18 outubro 2015

Uma conjunção quádrupla: Júpiter, Vênus, Marte e Lua (6, 7 e 8 de novembro de 2015)

Aspecto da conjunção em 7 de novembro de 2015, aproximadamente as 5:00 do horário local como visto desde Campinas, SP. Brasil. Júpiter pode ser visto em cima, a Lua, Marte e Vênus (em baixo).
As madrugadas dos dias que iniciam novembro serão marcadas por uma espécie de "bailado celeste" à leste, antes do nascer do Sol. Trata-se do evento equivalente à oeste que foi reportado aqui em 18 de julho de 2015

Haverá três oportunidades:
  • Dia 6 de novembro, com a Lua à oeste de Júpiter (Marte e Vênus estarão à leste); 
  • Dia 7 de novembro, com a Lua entre Júpiter e Vênus e em conjunção com Marte. Neste dia, um quinto elemento se juntará ao grupo, a estrela beta da constelação da Virgem, também conhecida como Zavijava, de magnitude 3.55; 
  • Dia 8 de novembro, com a Lua à leste de Vênus e mais próxima do horizonte oriental.
Para observar, basta acordar cedo, por volta das 5:00 nos dias acima (para latitudes ~25 graus sul) e certificar-se que o horizonte oriental não está encoberto.

Os eventos, nos dias descritos, serão boas oportunidades para fotografias de grande campo. Experimente!

12 setembro 2015

10 questions about September great lunar eclipse

An image by Fred Espenak (http://www.mreclipse.com/) of a total lunar eclipse in 2004.

Nations, like stars, are entitled to eclipse. 
All is well, provided the light returns 
and the eclipse does not become endless night. 
Dawn and resurrection are synonymous. 
The reappearance of the light is the same 
as the survival of the soul. (Victor Hugo, 1862)
1. When will eclipse happen ?

This is the fourth eclipse of a series called "tetrad" in the interval 2014-2015 and will "officially" occur on September 28th 2015. It is a fully total eclipse and you should consult question 3 to know the eclipse time for your place. 

2. Where can it be seen?

The following map (according to ref. 1) shows world regions where the eclipse will be visible (white areas correspond to full visibility) from P4 to P1. In Brazil, the entire eclipse will be visible. The same is valid for West Europe and East United States. The difference, however, is that, while in Europe the moon will be setting and eclipsed, in East USA the moon will be rising. The eclipse will not be visible from the Far East, including China and Australia.


3. At which time will the eclipse occur ?

Eclipse time depends on observation place. Eclipse begin and end phases may fall on different dates depending on the observation site, that is, if the eclipse interval includes the change of date. The following figure (also according to 1) is the moon position map referenced to the Earth shadow.



The eclipse runs from P1 to P4. The Earth shadow center (umbra) contains the ecliptic. The Earth "semi"shadow or penumbra is larger than the umbra and sets the limit for phenomenon begin and end. It starts at P1, the moment when the moon "touches" the penumbra. At U1, the moon enters the umbra and is completely eclipsed at U2. The point of maximum umbra penetration is the greatest eclipse. Moon starts to leave the umbra at U2 and the phenomenon is finnished by the time the moon reaches P4. 

In terms of Universal Time (UT or Greenwich time), the several phases are distributed according to:

P1 = 00:11 UT, 
U1 = 01:07 UT,
U2 = 02:11 UT,
U3 = 03:23 UT, 
U4 = 04:27 UT, 
P4 = 05:22 UT.

For example, in Brazil, the total lunar eclipse will start on September 27 (Sunday) at 21:11 or 9:11 PM (Brasilia time = UT - 3:00) and finnish at 2:22 or 2:22 AM on Semptember 28 (Monday). For the (continental) USA, the eclipse will be seen with the moon rising in the first hours of the night on September 27 (sunday).

4. How long will the phenomenon last ?

The "umbral" phase or totality will last about 3 hours ad 20 minutes, while the entire event will take 5 hours and 10 minutes considering the penumbra entrance and egress.

5. What are the main features of this event?

This the 137th eclipse of the Saro's series that started on December 17th 1564. At the eclipse greatest phase, the moon will be at 00h17' 33'' in right ascension and +1deg, 32' 3" in declination, that is at Piscis-Cetus border. The estimated umbra magnitude is about +1.2. There will be few bright stars close to the moon, however, several ones will be occulted. Consult a good sky simulator for your place for the star occultations during the event.

Important: at 1:47 UT the moon reaches perigee (356876 km from Earth). Therefore, during the eclipse we will also witness a "super moon" event (3), a rare combination.

6. What is the best equipment to observe the eclipse ?

Binoculars (7X50 or 10X60) are definitely the best equipmet to use during moon eclipses. Since the moon can be very high in the sky, a comfortable chair is recommended. Telescopes can also be used provided low magnifications are employed so that the entire moon disk is visible at the eyepiece during all event phases.

Naked eye observation allows to appreciate the deep brightness change between the full moon and totality.

7. How can one photograph the phenomenon ?

You can use a digital came with a tripod and several exposure settings (manual) during all phases. During totality, exposure times of several seconds may be required depending on the ISO and f/D numbers. A practical guide to photograph eclipses can be found in (2).

Se also our reference for a photometric study during a partial lunar eclipse:
8.Will be moon turn red ?

Yes it will. Moon disk reddening is one of the most amazing effects during totality and can always be seen, although changes in the umbra brightness contributed to enhance or lessen the moon aspect. The reddening is due to the dust in suspension in the Earth atmosphere which refracts sun rays totalty occulted to the moon.

9. Must I go to a dark place to see the eclipse ?

Not necessarily. The moon is a bright object in the sky so that its observation is possible even under the brightest city skies. However, in order to fully appreciate the contrast change in the sky between totality and full moon, a dark site is a better place to go.

10. When next great lunar eclipse will be ?

As fully visible in the Americas, the next eclipse will be on January 21th 2019. Therefore, you should better enjoy this September great event!

References

1. Total Lunar Eclipse of 2015 Sep 28. eclipse.gsfc.nasa.gov
2. F. Espenak (2008). How to Photograph a Lunar Eclipse.
3. See: Lunar Perigee and Apogee Calculator.

