Aspecto do Cinturão de Órion com as "Três Marias" conforme visto em um pequeno binóculo. Por Roberto Mura via Wikipedia. |
Não é incomum a curiosidade em torno das famosas "Três Marias". Que agrupamento de estrelas é esse? Não podem ser encontradas com essa designação em nenhum mapa celeste, então elas se referem a quê?
Na verdade, as constelações são designadas sob diversos nomes, mas apenas alguns são conhecidos como "oficiais". As "Três Marias" é um caso não oficial. Trata-se de, como é fácil de se pesquisar na internet, de um nome dado ao "Cinturão de Órion", na constelação de mesmo nome. O "Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica" (1) de R. R. de Freitas Mourão, assim define esse nome:
Três Marias. Asterismo na constelação de Órion, formado por três estrelas brilhantes, em linha reta, e igualmente espaçadas; Três Irmãs, Três Reis Magos, Cajado, Cinto de Órion, Ararapari.
E qual seria a razão para essa denominação? Alguns referem-se a três mulheres que visitaram o túmulo de Jesus após a crucificação. Essa descrição se conforma a alguns textos dos evangelhos canônicos (notadamente Marcos 16:1-8, Fig. 1) que as identificam com os nomes Maria de Cleofas, Maria Madalena e Salomé. Em outros lugares (Filipinas e Porto Rico, ver (2)), o mesmo agrupamento de estrelas é conhecido como "Os Três Reis Magos", também em uma referência ao Novo Testamento. Seus nomes seriam Gaspar, Melquior e Baltasar e estariam a caminho de Belém, representada pela estrela Sírius, ou α Canis Majoris. Seria Sírius um símbolo para a estrela de Belém?
Fig. 1 As Três Marias: "Ressurreição de Cristo e Mulheres no Sepulcro" - Fra Angelico (c.1387-1455). Fonte: Wikipedia. |
Na convenção moderna de batizar muitas estrelas com nomes de origem árabe, elas são denominadas Mintak (δ Orionis), Alnilam (ε Orionis) e Alnitak (ζ Orionis). Como esses nomes têm significado, o mesmo Dicionário de Mourão (1) assim esclarece:
Mintak - "O nome de origem árabe designa o cinto do gigante";
Alnilam - "Seu nome, de origem árabe, significa a pérola";
Alnitak - "Seu nome árabe significa o cinto do caçador".
Em outras culturas, não é assim. O mesmo dicionário (1) assim esclarece sobre o nome Ararapari ligado à constelação de Órion e sobre as "Três Marias" na mitologia dos índios do Amazonas:
Ararapari. 1. Nome usado pelos índios do Amazonas para designar a constelação de Órion, segundo Barbosa Rodrigues. Esse nome é composto de arara, arara, e pari, cerca. Seriam as cercas dos currais de peixes, pari, que possuem a suas varas dispostas em triângulo. 2. De acordo com o Coronel Temístocles Sousa Brasil, seria o asterismo das Três Marias, como lhe teria sido contado pelos índios das margens do rio Negro.
Há várias outras referências culturais encontradas na Wikipedia (2) sobre o Cinturão de Órion, que corresponde ao agrupamento das Três Marias:
- na mitologia chinesa elas são conhecidas como "a balança" ou "mansão das três estrelas";
- no Velho Testamento, uma referência as Três Marias é encontrada indiretamente na citação aos "cordéis de Órion" em Jó 38:31: "Ou poderás tu ajuntar as delícias do Sete-estrelo ou soltar os cordéis do Órion?". Essa citação também faz referência as Plêiades (sete-estrelo);
- na mitologia Finlandesa, o cinturão de Órion é conhecido como Väinämöisen vyö (ou o "cinto de Väinämöinen"). As estrelas parecem pertencer ao cinto de um asterismo conhecido como Kalevanmiekka (ou a espada de Kaleva, conforme (2)).
Para os Tupis-Guaranis na América do Sul, a constelação de Órion fazia parte de um agrupamento maior conhecido como "Homem Velho" (3) ou Tuya'i. O software Stellarium permite reproduzir o traçado dessa constelação Tupi, conforme mostra a Fig. 2. Nela o cinturão de Órion é chamado "Joykexo".
O cinturão de Órion
Fig. 3 Mapa da constelação de Orion, mostrando as Três Marias no chamado "cinturão de Órion". |
Do ponto de vista astronômico, das Três Marias (visto na Fig. 3. no centro da constelação de Órion), a mais espetacular como estrela é certamente Mintak por ser um sistema formado por cinco estrelas. Mintaka é uma estrela de magnitude 2.2, localizada a 1200 anos-luz de distância. Na descrição do sistema de Mintaka, divide-se a estrela em duas componentes: a principal e uma secundária mais débil cerca de 52" de distância. A componente principal é um sistema triplo, enquanto que a secundária é um sistema binário.
A melhor maneira de contemplar as chamadas "Três Marias" é por meio de um binóculo. A separação entre cada uma delas é de aproximadamente 1 grau e 20', sendo que o Cinturão tem ao todo 2 graus e 45' de largura. A região do cinturão é, em si, riquíssima em estrelas, contendo ainda em sua vizinhança diversos objetos "deep-sky" como a famosa "Nebulosa de Órion". Obviamente, para se apreciar completamente esse agrupamento de estrelas uma região escura, sem poluição luminosa, é recomendada.
A melhor maneira de contemplar as chamadas "Três Marias" é por meio de um binóculo. A separação entre cada uma delas é de aproximadamente 1 grau e 20', sendo que o Cinturão tem ao todo 2 graus e 45' de largura. A região do cinturão é, em si, riquíssima em estrelas, contendo ainda em sua vizinhança diversos objetos "deep-sky" como a famosa "Nebulosa de Órion". Obviamente, para se apreciar completamente esse agrupamento de estrelas uma região escura, sem poluição luminosa, é recomendada.
Referência
(1) R. R. de Freitas Mourão (1987). "Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica", Editora Nova Fronteira/CNPq.
(2) https://en.wikipedia.org/wiki/Orion%27s_Belt (Acesso em Outubro de 2016).
(3) G. Afonso. (2006) Mitos e Estações no Céu Tupi-Guarani. Scientific American Brasil. Edição Especial sobre Etnoastronomia. Aceso em outubro de 2016.
(2) https://en.wikipedia.org/wiki/Orion%27s_Belt (Acesso em Outubro de 2016).
(3) G. Afonso. (2006) Mitos e Estações no Céu Tupi-Guarani. Scientific American Brasil. Edição Especial sobre Etnoastronomia. Aceso em outubro de 2016.