10 agosto 2018

Cometas em 2018: C/2017 S3 (PANSTARRS)

Imagem do C/2017 S3 de 2/7/2018 tirada por M. Jäger na Áustria. 
A rede de notícias em torno do cometa C/2017 S3 (PANSTARRS) descreve esse cometa como "extraordinário", um das muitas versões de "Nibiru" e simplesmente como um dos grandes cometas de 2018. Será mesmo?

Todo esse furor é por conta de um "outburst" ocorrido no início de julho (uma espécie de aumento repentino de brilho). Descoberto em setembro de 2017 com magnitude 21, esse cometa terá seu periélio em 15 de agosto. Espera-se que ele atinja magnitude 4.0 ou 3.0, o que o tornaria visível à vista desarmada, mas envolvido no fulgor do Sol. 

Sua posição no céu não favorece, entretanto, observadores do hemisfério sul. No caso do Brasil, observadores nas regiões mais setentrionais serão favorecidos.

Um bom mapa para a observação do "cometa verde" como foi chamado, para Agosto de 2018, pode ser visto abaixo (a versão completa está na Ref. 1). 

Mapa da posição do "cometa verde" em 8/2018. Clique na imagem para sua versão ampliada.
O mapa indica sua posição na região do zodiáco, próximo às constelações de Câncer e Leão. Sem dúvida, o melhor momento de observação foi na fase em que seu brilho alcança magnitude 7.0 a 8.0, sendo observado mais confortavelmente por binóculos. 

Ao longo do periélio, estará em "rendezvous" com o sol e muito próximo dele junto ao horizonte. Depois do periélio, sua posição relativa não permitirá observação desse astro. 

Referências




25 junho 2018

Um eclipse e um planeta em oposição (memorável noite de 27 de julho de 2018)

"Eclipse Lunar" por Scott Kahn. 
Lua e marte em Capricórnio brindam o início de uma nova noite pintados de vermelho. Brasil é o melhor país das Américas para se apreciar o evento.

O eclipse da lua de 2018, em 27 de julho, será acompanhado bem de perto por marte, o planeta vermelho em uma grande oposição. Lua e marte estarão tingidos de vermelho formando uma bela visão. O planeta por ser essa sua cor própria, a lua por estar oculta na sombra da Terra que, com sua atmosfera repleta de partículas que absorvem o azul, pintam de vermelho sua superfície. 

O céu em direção à leste como visto desde Brasília/DF por volta das 18:00. Simulação Stellarium do início da noite de 27/7/2018.
O fenômeno todo não será visível do Brasil e nem em todo o Brasil, mas apenas na sua parte oriental. 

A lua já nascerá completamente eclipsada. No hemisfério sul é inverno e o Brasil é o melhor país nas Américas para se apreciar o evento. Quem estiver na parte oriental do Brasil (região costeira) terá as melhores condições para apreciar o evento.

Temos sorte de, já às 18:00 (21:00 UTC) ser possível apreciar a bela visão do eclipse-conjunção em sua fase final, mas sem muita influência do sol que terá se posto à oeste.

O eclipse também será bem observado em sua fase final em todo continente Europeu. Entretanto, os melhores locais serão no Oriente Médio e a parte ocidental da África.

Não há muito o que fazer a não ser apreciar a bela visão que convida a uma fotografia. 

Em questão de menos de uma hora, o eclipse terá envoluído em direção à saída da lua da umbra, (a parte mais escura da sombra da Terra) e a segunda metade do eclipse penumbral será iniciada (a primeira parte ocorreu com a lua abaixo do horizonte). 

A umbra abandonará o disco lunar por volta das 19:10. Finalmente, ela estará completamente livre da sombra da Terra por volta das 20:28 (23:28 UTC) quando o eclipse se encerra.

Animação segundo a wikipedia, mostrando a evolução do elipse em 27 de julho e a dimensão relativa da lua em relação a sombra da Terra. O horário acima é dado em "Tempo Universal". Deve-se subtrair 3 horas para obter o tempo de Brasilia.

Lua cheia apogeana: 18 anos depois do último mais longo.

O eclipse será longo uma vez que a lua se encontrará no "apogeu" (ponto mais distante da Terra de um corpo em sua órbita), porém, isso não implicará em grande vantagem para os observadores no Brasil que acompanharão o fenômeno em seu fim. O diâmetro aparente da lua (aquele medido em minutos de arco) será menor e, combinado ao fato de a lua passar próximo ao centro da sombra da Terra, isso contribuirá para aumentar a duração do eclipse.

Em termos de duração, o último eclipse mais longo foi em 16 de julho de 2000. Aproximadamente 18 anos depois (o que corresponde ao período de Saros, importante na determinação dos eclipses) um novo eclipse longo ocorre.

Caso o leitor perca este eclipse, uma nova chance haverá em 21 de janeiro de 2019. Essa próxima ocasião será inteiramente favorável a observadores do Brasil, posto que todo o fenômeno será visível das Américas, porém estaremos no verão com maior incidência de nuvens que podem ocultar a lua.