01 setembro 2015

Dez questões sobre o eclipse lunar de setembro de 2015

Fig. 1 Imagem por Fred Espenak (http://www.mreclipse.com/) de um eclipse lunar em 2004. 
Nações, como estrelas, têm direito a eclipses. 
Tudo estará bem desde que a luz retorne e o eclipse 
não se torne uma noite sem fim. A alvorada e a 
ressurreição são sinônimas. 
O reaparecimento da luz é o mesmo 
que a sobrevivência da alma. (Victor Hugo, 1862)

For a vesion in English, click here.
1. Em qual data ocorrerá o eclipse? 

Esse eclipse total é o quarto e o último de uma "tétrada", ou série de quatro eclipses no intervalo 2014-2015 e ocorrerá "oficialmente" no dia 28 de Setembro de 2015. Para saber exatamente o horário, é importante ler com atenção a questão 3. 

2. Onde poderá ser observado o eclipse?

 O mapa da Figura 2, retirado de (1), mostra as regiões onde o eclipse poderá ser observado. Para a região central em branco (entre P1 e P4), todo o eclipse poderá ser observado. Isso significa que, no Brasil, o eclipse lunar poderá ser plenamente observado desde seu início até seu término. 

Fig. 2 Nas regiões pintadas em branco - o que inclui a totalidade do Brasil, o eclipse poderá ser plenamente observado, de seu início ao seu término. A parte ocidental da Europa (o que inclui Portugal) também poderá assistir o eclipse em sua totalidade, assim como a costa leste dos Estados Unidos. 
3. A que horas ocorrerá o eclipse?

A questão do horário está bastante ligado ao local. A data de início e término do fenômeno ocorrerá em dias diferentes, dependendo do local onde o eclipse será observado. Isso acontece quando o período do eclipse inclui a mudança de data. A Figura 3 é um mapa com os principais instantes relacionados a esse eclipse. 

Fig. 3. Mapa segundo (1) contendo posições sucessivas da lua, de P1 para P4, em relação à sombra da Terra. O centro da "umbra" passa pela eclíptica. A penumbra estende-se além da umbra, de forma que o eclipse se inicia quando a lua "toca" a região da penumbra. Isso ocorre no ponto P1. No instante U1, a lua entra na umbra, estando completamente eclipsada em U2. O ponto de máxima penetração na sobra ocorre no instante "greatest". A lua inicia sua saída da sombra em U2. O eclipse finaliza-se na penumbra em U4 e o término completo ocorre em P4. Ver texto sobre os horários desses instantes. Créditos: F. Espenak e ref. (1).
Em termos do tempo universal (TU ou tempo de Greenwich), os horários desses instantes (Figura 3) são:

P1 = 00:11 TU
U1 = 01:07 TU
U2 = 02:11 TU
U3 = 03:23 TU
U4 = 04:27 TU
P4 = 05:22 TU

Portanto, no Brasil, o início do eclipse lunar ocorrerá no dia 27 de Setembro (domingo) às 21:11 do tempo de Brasília (lembrando que o tempo de Brasília, é TU-3:00). O final ocorrerá às 2:22 do tempo local na segunda feira, dia 28 de setembro

4. Quanto tempo durará o fenômeno?

O eclipse lunar durará aproximadamente 3 horas e 20 minutos em sua fase umbral. Ao se considerar a fase penumbral, o eclipse durará aproximadamente 5 h e 10 minutos.

5. Quais as características desse eclipse?

Esse  é o eclipse 137 da série Saros, que se iniciou com um eclipse penumbral a 17 de dezembro de 1564. No máximo do eclipse, a lua se encontrará na posição 00h17' 33'' em ascensão reta e +1grau, 32' 3" em declinação, ou seja entre as constelações de Peixes e Baleia. A magnitude estimada da umbra na totalidade é  ~+1,2.  Não haverá estrelas muito brilhantes próximas da lua, porém, várias estrelas de baixo brilho poderão ser observadas próximo à lua, principalmente durante a totalidade. HIP 1325 (VB Psc, mag 6,95) e a rasante com HIP 1421 (mag. 6,15) serão ocultadas, por exemplo, como visto desde Campinas, SP, Brasil. Consulte um bom simulador do céu para saber de ocultações para a sua localidade.

Importante: às 1:47 TU a lua atinge o perigeu (356.876 km da Terra). Trata-se, portanto, de um eclipse de "super lua" (Figura 4) e um fenômeno raro.

Fig. 4. Perigeus lunares em quilômetros ao longo de 2015 .O dia 28/9/2015 apresenta um ponto de mínima distância (assim como foi 19 de fevereiro de 2015) e coincide com a data do eclipse total da lua. Por causa disso, o eclipse também ocorrerá durante uma "super lua". Referência: ver (3).
6. Qual o melhor meio de se observar o eclipse?

Sem dúvida, a observação visual poderá se beneficiar de um bom binóculo (do tipo 7X50 ou 10X60). Como a lua estará bem elevada no céu, recomenda-se o uso de uma cadeira com encosto para melhor conforto de observação. Observações com telescópio também são indicadas. Nesse caso, deve-se usar baixos aumentos para apreciar o disco lunar inteiro nas diversas fases do eclipse.

A observação à vista desarmada traz a impressão de grande obscurecimento por causa da variação de brilho entre a lua cheia e a da fase total. 

7. Como se pode fotografar o fenômeno?

Pode-se usar uma câmera com tripé e regulagem de exposição (posição manual) para todas as fases. Em seu máximo, exposições de vários segundos podem ser necessárias. A tabela da Figura 5 traz tempos de exposição sugeridos como função do número ISO e a relação f/D. Um guia para fotografia de eclipse lunar pode ser encontrado em (2).

Fig. 5 Tabela contendo tempos de exposição fotográfica para a relação ISO X f/D para eclipses lunares. 
Ver também nossa referência sobre fotometria de eclipse lunar (penumbral):
8. A lua ficará vermelha?

Sim. O fenômeno de avermelhamento da lua na totalidade (Figura 1) é um dos mais espetaculares e sempre observado, embora haja variações de intensidade. Ele se deve à presença de poeira em suspensão na atmosfera terrestre que refrata os raios de sol que está totalmente ocultado da lua.

9. Preciso ir a um lugar escuro para ver o fenômeno?

Não necessariamente. A lua é um objeto bastante brilhante, de forma que sua observação é sempre possível mesmo com a luz intensa das cidades. Porém, para apreciar a grande mudança de contraste entre a lua cheia e a fase total, recomenda-se lugares mais escuros.

10. Quando será o próximo eclipse total da lua visível no Brasil?

O próximo grande eclipse lunar plenamente visível no Brasil ocorrerá a 21 de janeiro de 2019. Portanto, é bom aproveitar ao máximo o evento de 2015!

