15 setembro 2024

Eclipse parcial da lua em 17 de setembro de 2024.

Aspecto da lua eclipsada parcialmente as 00:00 (horário de Brasília) no dia 18 de setembro (horário TU).

Em 17 de setembro de 2024 ocorrerá um eclipse parcial da lua que será visível em boa parte do hemisfério ocidental, Brasil inclusive.

Considerando a época de seca que o interior do Brasil vive, é bem provável que esse eclipse seja visível em grande parte do país sem impedimento de nuvens. Para observar o evento, não há qualquer medida excepcional a ser tomada, como ocorre nos eclipses do sol. No Brasil, a lua estará localizada alta no céu no momento de maior obscurescimento. Para outros locais, a lua poderá já estar eclipsada próximo ao horizonte leste (o eclipse ocorre mais cedo) ou, ocorrendo mais tarde, estará eclipsada próximo ao horizonte ocidental.

Em seu máximo a lua terá apenas 3,5% de sua superfície aparente eclipsada pela sombra da Terra. Uma fração maior será tomada pela penumbra. 

Para Brasília, DF, o eclipse se inicia às 21:41 de 17/09/2024 e terá seu máximo as 23:44 do mesmo horário para o tempo local. Nessa mesma região, o eclipse termina às 1:47 do dia 18/09/2024. A duração total do evento é de 4 horas, sendo que a fase "parcial" (quando haverá obscurescimento pela sombra) durará 1 hora. Estima-se que aproximadamente 4 bilhões de pessoas poderão assistir ao evento desde que existam condições meteorológicas favoráveis. 

Na ocasião de um eclipse total da lua em setembro de 2015 fizemos algumas considerações sobre como tirar fotografias de tipo de fenômeno (veja: "Dez questões sobre o eclipse lunar de setembro de 2015https://astronomiapratica.blogspot.com/2015/09/dez-questoes-sobre-o-eclipse-lunar-de.html) que também são válidas para esse evento. Um telefone celular e um telescópio poderão serer usados para se registrar o fenômeno em todas as suas fases.

Referência

https://www.timeanddate.com/eclipse/lunar/2024-september-18 

17 agosto 2024

Cometas em 2024: C/2024 G3 (ATLAS)

Um cometa risca o céu
Em tons de prata a brilhar
Sua cauda exibe como troféu
E deslumbra e encanta o olhar

Um cometa que brilha como um brinco
Espelhado sobre o vespertino poente
Um espetáculo de beleza que desponte,
Como um presente de 2024 para 2025.

Depois da perspectiva de possível fiasco com cometa C/2023 A3 (Tsuchinshan-ATLAS) cujo núcleo pode se desintegrar nas proximidades do sol arruinando sua observação pós-periélica, um novo cometa foi descoberto com chances de brilho notável. O cometa C/2024 G3 (ATLAS) foi descoberto em abril de 2024 pelo sistema ATLAS de busca de objetos. O nome desse dispositivo é uma abreviação para Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System ou "Sistema de últimos alertas de possíveis asteroides de impacto na Terra", em uma tradução livre.

O C/2024 G3 (ATLAS) tem uma órbita peculiar que apenas toca a eclíptica em pontos muito próximos do sol quando o cometa se dirige para o hemisfério norte. A maior parte de sua órbita se localiza ao "sul" do plano da eclíptica (inclinação orbital de 116.8 graus), o que significa que a observação desse cometa será melhor desde o hemisfério sul, principalmente próximo ao periélio.

Seu periélio está marcado para o início de janeiro de 2025 (dia 13), quando poderá atingir a notável mag. -0,2 (exatamente isso, um cometa com magnitude negativa!), o que o colocaria como astro de possível observação diurna - em que pese sua posição muito próxima do sol e da época do ano. Como sempre, essa é uma previsão que dependerá da interação do núcleo do cometa com o sol. Como esse cometa é do tipo "sun grazing" (ele se aproximará no periélio a 0,09 UA ou apenas 14 milhões de km do sol), isso significa que as chances maiores de observação ocorrerão antes do periélio.

No final de julho de 2024, o cometa brilha com mag. 15-16 na constelação do Cruzeiro do Sul. No final de dezembro de 2024, ele se torna um objeto visível a pequenos telescópios. O intervalo de máximo brilho (abaixo de mag. 5,0) será muito breve em torno do periélio no mês de janeiro de 2025. Isso nos leva a outro ponto de preocupação: considerando esse mês do ano no Brasil, sua observação será provavelmente prejudicada pela presença de nuvens típicas do período chuvoso. Infelizmente, para observadores no hemisfério norte, esse cometa não poderá ser observado.

Se o cometa "vingar" e tivermos sorte no clima, será possível observá-lo por breves momentos no céu vespertino (depois do dia 20/1/25) na constelação do Capricórnio. Por essa época, porém, o cometa terá reduzido muito de brilho, chegando à mag. 4,0. Dada sua proximidade com o sol, será provavelmente um objeto de difícil observação próximo ao horizonte.

Mapas mais detalhados para a observação desse cometa em 2024 podem ser obtidos na página de van Buitenen com link abaixo.

14 julho 2024

Cometas em perigo em 2024: Tsuchinshan-ATLAS (C/2023 A3) sobreviverá ao periélio?

Ilustração que condiz com a realidade do cometa C/2023 A: um núcleo já em desintegração prenuncia perda de brilho avançada e nenhum cometa depois do periélio. 


