanto, com base em seu desempenho passado e atual, também se espera que o cometa se desintegre antes de atingir o periélio. Evidências independentes apontam para o seu colapso inevitável. A primeira questão, para a qual I. Ferrin recentemente chamou a atenção, é a incapacidade deste cometa da nuvem de Oort de brilhar a uma distância heliocêntrica superior a 2 UA, cerca de 160 dias antes do periélio, acompanhado por uma queda acentuada na produção de poeira (Afρ). Um avanço baricêntrico do semi-eixo maior original tem aparecido por longo tempo, mas é amplamente ignorado, ao mesmo tempo em que o resíduo médio aumenta após a anomalia da curva de luz. Isso sugere um núcleo em fragmentação cujo movimento está sendo afetado por uma aceleração não gravitacional. Além disso, apresenta uma cauda de poeira em forma de lágrima invulgarmente estreita, com orientação peculiar, implicando emissão copiosa de grãos grandes longe do Sol, mas nenhuma poeira microscópica. Estas evidências sugerem que o cometa entrou em uma fase avançada de fragmentação, na qual um número crescente de sólidos refratários secos e fraturados permanecem reunidos em bolhas escuras e porosas de formato exótico, tornando-se indetectáveis à medida que se dispersam gradualmente no espaço.
Sua análise se baseia na crença de que é possível prever o comportamento subsequente dos cometas com base na acurada observação de seu comportamento (de brilho, de cauda etc) muito antes do periélio. Segundo Sekanina:
O prognóstico de desempenho para objetos individuais é uma atividade de alto risco da ciência cometária, que está muito lentamente sendo dominada em nosso aprendizado para entender os caprichos dos cometas. Ainda assim, parece que pelo menos alguns cometas sinalizam mensagens iniciais ligadas ao seu comportamento subsequente. O reconhecimento oportuno e a interpretação adequada dessas mensagens deverá pavimentar o caminho para um futuro de mais sucesso nesse campo incomum do esforço científico.Como declarado no resumo, o aparecimento de "estruturas de forma exótica" (blobs) parecem indicar que essa fragmentação já se iniciou. Essas estruturas têm sido observadas no cometa recentemente e são fonte de preocupação:
O mais incomum é a contínua ausência de uma cauda de poeira, o que significa que grandes quantidades de poeira seca, material sólido fraturado não tem se desintegrado em poeira microscópica, mas permanecem grudados na forma de corpos escuros e altamente poroso aos quais me refiro acima como bolhas (blobs). Uma vez dispersos no espaço, são de difícil detecção, mas, embora presentes em tudo, têm vida curta.
Assim, ao invés de apresentar uma contínua dispersão de fragmentos comentários que indicariam um núcleo rígido e de vida longa, sua fragmentação em corpos maiores e imperceptíveis já teria começado e apontam para uma vida breve para esse núcleo. Segundo Sekanina, o comportamento desse cometa é semelhante a de outros que não sobreviveram ao periélio, mas se fragmentaram tão logo se aproximaram do sol a menos de 1 UA de distância. Isso põe em risco o prognóstico de observar esse cometa a olho nu justamente na época posterior ao seu periélio.
Sekanina afirma que o objetivo de seu trabalho não foi "desapontar observadores de cometas que guardam esperanças por outro objeto visível a olho nu em outubro", mas "apresentar argumentos científicos que não apoiam tal esperança".
Em suma: da mesma forma como não é possível prever o colapso desse cometa, também não é possível dizer que ele será um espetáculo no céu. Eis em essência a mensagem passada pelo autor em sua análise avançada do possível futuro do cometa C/2023 A3 e que vale para todos os cometas.
No mês de julho, esse cometa se encontra a aproximadamente 2 UA de distância do sol e tem mag. 9.8 na constelação do Leão, próximo à galáxia NGC 3521. Esse brilho já o faz acessível a pequenos telescópios em áreas remotas e de céu escuro.
O monitoramento constante desse cometa poderá resolver o dilema ou anunciar tempestivamente seu desaparecimento antes da data tão esperada pelos amantes de cometas.
Referências
[1] SEKANINA, Zdenek. Inevitable Endgame of Comet Tsuchinshan-ATLAS (C/2023 A3). arXiv preprint arXiv:2407.06166, 2024.
[1] SEKANINA, Zdenek. Inevitable Endgame of Comet Tsuchinshan-ATLAS (C/2023 A3). arXiv preprint arXiv:2407.06166, 2024.
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