Referências

1. Total Lunar Eclipse of 2015 Sep 28. eclipse.gsfc.nasa.gov
2. J. C. Diniz. Fotografando o Eclipse Total da Lua. (Acesso, agosto de 2015)
3. Ver: Lunar Perigee and Apogee Calculator.



19 julho 2015

Cometas em 2015: C/2014 Q1

Bela foto tirada por Yuri Beletsky do cometa C/2014 Q1 como visível junto a lua ao cair da noite de 17 de julho de 2015.
Frequentemente, cometas encenam shows sem muito aviso. Esse é o caso do cometa C/2014 Q1 "PANSTARRS" que, não obstante invisível a vista desarmada, é um bom alvo com binóculos ao cair das noites do final de julho de 2015. Esse cometa apresenta fotograficamente duas caudas como visto na figura acima tirada por Yuri Beletsky. Melhor ainda, esse cometa é particularmente visível para observadores do hemisfério sul.

O cometa C/2014 Q1 foi descoberto em agosto de 2014 no consórcio Pan-STARRS pelo telescópio Haleakala e teve seu periélio no dia 6 de julho de 2015. Com magnitude 5.0, ele seria visível a vista desarmada se não fosse o brilho do crepúsculo, o que o faz um bom objeto apenas para binóculos e, obviamente, alvo para fotografias.

A sequência de mapas abaixo mostra a posição do cometa C/2014 Q1 desde o hemisfério sul (para a latitude de Campinas/SP/Brasil) para os dias 19, 20 e 21 de julho de 2015. Clique nos mapas abaixo para uma versão ampliada. Júpiter e Vênus são marcados nesses gráficos com seus símbolos. As linhas em verde mostram a constelação de Leão. A cena é o horizonte ocidental, logo após o ocaso do sol, sendo que esse horizonte está logo abaixo nas figuras.

19 de Agosto de 2015, 18:22 BST desde Campinas/SP.

20 de Agosto de 2015, 18:22 BST desde Campinas/SP

21 de Agosto de 2015, 18:22 BST desde Campinas/SP
Referências






Conjunção quadrupla de 18 de julho de 2015 (fotos)

Conjunção quádrupla da lua, Vênus, Júpiter e Regulus como visto desde Campinas, em 18 de julho de 2015. Foto por A. L. Xavier Jr. astronomiapratica.blogspot.com.br
Alguns resultados fotográficos da grande conjunção entre a lua, Vênus, Júpiter e Regulus em 18 de julho. Usamos uma Nikon 5100, com 4 segundos de exposição, f 5.6 e ISO 400.

Detalhe

Foto por A. L. Xavier Jr. astronomiapratica.blogspot.com.br


Referência




13 julho 2015

As revistas da APAA (Associação Portuguesa de Astrônomos Amadores)


Por meio da rede social Facebook, conheci a revista editada pela APAA que contem artigos de excelente conteúdo informacional em "astronomia prática". Essas revistas estão disponíveis gratuitamente no site da entidade:

http://apaaweb.com/v2013/index.php/revista

Conforme consta nesse site (ver seção "25 anos da APAA") o objetivo da associação é
O principal objectivo da APAA, constante do artigo primeiro dos estatutos, é o de reunir todas as pessoas interessadas eórica ou praticamente pela Astronomia e promover a sua expansão e divulgação. Este objectivo mantém-se inalterado passados 25 anos. A APAA tem contribuído muito significativamente para o desenvolvimento da Astronomia da Amadores em Portugal através de um conjunto de actividades muito diversificadas.
A revista é um importante mecanismo de interação entre a associação, seus sócios e amadores externos. Com conteúdo disponível em português (exceto, ao que parece, pelo último artigo), a revista consta com muitos artigos de Guilherme Almeida e Pedro Ré, porém, está aberta a receber contribuições de outros autores.  

Referências

25 junho 2015

A conjunção quádrupla de Julho de 2015 e o que teria pintado Van Gogh

Fig. 1 Aspecto da conjunção em 18 de julho de 2015 como simulado pelo software Stellarium. O  horário é 18:00 do tempo legal de Brasília. 
Além disso, haverá uma interessante conjunção que merece toda atenção de nossos
numerosos amigos dessa nobre ciência dos céus.... em 20 de abril.
(C. Flammarion, referência à conjunção tripla da lua, Vênus, Mercúrio 
a 20 de abril de 1890 e que foi observada por 
Vincent van Gogh na Provença. Ver referência 3)

Conjunções são eventos pontuais no céu quando dois corpos celestes, em geral bem distantes um do outro, aproximam-se de forma aparente. Conforme já divulgamos aqui, a aproximação entre Júpiter e Vênus no céu ocidental irá presentear observadores com um interessante encontro não só envolvendo esses dois planetas brilhantes mas também a lua e a estrela Regulus. O fato ocorrerá no entardecer de 18 de Julho de 2015 e basta dirigir o olhar em direção ao por do sol para observar o evento (Fig. 1).

Os detalhes das distâncias, conforme observado as 18:00 do horário de Brasília, podem ser vistos na Fig. 2.
Fig. 2 Detalhes das distâncias aparentes entre os quatro corpos celestes na conjunção de 18 de julho de 2015.
van Gogh e uma interessante conjunção tripla

Do ponto de vista científico, as conjunções não mais têm importância, pois são encontros casuais no céu provocados pelo alinhamento entre os planos das órbitas planetárias. No passado, as conjunções tiveram certa importância para a astrologia, entretanto. Nosso interesse hoje é apenas contemplativo. Trata-se de uma boa oportunidade para registrar a diferença de brilho entre diferentes objetos. Júpiter, por exemplo, terá magnitude -1,7, Vênus -4,4, a lua -7,7 e Regulus 1,35, durante esse evento.

Conjunções foram registradas no passado. Um exemplo interessante está marcado em um quadro do famoso pintor Vincent van Gogh (1853-1890) chamado "Estrada com Cipreste e Estrela", pintado em 1890 pouco antes de sua morte. A identificação do evento ocorrido no céu está bem descrito na referência (1). Especialistas dizem que esse quadro reflete a crença de van Gogh de que ele iria falecer logo (o que de fato ocorreu em julho de 1890).

Fig. 3 Identificação dos objetos de uma conjunção ocorrida em 20 de abril de 1890 como pintado por Vincent van Gogh em seu quadro "Estrada com cipreste". O que lhe serviu de inspiração no anoitecer dessa data é visto na Fig. 4.

