05 outubro 2020

Oposição de Marte em 2020

fig. 1 Diagrama da ALPO dos principais aspectos da oposição marciana de 2020.

Outubro em 2020 é o grande mês da oposição marciana. Este ano, a posição do planeta será favorável a sua observação com diâmetro máximo de 22.6". Como o período orbital deste planeta é aproximadamente o dobro do ano terreno, apenas a cada dois anos temos a oportunidade de observá-lo mais próximo.

Conforme noticiamos aqui, e segundo o comunicado da ALPO

A aproximação máxima ocorrerá as 14:19 TU em 6/10/2020, com um disco planetário aparente de 22,6" a uma distância de 0,41 UA ou 62,07 milhões de quilômetros de distância. Durante a máxima aproximação em 2020, o diâmetro de Marte será 1,7" menor que na oposição de 2018, porém, ele estará 31 graus mais alto no céu, o que favorecerá observadores nos hemisférios norte e sul da Terra. Observa-se que a máxima aproximação da Terra com Marte não necessariamente coincide com o tempo de oposição, mas varia num intervalo de até duas semanas.

Em realidade, o planeta permanecerá visível favoravelmente ao longo de todo o mês de outubro e parte de novembro. A data de máxima aproximação é 6 de outubro, mas sua oposição ocorrerá em 13 de outubro. As datas não coincidem porque o ponto de máxima aproximação não corresponde à posição de sua órbita em que ele se posiciona em "oposição" ao sol em relação à Terra.

Na oposição de outubro de 2020, Marte estará na constelação de peixes. Nessa oposição, o hemisfério sul de marte estará em posição mais favorável de observação para a Terra. Por meio de um bom telescópio será possível ver regiões claras e escuras na sua superfície que correspondem a desertos e a regiões onde rocha está exposta. Será possível observar a calota polar sul, que dominará a visão dos polos.

Para observar o planeta, como já comentado, um telescópio de no mínimo 150 mm de abertura é recomendado. Grandes aberturas (~ 300 mm sob boas condições atmosféricas) podem proporcionar imagens detalhadas de características da superfície do planeta. Com instrumentos menores (p. ex., um refrator de 75 mm de diâmetro), é possível ver marte como uma pequena "bolinha" sem grandes aumentos.

O problema das tempestades de areia

Como é conhecido, não está garantida uma observação absolutamente límpida dos princiapais detalhes na superfície de Marte, dada a chance de ocorrerem tempestades de areia.

fig. 2 Diagrama do aspecto de Marte em sucessivas oposições desde 2016 até 2035. Crédito: Pete Lawrence. 

Para quem perder a oposição de 2020, haverá outra em 2022. O diagrama da fig. 2 mostra o aspecto do planeta e seu tamanho nas diversas oposições desde 2016. A oposição de 2018 foi a mais favorável, com diâmetro de 24.3". A partir de então, Marte reduzirá seu tamanho aparente até 2033 quando uma oposição semelhante à de 2020 ocorrerá. Em particular, a oposição de 2035 será bastante favorável.

Referência

Revista "Sky at Night". https://www.skyatnightmagazine.com/ 

14 agosto 2020

Novas notícias sobre Betelgeuse

Fig 1 Representação pictórica da NASA ilustrando como uma nuvem de poeira obscureceu a visão de Betelgeuse. Créditos: NASA/ESA/E. Wheatley (STScI).

O leitor deve se lembrar do mínimo histórico atingido por Betelgeuse no final de 2019. Escrevemos o post "Será que Betelgeuse (α Orionis) vai explodir ?" logo no começo deste ano. Nesse texto alertamos para a onda de "catastrofismo" que também assola a Astronomia. A crença é que aquela estrela estava prestes a explodir, o que iluminaria o céu com um segundo sol.