Referências

https://eclipsewise.com/lunar/LEprime/2001-2100/LE2018Jul27Tprime.html 



12 abril 2018

Sobre a chuva de meteoros Eta Aquaridas em 2018

A boa observação de chuvas de meteoros requer exigentes condições que sintetizamos abaixo:
  1. Não pode "haver lua", o que significa que, preferencialmente, o evento não deve estar entre o quarto crescente e o minguante subsequente, mas, principalmente, a proximidade da lua cheia. A presença da lua cheia é um sério empecilho à observação;
  2. Altas taxas de "precipitação". A intensidade das chuva é medida pelo seu "rate" em número de meteoros por hora. É óbvio que, quanto maior esse número, maior a chance de se observar um evento;
  3. A posição da radiante. A radiante é um ponto fictício no céu de onde os meteoros "surgem". Na verdade, é um efeito geométrico e depende do arranjo entre as órbitas dos detritos e da Terra. O problema é que, se a radiante estiver muito baixa no horizonte, as chances de observação se reduzem por um efeito muito simples de entender, algo como a diferença de expectativa de receber um pingo de chuva no para-brisa de um carro e sua traseira quando o carro se move para frente. Radiantes muito baixas (o que ocorre se sua posição for muito boreal em relação ao hemisfério sul e vice-versa) simplesmente não produziram efeito algum. A posição ideal é a da radiante "diretamente acima" da cabeça do observador;
  4.  Ausência de iluminação artificial, o que torna difícil a observação das chuvas de meteoro (ideais) nas grandes cidades. Se as condições 1-3 acima forem satisfeitas, a observação de meteoros em grandes cidades está limitada apenas aos eventos mais brilhantes, conforme inúmeros registros em vídeo têm mostrado recentemente (2).
  5. Acrescentamos ainda a necessidade de tempo limposem nuvens, pois meteoros tornam-se visíveis muito além da camada de nuvens. Essa exigência é comum para qualquer evento no céu o que, no caso do Brasil (e América Latina), implica que são escassas as chances de boas observações nos meses chuvosos. Portanto, chuvas de meteoros que coincidam com a época seca (outono, inverno) provavelmente satisfarão essa necessidade.
Dito isso, lembramos que não é necessário nenhum instrumento de observação, a menos dos olhos. Nem mesmo binóculos devem ser usados para se observar. O uso de câmeras é possível, particularmente se possuírem objetivas com grande campo.

O caso das Eta Aquáridas em 2018

A única condição acima que depende do observador é a 4, porque ele pode 'escolher' de onde observar. Portanto, devemos estar atentos para 1, 2, 3 e 5. Um caso em 2018 é o da Eta (η) Aquaridas (1), cujo máximo ocorre entre 6 e 7 de maio (sim, é possível testemunhar o evento em duas datas). Membros da Eta Aquáridas poderão ser vistos desde 20 de abril e sua atividade persistirá até 12 de maio, mas o máximo se dará entre as datas indicadas. A época parece ser propícia para o hemisfério sul, pois é o início da estação seca, o que está de acordo com a condição 5.

Com relação à condição 2, as taxas previstas para o hemisfério sul giram em torno de 40 a 60 meteoros por hora, o que significa aproximadamente um ou mais evento a cada dois minuto. Essa é uma taxa razoavelmente "alta" se comparada a maioria das chuvas ao longo do ano (Quadrântidas, Delta Ariêtidas, Delta Câncridas, Coma Berenícidas, Corono-Austrálidas, Delta Dracônidas... esses são alguns dos nomes pitorescos). Já temporais celestes são eventos raríssimos, só acontecem sob condições excepcionais (como foi o caso das Leônidas em 1833, com taxas da ordem de 1 milhão por hora, um texto sobre isso pode ser encontrado aqui).

Fig. 1 Aspecto da orientação da constelação de Aquário de madrugada em maio. A posição da radiante é indicada pela estrela com pontas em η -Aquaridas. Olhe na direção leste algumas horas antes do nascer do sol.
Com relação à condição 3, para latitudes em torno de -23 graus sul, a Fig. 1 mostra o aspecto da constelação de Aquário em maio por volta das 5:00, conforme previsto pelo software Stellarium. A posição da radiante (altura em relação ao horizonte) é de aproximadamente 65 graus, o que é bastante satisfatório. Talvez essa seja a radiante mais bem localizada para o hemisfério sul. De fato, na data, a radiante estará acima do horizonte após as 00:00, mas o ideal é esperar sua ascensão em relação ao horizonte oriental, de forma a aumentar a probabilidade de observação, pouco antes do alvorecer.

Falta apenas a condição 1, que é decisiva. Consultando o calendário lunar (3), encontramos que será lua nova em 15 de maio. Em 2018, o evento terá alguma interferência da lua. O dia 6 de maio a chuva terá como testemunhos a Lua e Marte em conjunção.

Atenção: As chances são maiores de se observar um meteoro se a visão for concentrada em uma região distante 60 ou 90 graus da radiante. Ou seja, os meteoros não serão observados diretamente sobre o ponto da radiante. Ao observar um traço, preste atenção a sua persistência, você está vendo um resto do cometa de Halley!

Os detritos que geram os eventos na Eta Aquáridas se originam de um dos cruzamentos da órbita da Terra com a do cometa Halley. O outro cruzamento é responsável pelas "Oriônidas", por volta de 20 de outubro. Existem especulações (4) de que a órbita de Júpiter é responsável por variações na intensidade de Eta Aquáridas, mas ninguém é capaz de prever se este ano haverá aumento em relação a anos anteriores.

Referências

1) Já descrevemos aqui uma ocorrência anterior dessa chuva.
2) Ver: http://live.exoss.org/ (acesso em março de 2018).
3) Ver, por exemplo, http://www.calendar-12.com/moon_phases/2018 (acesso em abril de 2018).
4) Hajduk, A. (1970). Structure of the meteor stream associated with comet Halley. Bulletin of the Astronomical Institutes of Czechoslovakia, 21, 37.