Segundo (1), van Gogh pintou esse quadro ao observar uma conjunção no céu de 20 de abril de 1890 em Saint-Rémy-de-Provence no sul da França. Biógrafos dizem que ele deixou Saint-Rémy no dia 16 de maio em direção à Paris, depois de um ano na Provença. 

Fig.4 Aspecto do céu como visto desde Avignon (próximo a Saint-Remy), França, em 20 de abril de 1890, com teria sido observado por van Gogh ao entardecer.
Fizemos uma simulação usando o Stellarium, que pode ser vista na Fig. 4. A lua podia ser vista como um fino crescente, tendo ao seu lado Vênus e, mais abaixo, Mercúrio. Tudo se encaixa, exceto pelo fato de van Gogh ter pintado a tripla de forma invertida! A posição da lua está correta (comparando a Fig. 3 a Fig. 4), mas certamente as posições de Vênus e Mercúrio estão invertidas.

Segundo (1), ele observou de fato essa conjunção, conforme escreveu em uma carta:
J’ai encore de là-bas un cyprès avec une étoile. Un dernier essai – un ciel de nuit avec une lune sans éclat, à peine le croissant mince émergeant de l’ombre projetée opaque de la terre – une étoile à éclat exageré, si vous voulez, éclat doux de rose & vert dans le ciel outremer où courent des nuages. En bas une route bordée de hautes cannes jaunes derrière lesquelles les basses Alpines bleues, une vieille auberge à fenêtres illuminées orangées et un très-haut cyprès tout droit, tout sombre. Sur la route une voiture jaune attelée d’un cheval blanc et deux promeneurs attardés. Tres romantique si vous voulez mais aussi je crois “de la Provence.” (2)
Ou, em uma tradução livre:
Tenho também lá um cipreste com uma estrela. Uma última tentativa - um céu noturno com uma lua delgada e sem muito brilho, que quase não emergia da sombra projetada da Terra - e uma estrela de exagerado brilho, se quiser, um brilho suave de rosa e verde em um céu ultramarino, onde corriam nuvens. Abaixo, uma estrada ladeada por altas canas além das quais se podiam ver o azul dos montes Alpilles, uma antiga estalagem com janelas iluminadas em amarelo e um cipreste bem alto, muito reto e escuro. Na estrada, podia-se ver uma carruagem amarela amarrada a um cavalo branco com dois caminhantes em regresso. Tudo muito romântico se quiser, mas também bastante 'Provençal'.
O fato de haver 'caminhantes em regresso' identifica o momento como o cair da tarde (e não a manhã). Especula-se ainda, que van Gogh teria sido avisado do evento por uma leitura de Camille Flammarion no L'Astronomie (3), publicado em Paris, onde consta o anúncio da conjunção tripla (veja a frase de abertura deste post). O mais provável, porém, é que van Gogh tenha simplesmente topado com o evento  ao sair para passear no anoitecer daquela data na Provença.

O que pintaria van Gogh no evento do dia 18 de julho próximo?

Referências

(1) Olson, D. W. (2014). Vincent van Gogh and Starry Skies Over France. In Celestial Sleuth (pp. 35-66). Springer New York.
(2) Ver (1): Letter 643, as numbered by Johanna van Gogh, Letter RM23, as numbered by the Van Gogh Letters Project.
(3) Flammarion, Camille, ed. (1890) Observations Astronomiques a faire du 15 avril au 15 mai. L’Astronomie 9 , 157–158.








a e a 

19 junho 2015

A conjunção Vênus-Júpiter de Junho de 2015

Imagem de uma conjunção de Vênus e Júpiter  em agosto de 2014 como visto desde a França.
Ver também: A conjunção quádrupla do dia 18 de julho de 2015!

O mês de junho de 2015 marca uma aproximação fechada entre dois "gigantes luminosos" no céu: Júpiter e Vênus. Para observar o evento, olhe em direção a Oeste, logo após o por do sol.

A conjunção irá ocorrer ao longo da última semana de junho e primeira semana de julho. O dia 30 de Junho marca a data da maior aproximação (o chamado "apulso"), com Júpiter e Vênus apresentando-se distantes em cerca de  22 minutos de arco ou ~0,36 graus às 18:00 (horário local para observadores em S. Paulo). Será uma oportunidade única para, por exemplo, observar se você consegue separar os dois planetas sem auxílio de instrumentos.

Simulação do apulso entre Vênus e Júpiter com o software Stellarium na data 30/6/2015 as 18:00. Você conseguirá separar o par a vista desarmada?
A lua visita o par no dia 20 de junho. Ela volta a visitar a conjunção no dia 18 de julho, com os integrantes mais próximos do horizonte ocidental.

O par se afasta depois disso em julho, com Júpiter "tomando a dianteira" de Vênus, que se dirige a sua máxima elongação.

Quem perder o apulso entre Vênus e Júpiter em 30 de junho, poderá assistir outro em 26 de outubro de 2015, porém, antes do nascer do sol

01 junho 2015

Quão longe pode-se ver com um telescópio amador?

Fig. 1 Região do céu na constelação da Virgem que contém o Quasar 3C273, um objeto bem distante que se pode ver com um telescópio amador. Imagem: Chris Cook, 2009. Abmedia.com.
O título deste post é muitas vezes a questão preferida de iniciantes na astronomia amadora. Para quem realmente se inicia no hobby, comprar um pequeno telescópio é a primeira coisa a se fazer. Com tantas opções disponíveis e diante de limitações de orçamento, frequentemente a primeira pergunta é sobre qual o melhor telescópio a se comprar (que cabe no bolso). A segunda é "o que podemos ver com ele e quão longe ele pode ver". Tentamos dar aqui uma resposta que permita ao iniciante saber isso para qualquer tipo de instrumento que pense em adquirir.

A escala de magnitude aparente

Sem querer, muitos iniciantes não sabem que essa pergunta nos leva direto à definição da escala de magnitudes - a maneira como se mede o brilho aparente das estrelas. Dizemos "brilho aparente" porque, obviamente, o quanto uma estrela parece brilhar para nós depende de sua distância. A escala usada para medir esse brilho é uma escala especial porque, quanto mais débil uma estrela for, maior será seu valor de magnitude - a unidade usada para medir brilho aparente, o que é algo que contraria a intuição (ou seja, esperaríamos que o valor numérico crescesse com o brilho).