No céu, um cometa a passar

Sua cauda intensa quem sabe a brilhar.

Mas antes do periélio, sua destruição

Do núcleo a despedida, na terra dos homens a solidão

Não há mais cometa, não há mais alegria.

Só na próxima década, quem sabe algum dia!

Recentemente postamos aqui alguma notícia sobre a grande expectativa deste ano para os "cometófilos" ou amantes de cometas. O Tsuchinshan-ATLAS (C/2023 A3) poderá atingir brilho surpreendente, chegando a ser visto facilmente ainda envolto nas brumas do crepúsculo, ou seja, praticamente de dia. Porém, essa previsão é principalmente para depois do periélio.

Mas, parece que as perspectivas desse cometa não são boas. Em um artigo recente [1], Zdenek Sekanina apresenta argumentos com base em observações mais recentes que indicam que esse cometa está se fragmentandoPara uma introdução à análise de Sekanina, vale a pena ler ao menos uma  tradução do resumo do trabalho:
Há esperanças de que o C/2023 A3 possa se tornar um objeto visível a olho nu por volta da época de sua passagem pelo periélio, no final de 2024. No entanto, com base em seu desempenho passado e atual, também se espera que o cometa se desintegre antes de atingir o periélio. Evidências independentes apontam para o seu colapso inevitável. A primeira questão, para a qual I. Ferrin recentemente chamou a atenção, é a incapacidade deste cometa da nuvem de Oort de brilhar a uma distância heliocêntrica superior a 2 UA, cerca de 160 dias antes do periélio, acompanhado por uma queda acentuada na produção de poeira (Afρ).  Um avanço baricêntrico do semi-eixo maior original tem aparecido por longo tempo, mas é amplamente ignorado, ao mesmo tempo em que o resíduo médio aumenta após a anomalia da curva de luz. Isso sugere um núcleo em fragmentação cujo movimento está sendo afetado por uma aceleração não gravitacional. Além disso, apresenta uma cauda de poeira em forma de lágrima invulgarmente estreita, com orientação peculiar, implicando emissão copiosa de grãos grandes longe do Sol, mas nenhuma poeira microscópica. Estas evidências sugerem que o cometa entrou em uma fase avançada de fragmentação, na qual um número crescente de sólidos refratários secos e fraturados permanecem reunidos em bolhas escuras e porosas de formato exótico, tornando-se indetectáveis à medida que se dispersam gradualmente no espaço.
Sua análise se baseia na crença de que é possível prever o comportamento subsequente dos cometas com base na acurada observação de seu comportamento (de brilho, de cauda etc) muito antes do periélio. Segundo Sekanina:
O prognóstico de desempenho para objetos individuais é uma atividade de alto risco da ciência cometária, que está muito lentamente sendo dominada em nosso aprendizado para entender os caprichos dos cometas. Ainda assim, parece que pelo menos alguns cometas sinalizam mensagens iniciais ligadas ao seu comportamento subsequente. O reconhecimento oportuno e a interpretação adequada dessas mensagens deverá pavimentar o caminho para um futuro de mais sucesso nesse campo incomum do esforço científico.
Como declarado no resumo, o aparecimento de "estruturas de forma exótica" (blobs) parecem indicar que essa fragmentação já se iniciou. Essas estruturas têm sido observadas no cometa recentemente e são fonte de preocupação:
O mais incomum é a contínua ausência de uma cauda de poeira, o que significa que grandes quantidades de poeira seca, material sólido fraturado não tem se desintegrado em poeira microscópica, mas permanecem grudados na forma de corpos escuros e altamente poroso aos quais me refiro acima como bolhas (blobs). Uma vez dispersos no espaço, são de difícil detecção, mas, embora presentes em tudo, têm vida curta.
Assim, ao invés de apresentar uma contínua dispersão de fragmentos comentários que indicariam um núcleo rígido e de vida longa, sua fragmentação em corpos maiores e imperceptíveis já teria começado e apontam para uma vida breve para esse núcleo. Segundo Sekanina, o comportamento desse cometa é semelhante a de outros que não sobreviveram ao periélio, mas se fragmentaram tão logo se aproximaram do sol a menos de 1 UA de distância. Isso põe em risco o prognóstico de observar esse cometa a olho nu justamente na época posterior ao seu periélio.

Sekanina afirma que o objetivo de seu trabalho não foi "desapontar observadores de cometas que guardam esperanças por outro objeto visível a olho nu em outubro", mas "apresentar argumentos científicos que não apoiam tal esperança".

Em suma: da mesma forma como não é possível prever o colapso desse cometa, também não é possível dizer que ele será um espetáculo no céu. Eis em essência a mensagem passada pelo autor em sua análise avançada do possível futuro do cometa C/2023 A3 e que vale para todos os cometas.

No mês de julho, esse cometa se encontra a aproximadamente 2 UA de distância do sol e tem mag. 9.8 na constelação do Leão, próximo à galáxia NGC 3521. Esse brilho já o faz acessível a pequenos telescópios em áreas remotas e de céu escuro.

O monitoramento constante desse cometa poderá resolver o dilema ou anunciar tempestivamente seu desaparecimento antes da data tão esperada pelos amantes de cometas.

Referências

[1] SEKANINA, Zdenek. Inevitable Endgame of Comet Tsuchinshan-ATLAS (C/2023 A3)arXiv preprint arXiv:2407.06166, 2024.