Pois bem, passado mais de meio ano desde a notícia, há novidades sobre o caso. Em um artigo recente, Dupree et al (2020) descrevem algumas conclusões baseadas em análises do telescópio Hubble e uma nova hipótese para a redução de brilho:

A supergigante vermelha Betelgeuse (Alpha Orionis, HD 39801) experimentou um esmaecimento visual entre dezembro de 2019 e o primeiro semestre de 2020, alcançando uma mínima histórica entre os dias 7 e 13 de Fevereiro. Durante o período de setembro a novembro de 2019, antes do evento de redução de brilho óptico, a fotosfera expandiu-se. Ao mesmo tempo, espectros ultravioletas com resolução espacial usando o espectrógrafo de imagem do telescópio espacial Hubble revelaram um aumento substancial, no espectro ultravioleta, da linha de emissão de Mg II da cromosfera sobre o hemisfério sul da estrela. Além disso, a temperatura e densidade eletrônica inferidas a partir do diagnóstico espectral da linha CII também aumentaram no hemisfério. Essas mudanças aconteceram antes do grande evento de esmaecimento. Variações nos perfis da linha de Mg II sugerem que material se moveu para fora em resposta à passagem de um pulso ou onda de choque de setembro de 2019 até novembro. Parece que esse fluxo extraordinário de material da estrela, iniciado provavelmente por elementos fotosféricos convectivos, foi aumentado por coincidência com movimento de fluxo de fase da pulsação de 400 dias. Essas observações em ultravioleta parecem fornecer uma conexão entre as grandes células convectivas da fotosfera e o evento de ejeção de massa que se resfriou para formar uma nuvem de poeira sobre o hemisfério sul registrado em dezembro de 2019, e que também resultou no esmaecimento  óptico excepcional de Betelgeuse em fevereiro de 2020.

A Fig. 1 é uma ilustração do Instituto para o Telescópio Espacial que simplifica o resumo do artigo de Dupree et al de 2020 traduzido acima. Ao invés de uma grande contração que reduziria o brilho e seria o prenúncio de uma catástrofe estelar, algo mais simples teria ocorrido. 

Uma gigantesca ejeção de massa como observada no hemisfério sul da estrela já em setembro de 2019 teria coincidido com uma das pulsações "para fora" da estrela gerando uma nuvem de poeira. Por coincidência (alinhamento geométrico), essa nuvem de pó ficou entre a Terra e a estrela, e o que vimos foi o brilho de Betelgeuse se reduzir drasticamente. 

Novas imagens e medidas de brilho de Betelgeuse continuarão ao longo de 2020 tão logo a estrela saia de sua fase de conjunção helíaca. As medidas de brilho, aliadas à observações espectrais, fornecerão uma imagem dinâmica da evolução desses eventos de variação irregular de brilho e auxiliarão a compreensão do mecanismo de evolução de grandes estrelas como Betelgeuse.

Referências

06 agosto 2020

Ocultação de Marte pela lua em 6 de setembro de 2020 (GMT)


Mapa IOTA para a região de observação da ocultação de marte pela lua em 6 de setembro de 2020.

Em 6 de setembro de 2020 (GMT), a lua ocultará Marte para boa parte do território nacional como mostra a figura acima. A ocultação também será visível na parte ocidental da América do Sul.

Em conformidade com a página da IOTA [1], o desaparecimento de Marte terá início para Brasília/DF, por exemplo, em 6/9/2020 as 2:49 TU (ou 23:49 da hora local do dia 5/9/2020. Atenção para as datas!). 

Fig. 1 Aspecto do reaparecimento de marte as 1:05 BRT em 6/9/20 como visto desde Brasília/DF. 

Na ocasião, marte brilhará com mag. -1.9 e a lua estará bem alta no céu. Mais interessante do que o desaparecimento, o reaparecimento de marte ocorrerá na parte não iluminada do disco lunar. Para Brasília/DF, o aspecto do reaparecimento de marte é visto na Fig. 1 e ocorrerá próximo de 1:03 do dia 6/9/2020.

Para outras localidades do Brasil consulte [1]. O software Stellarium permite determinar o aspecto da ocultação para qualquer localidade, desde que a posição do observador esteja ajustada corretamente. 

Referências

[1] http://lunar-occultations.com/iota/planets/0906mars.htm