Suponha que temos duas estrelas, uma com fluxo luminoso F1 e outra com fluxo luminoso F0. A estrela com fluxo F0 é mais brilhante (aparentemente) do que F1. O fluxo luminoso é uma medida de brilho e mede a quantidade luz que cada estrela faz incidir, por exemplo, sobre uma determinada área (pode ser tanto o espelho de um telescópio como a pupila do olho). Importante que se diga: o fluxo luminoso é uma medida diretamente associada ao instrumento usado para se captar a luz. O fluxo luminoso é proporcional, por exemplo, à área de captação - algo mais ou menos semelhante à diferença entre volumes de chuva captados com baldes diferentes. Quanto maior o balde, mais chuva se capta, da mesma forma, quanto maior o diâmetro do instrumento, tanto maior será o brilho aparente que ele causará a um observador - para um mesmo objeto - que fizer uso dele. 

Assim, sem perda de detalhes, apresentamos a escala de magnitudes. Uma estrela com fluxo F1 terá magnitude m1 e a estrela com brilho F0 terá magnitude m0:

m1-m0 = -2,5 log10 (F1/F0)         (Eq. 1)

Nessa fórmula "log10" é logaritmo na base 10, facilmente encontrado em muitas calculadoras.  Tanto F1 como F0 são números positivos e se sabe que o logaritmo de um número menor que 1 é negativo. Portanto, se F1 < F0, a parte direita da equação acima será positiva, de forma que a magnitude do objeto 1 será maior que o objeto 0. Um exemplo ilustrará melhor. Suponhamos que consideramos F0 como sendo o brilho da estrela Vega (α Lyr). Essa estrela tem magnitude aproximadamente igual a zero  (na verdade, para Vega, m0 = 0,03). Uma estrela com um décimo do fluxo de luz de Vega, ou seja F1 = F0/10, terá a magnitude:

m1 = -2,5*log10(0,5) = 2,5

porque log10(0,1) = -1. Portanto, quanto mais fraco o brilho de uma estrela (em comparação à Vega) tanto maior será sua magnitude aparente. Por outro lado, quanto mais brilhante ela for, menor será seu valor, pondendo inclusive ser um valor negativo. Por essa razão, o sol tem magnitude aparente -23, enquanto que a lua é vista como tendo magnitude aparente da ordem de -12. 

Aplicando a equação da escala de magnitudes para instrumentos diferentes

Esse exemplo é uma aplicação da Eq. 1 para diferentes estrelas. Mas, o que poucos sabem é que a Eq. 1 pode ser aplicado ao mesmo objeto como visto por telescópios diferentes. Para ver isso, retornamos ao caso do balde e à quantidade de chuva captada. O fluxo de luz é como o volume de chuva. Mas esse volume é proporcional à área de captação, no caso, o quadrado do diâmetro do balde. Portanto, se temos dois equipamentos com diâmetros diferentes (por exemplo, D1 e D2) então a razão entre os fluxos de luz será dada conforme a relação abaixo:

F1/F2 = (D1/D2)^2

onde ^2 significa que o valor entre parênteses está elevado ao quadrado. A olho nu - ou "a vista desarmada" - a estrela Vega tem magnitude aparente próxima a zero. O olho desarmado tem um diâmetro de pupila (dilatada) máximo da ordem de 6 mm. Se temos um instrumento com 130 mm de diâmetro - e assumindo que não há perdas de reflexão ou nas partes ópticas do instrumento, qual será a magnitude aparente de Vega vista por esse telescópio? Nesse caso, tomamos D1 = 6 mm (olho) e D2 = 130 mm (telescópio). Então (D1/D2)^2 = 0,00213. Chamando m1 a magnitude de Vega vista pelo olho desarmado e m2 a magnitude como vista pelo telescópio e substituindo na Eq. (1) a razão entre os fluxos encontramos:

m2 = 2,5*log10(0,00213) =  -6,67

ou seja, por esse instrumento, a magnitude aparente de Vega será negativa e, portanto, muito mais brilhante do que o planeta Vênus como visto pelo olho desarmado. 

Essa equação pode ser usada para se determinar o diâmetro que um instrumento deve ter para que um objeto visto por ele atinja a magnitude 5,5 - que é a magnitude aparente da estrela mais débil que olho humano adaptado consegue ver. O que temos que fazer? Inverter a equação, colocando na parte esquerda a magnitude aparente de um objeto muito distante. 

Assim, ao invés de dizer que um instrumento de tantos milímetros de diâmetro consegue observar  um objeto a tantos "milhões de anos luz de distância", escolhemos o objeto - no caso podemos aqui usar o quasar 3C 273 que pertence à constelação da Virgem (ver Fig. 1) como exemplo. Esse objeto tem magnitude 12,9. A equação que deve ser resolvida é:

12,9 - 5,5 = -2,5*log10(6/D2)^2) 

porque, o objeto - com magnitude aparente (a vista desarmada) 12,9 será levado ao limite de visibilidade (5,5) com um instrumento de diâmetro D2 a ser determinado. Para saber esse valor, resolvemos a equação:

12,9 - 5,5 = -2,5*log10((6/D2)^2) ->
7,4        = -5,0*log10(6/D2)     ->
-1,48      =      log10(6/D2)     ->
10^(-1,48)  = 6/D2                ->
D2 = 6*(1/0,03311)                ->
D2 = 181,2 [mm]

Portanto, um telescópio de aproximadamente 182 mm de diâmetro (aproximadamente 7 polegadas) permitirá a observação do quasar 3C 273 que está localizado a 2,4 bilhões de anos-luz de distância! Observe que, por tal instrumento, esse objeto será visto como uma estrela de magnitude 5,5 - no limite da visão desarmada com a pupila dilatada. Na prática, o observador terá que usar um telescópio com diâmetro um pouco maior (por exemplo, 200 mm) para compensar as perdas de reflexão e absorção na óptica do instrumento e é conveniente evitar a poluição luminosa que reduz o contraste do objeto em relação ao fundo do céu.

Ao se questionar quão longe pode um telescópio ver, servem exemplos de quasares. A tabela a seguir (segundo http://spider.seds.org/spider/Misc/qso.html) é um apanhado deles (com magnitude abaixo de 17,0) que estariam teoricamente ao alcance de amadores.

Designat. Name     RA (2000.0) Dec       Con  mag     z      Notes
0026+129  PG       00:29:13.7 +13:16:04  Psc  14.78   0.142
0405-123  PKS      04:07:48.4 -12:11:37  Eri  14.82v  0.574
0521-365  PKS      05:22:57.9 -36:27:31  Col  14.62v  0.061  BL
0537-441  PKS      05:38:49.8 -44:05:09  Pic  16.48v  0.894     br 12.1
0735+178  OI 158   07:38:07.4 +17:42:21  Gem  14.85v  0.424  BL
0754+100  OI 090.4 07:57:06.7 +09:56:34  Cnc  14.5v          BL
0754+394  1E       07:57:59.9 +39:20:27  Lyn  14.36   0.096 
0851+202  OJ 287   08:54:48.9 +20:06:32  Cnc  14.0v   0.306? BL
1101+384  Mrk 421  11:04:27.3 +38:12:32  UMa  13.5v   0.031  BL br 12.0
1133+704  Mrk 180  11:36:26.8 +70:09:24  Dra  14.49v  0.046  BL
1219+755  Mrk 205  12:21:44.1 +75:18:37  Dra  14.5    0.070
1226+023  3C 273   12:29:06.8 +02:03:07  Vir  12.86v  0.158     br 11.7
1253-055  3C 279   12:56:11.2 -05:47:21  Vir  17.75v  0.538     br 11.0
1351+640  PG       13:53:15.8 +63:45:45  Dra  14.84   0.088
1510-089  PKS      15:12:50.6 -09:06:00  Lib  16.52v  0.361     br 11.6
1514-241  AP Lib   15:17:41.8 -24:22:19  Lib  14.8v   0.049  BL
1634+706  PG       16:34:29.0 +70:31:32  Dra  14.90p  1.334
1652+398  Mrk 501  16:53:52.2 +39:45:37  Her  13.88v  0.034  BL
2155-304  PKS      21:58:51.9 -30:13:30  PsA  13.09v  0.17   BL
2200+420  BL Lac   22:02:43.3 +42:16:40  Lac  14.72v  0.07   BL



O número z da tabela é proporcional à distância. O quasar 3C 273 tem z = 0,158 e magnitude 12,86 e já calculamos qual o diâmetro mínimo para sua observação.  Bem distante é o objeto PG 1634+706 (sobre ele ver: http://quasar.square7.ch/fqm/1634+706.html e a Fig. 2) com z = 1,33, o que corresponde a 9 bilhões de anos luz de distância (ou aproximadamente 4 000 Mpc). Com magnitude visual aparente de 14,9, ele está ao alcance de telescópios amadores de grande diâmetro. O leitor pode repetir os cálculos acima com esse objeto para saber exatamente qual o valor numérico dessa abertura.

Fig. 2 Que tal observar o objeto PG 1634+706 na constelação do Dragão?  Localizado a 9 bilhões de anos luz de distância, esse talvez seja um dos corpos celestes mais distantes que se pode ver com instrumentos amadores. (Créditos: DSS2 /  Mapa de 14´× 14´ /  por S. Karge).

25 maio 2015

Cometas em 2015: C/2015 G2 (MASTER)

Imagem por A. Maury e J. G Bosch do cometa C/2015 G2. Imagem acessada em Maio de 2015 em Aerith.net.
Um cometa recentemente descoberto (em 10 de abril) por P. Balanutsa e outros está visível e favorável a observadores do hemisfério sul. Seu nome é MASTER segundo Mobile Astronomical System of the Telescope-Robots ou arranjo de telescópios do Observatório Astronômico Sul Africano que foi usado na descoberta.

Segundo S. Yoshiida (1), esse cometa teve periélio em 23 de Maio último. No final de Maio, esse cometa pode ser observado na fronteira entre Monoceros e o Cão Maior com magnitude entre 6.0 e 7.0. A curva de luz em (1) mostra que esse objeto terá magnitude abaixo de 10.0 até pelo menos Julho de 2015.

O extrato de uma carta de (2, abaixo) mostra a posição desse cometa como visível no final de Maio de 2015.

Carta segundo (2) com a posição no final de Maio de 2015 do cometa Master. A estrela no centro é Sírius. 

Referências

21 maio 2015

A história da Astronomia no Brasil (Livro)


O objetivo e a justificação do projeto, 
baseados na revisão bibliográfica da história 
da astronomia no Brasil e na periodização 
da história das ciências no Brasil, 
estipularam a abrangência da astronomia,
enquanto domínio de conhecimento e conjunto
de atividades, e dos temas a serem abordados
na obra. A consideração conjunta da utilidade e
do público-alvo da obra orientou a abordagem
dos temas e a sua organização, o estilo do texto
e a inclusão da história do tempo presente. É
feita uma avaliação do produto final e do seu
potencial para futuros estudos.
Oscar Toshiaki Matsuura
(MAST/MCTI e Programa HCTE/UFRJ)
Boa notícia do Prof. Tasso Napoleão:
Acaba de ser disponibilizada, no site do MAST, a versão eletrônica do livro "História da Astronomia no Brasil" (2013), em dois volumes e cerca de 1300 páginas no total. A organização da obra esteve a cargo do Prof. Oscar Matsuura, e sua elaboração coube a uma equipe de mais de cinquenta autores, entre os quais este amigo de vocês (Cap. 15, Vol 2).

Trata-se de obra inédita por sua extensão e abrangência: a última obra com este tema havia sido originalmente publicada em 1955 por Abrahão de Moraes (83 páginas, Ed. Melhoramentos) e reeditada em 1984 pela USP.

Essa fonte é, certamente, bastante relevante para quem se interessa por Astronomia em geral e, em particular, sobre o desenvolvimento dessa ciência no Brasil.

Link para a página da obra:


Dados da obra


História da Astronomia no Brasil (2013)

MAST/MCTI, Cepe Editora e Secretaria de Ciência e Tecnologia de Pernambuco | Recife, 2014

Oscar T. Matsuura (Org.)
Comissão Editorial: Alfredo T. Tolmasquim, Antonio Augusto P. Videira,
Christina H. Barboza e Walter J. Maciel
Companhia Editora de Pernambuco - Cepe | Recife, 2014

Realização Museu de Astronomia e Ciências Afins

Apoio Secretaria de Ciência e Tecnologia de Pernambuco

ISBN da versão digital

ISBN do volume 01 : 978-85-7858-276-0
ISBN do volume 02 : 978-85-7858-277-7

06 maio 2015

Uma saga de amadores

Cometa C/2014 E4 (Jacques) descoberto pelo SONEAR. Imagem de Agosto de 2014 por Gianluca Masi e Pier Luigi Catalano (Itália)
"...le hasard ne favorise que les esprits préparés". 
L. Pasteur (1822-1895)
No passado a descoberta de cometas era fruto do trabalho de astrônomos que não largassem as oculares e que estivessem dispostos a permanecer em vigília incansável, percorrendo vasto setores do céu em uma busca monótona e muitas vezes solitária. O advento de câmeras CCD, o barateamento de processos de inspeção automática de imagem, processadores numéricos e, principalmente, meios de comunicação bastante rápidos mudou as estórias de amadores, porque a busca por cometas e asteroides pôde ser automatizada de uma forma nunca antes imaginada.

O Brasil teve um observador da época pré-CCD que quase chegou a descobrir um cometa. Seu nome foi Vicente F. de Assis Neto (1936-2004, 1). Já na época da internet, destaca-se o trabalho de Paulo Holvorcem, que descobriu vários cometas e recebeu prêmios internacionais (2), com buscas feitas com instrumental fora do Brasil. Uma iniciativa pioneira acontece porém a partir do observatório Phoenix, que é conhecido como SONEAR, ou acrônimo para Southern Observatory for Near Earth Asteroids Research (Observatório austral para pesquisa de asteroides próximos a Terra, 3), instalado na cidade de Oliveira, estado de Minas Gerais. Segundo vários textos da rede (4), trata-se de investimento privado a serviço da busca por corpos próximos à Terra, uma atividade incentivada em várias partes do mundo. É pioneira porque usa equipamentos localizados em território nacional.
Fonte: Observatório SONEAR.

Como dissemos, a descoberta de um cometa cada vez menos acontece "por acaso", com seu descobridor grudado a ocular do telescópio em uma vigília feita com o olho.  Ainda assim, os recursos existentes presentemente podem fazer com que a busca de cometas pareça tarefa fácil. Entretanto, isso está longe de ser verdade. Há que se considerar o estado de competição internacional crescente, inclusive com um número cada vez maior de amadores bem equipados e preparados. Há várias campanhas profissionais bastante competentes, como é o caso da LINEAR (Lincoln Near Earth Asteroid Research), por exemplo, varrendo sistematicamente o céu. Hoje a descoberta se dá muitas vezes de dia, ao se vasculhar dezenas ou milhares de arquivos digitalizados colhidos em noites anteriores. Esses arquivos devem estar previamente calibrados e os telescópios muito bem alinhados para permitir a precisa determinação da posição. Portanto, a descoberta exige muito planejamento antecipado e aplicação de softwares dedicados - o que, naturalmente, requer conhecimento de processamento digital de imagem. Poucos amadores têm condições de compreender esse tipo de necessidade, quiça torná-la realidade operacional - o que aguarda maior automatização e integração da técnica. Mas, o SONEAR implementou esse processo com frutos que não se fizeram esperar: na lista de descobertas contam-se três cometas (C/2014 A4, C/2014 E2 e o C/2015 F4), sendo que o E2 alcançou visibilidade de binóculos, e 12 asteroides próximos à Terra, tudo isso utilizando principalmente um instrumento de 45 cm de diâmetro.

Hodiernamente, o diâmetro do instrumento é muito menos relevante do que a aplicação sistemática da técnica. Portanto, essas descobertas demonstram que alguns amadores avançados no Brasil têm conseguido resultados profícuos na busca por corpos no sistema solar, algo que não recebe a atenção devida dos profissionais desse pais. Isso é importante porque insere o Brasil na comunidade de buscas de corpos potencialmente perigosos e permite a descoberta de cometas, prática que perdeu muito de seu romantismo, mas que continua a ser uma aventura fascinante. 

Referências

Links acessados em Maio de 2015. 

(2) http://www.cometchaser.de/discoverystories/Comet-discoverers.html. A Paulo Holvorcem pode ser creditado o título de grande descobridor brasileiro de cometas da atualidade. Emmanuel Liais (1860-1900) descobriu um cometa em território nacional no século XIX conhecido como "cometa Olinda",  
(4) Ver:



02 maio 2015

Ocultações de estrelas pela Lua em 2015

Fig. 1 Mapa disponível no site da IOTA sobre a ocultação da estrela β do Capricórnio visível em 10 de Maio de 2015 em grande parte do Brasil.
Uma lista de oculatações de estrelas brilhantes pela Lua já está disponível no site da IOTA (1). Para a América do Sul, algumas das ocultações previstas (e que serão amplamente observadas em grande parte do território brasileiro) são:

Data    Designação Nome   Mag. Tipo %IL  Local 
06 May     ZC2399  24 Sco 4.9 RD    95-  nw South America
10 May     ZC2969  β Cap  3.1 RD    63-  n South America
26 Sep     ZC3269  θ Aqr  4.2 DD    93+  central South America, w central Africa
16 Dec     ZC3269  θ Aqr  4.2 DD    32+  s South America


Interessante, por exemplo, é o caso de β do Capricórnio (Fig. 1), visível em 10 de Maio e que está classificado como "RD" (reappearance dark), ou seja, a estrela reaparecerá no lado escuro (não iluminado) da Lua. 

Para a cidade de Campinas, SP, ao seguir o link indicado (2) na relação acima, o horário de reaparecimento é 6:15 TU. Portanto, o fenômeno ocorrerá de madrugada.  O horário para diversas outras cidades está relacionado no link.

Há várias referências na rede que dizem que ocultações de estrelas pela lua não tem muito valor científico. Na verdade, o valor científico está ligado à capacidade de registrar o fenômeno. Se o observador tiver meios de medir a curva de luz da estrela com a ocultação, diversos fenômenos interessantes podem ser registrados (3). Por exemplo, se a estrela ocultada for binária muito fechada - de forma que não seja observada como binária visualmente mesmo com telescópios - a curva de luz pode revelar a presença da companheira. Estrelas binárias podem assim ser descobertas durante ocultações (4). 

Referências

15 abril 2015

Um mapa celeste moderno: a ferramenta Aladin (versão 8.0)

Imagem do software Aladin 8.0 (para Windows). Esse sistema permite acessar todo o céu em vários comprimentos de ondas e com grande resolução. Diversas ferramentas de medida (fotometria etc) estão disponíveis como plugins. 
Talvez poucos sabem que, para se ter acesso a imagens do firmamento em resolução de céu profundo, basta um PC conectado a Internet. Foi-se o tempo de adquirir mapas celestes em papel, que iam até valores limites de magnitude abaixo de dois dígitos. Ou também adquirir caríssimos mapas de maior resolução, apenas disponíveis a observatórios profissionais. Uma ferramenta "leve" e pronta para uso é o software Aladin, que pode ser baixado desde:

http://aladin.u-strasbg.fr/

Clique em "Aladin Desktop" e escolha a versão de seu sistema operacional. Este software já está na versão 8.0 e é bastante leve porque a informação buscada é baixada à medida que é requerida. Alias, há uma versão para o brownser (http://aladin.u-strasbg.fr/AladinLite/), que não requer baixar nenhum aplicativo (mas que exige instalação do plugin JAVA) e que pode ser usado em plataformas móveis com, por exemplo, Ipads. O site acima descreve o software de uma maneira bem singela:
Aladin é um atlas celeste interativo que permite ao usuário visualizar imagens astronômicas digitalizadas de buscas completas, superimpor entradas de catálogos astronômicos e bancos de dados interativamente, acessar dados e informações relacionados ao banco de dados Simbad, do serviço VizieR, além de outros arquivos de objetos astronômicos no campo.
O VizieR (http://vizier.u-strasbg.fr/index.gml) é um serviço do Observatório Astronômico de Estrasburgo que é rota de acesso a um grande banco de dados de objetos astronômicos de diversos projetos. Com o Aladin é possível ter acesso ao céu em vários comprimentos de onda e não apenas no visível. Existem muitas funcionalidades associadas ao Aladin, que é uma aplicação feita em JAVA. A ideia do software é dar ao usuário a possibilidade de navegar pelo céu em várias "camadas" de dados - ou seja, a busca no mapa é, na verdade, uma inspeção em um banco. 

Uma das funcionalidades mais interessantes desse software é a função de zoom. De fato, ao se abrir o software pela primeira vez, a impressão que se tem é de um mapa da esfera celeste comum. É possível ampliar as regiões até escalas bem pequenas como 1 minuto de arco ou menos.

É possível realizar buscas com nomes conhecidos. Para isso, clique em "Ctrl+R" e preencha (em inglês) o nome do objeto buscado no campo "Location". Se ele estiver na lista interna da base, o resultado será a exibição do objeto no mapa.

O mapa na luz visível é obtido clicando-se no botão "DSS". Algumas das camadas de busca possíveis são:
  • 2MASS: para o infravermelho;
  • WISE para o infravermelho;
  • GALEX para o ultravioleta;
  • PLANCK: para a banda de rádio;
  • AKARI: para o infravermelho distante;
  • Fermi: para raios gama
  • Constell: carrega a fronteira entre as constelações;
  • WDS: indica a posição das estrelas duplas na área de busca do usuário;
  • GCVS: carrega as posições das estrelas variáveis na área de busca do usuário;
Imagem gravada do software Aladin mostrando pelos círculos amarelos a posição de estrelas duplas. 
Além dessas possibilidades, diversos plugins permitem manipular os dados, como é o caso da ferramenta de fotometria.

O Aladin é ideal para quem procura por um mapa de alta resolução - talvez, durante a execução de uma busca mais detalhada pelo céu, tenha topado com algum objeto desconhecido, possivelmente um asteroide ou cometa. Para o amador da astronomia no visível (observadores de estrelas duplas, variáveis, deep sky etc), pouco relevância parece existir nos mapas além do visível, porém a disponibilização desses extratos de dados em uma mesma ferramenta permite que buscas comparativas sejam feitas. Nesse sentido, a quantidade de informação disponível pelo sistema Aladin é realmente surpreendente.




01 abril 2015

Nota sobre o Eclipse da lua em 4 de abril de 2015


Quem tiver interesse no eclipse total da lua em 4 de Abril de 2015 deve saber que esse fenômeno não será observado em grande parte do hemisfério ocidental - incluindo o Brasil, África e a toda Europa conforme mostra o mapa acima

No caso do Brasil, apenas uma pequena faixa da parte mais ocidental (correspondente ao estado do Acre) poderá ser vista a lua se pondo com o eclipse em sua fase muito parcial. Essas condições não são favoráveis para a boa observação do fenômeno.

Observadores devem esperar até o dia 28 de Setembro de 2015 para apreciar um eclipse total da lua que será plenamente visível nos locais onde esse não será. 

21 março 2015

Nova Sagitarii 2015 (Nova Estrela na constelação do Sagitário)

O "antes e o depois" numa imagem de A. Valvasori feita no dia 16 de Março último,
usando um telescópio de 32 cm de diâmetro. A imagem tem 20' x 20' de área. Fonte: Ref. (1)
Descoberta no dia 15 de Março último, um estrela nova, de coloração amarelada e bem no centro do "pote de chá", pode ser vista por meio de binóculos e até a vista desarmada, caso o observador se localize em região com pouca poluição luminosa (sua magnitude na data deste post é de aproximadamente 4).  A notícia parece ter sido divulgada em primeira mão no site da revista "Sky and Telescope" (1). Segundo a revista, a estrela foi descoberta pelo caçador de novas John Seach na Austrália e apresentava na data a magnitude 6. Ainda segundo a nota, um dia antes nada havia sido registrado no campo da imagem pelo menos até magntude 10,5.

Essa estrela está ao alcance dos observadores do hemisfério sul por se localizar na constelação de Sagitário. A posição da estrela é declinação: –28° 55′ 40″ e Ascensão Reta: 18h 36m 56.8s. O equipamento ideal para sua observação é um binóculo, embora o registro fotográfico da estrela (usando uma montagem fixa) pode ser facilmente obtido.

Até um espectro da estrela já foi feito no dia 17 de Março último por Jerome Jooste na África do Sul conforme mostra a imagem abaixo extraída de seu site de divulgação

Espectro da estrela feito por Jerome Jooste na África do Sul, usando um telescópio refletor de 8 polegadas. As faixas brancas mostram presença de fortes linhas de emissão tipicamente associadas à atmosfera da estrela. 
Um mapa da localização da estrela pode ser visto abaixo como distribuído pela AAVSO. Embora a importância do evento, em 21/3/2015, não se registrou nenhuma notícia dessa nova na primeira página do site da AAVSO. Esse mapa será mais útil à medida que a nova perder brilho e novos observadores tiverem interesse em localizar essa estrela e avaliarem seu brilho. 

Mapa com a posição da Nova Sagitarii 2015 fornecido pela AAVSO.
Referências