02 dezembro 2022

Alguns eventos astronômicos em 2023

Observatório Imperial, Morro do Castelo, Rio de Janeiro (imagem: autor desconhecido, provavelmente do início do Século XX).

Quais são os eventos astronômicos previstos para 2023? Em tese, 2023 não será um ano de grandes eventos. O destaque é o eclipse anular do Sol visível quase que em todas as Américas em 14 de outubro. Esse será um eclipse visível em muitas regiões do Brasil.

Notícias mais detalhadas sobre cometas, eclipses e outros eventos poderão ser postados aqui ao longo de 2023. Outras conjunções planetárias (suas datas, planetas envolvidos e separação) são apresentadas na última tabela.

Cometas em 2023

O grande cometa no início do ano é o ZTF (C/2022 E3) que terá sua máxima aproximação da Terra no início de fevereiro. O nome ZTF é uma abreviação de "Zwicky Transient Facility", o observatório onde foi descoberto. Esse cometa alcançará brilho superior (~mag. 5.0) ao do cometa C/2017 K2 (PanSTARRS) visível ainda no início de 2023. 

Outros destaques cometários em 2023 são C/2021 T4 (Lemmon) com mag. 7.0, 62P/Tsuchinshan 1 com mag. 7.0.

Janeiro

Uma ocultação de Urano pela Lua ocorre em 1 de janeiro que será visível apenas no norte da Europa. No Brasil, será uma conjunção.

Em 3 de janeiro ocorre uma conjunção entre a Lua e Marte. Em alguns lugares Marte será oculto pela Lua, não visível no Brasil.

Em 13 de janeiro ocorre o periélio do cometa ZTF (C/2022 E3). No início de 2023 espera-se que esse cometa atinja mag. 6.0. 

Em 31 de janeiro, a Lua volta a ocultar Marte, mas a ocultação não será visível no Brasil.

Fevereiro

Em 2 de fevereiro, ocorre o máximo brilho do cometa ZTF (C/2022 E3). Será um cometa favorável para observadores do hemisfério norte. 

Em 22 de fevereiro, a Lua oculta Júpiter. O evento é visível no extremo sul do Brasil. Nas outras regiões, é uma conjunção como mostrado na figura abaixo.

Ocultação de Júpiter pela Lua em 22/2.

Março

Em 1 de março ocorre uma conjunção entre Júpiter e Vênus.

O asteroide Ceres está em oposição em 21 de março posicionado na constelação de Coma Berenices e visível a mag. 7.1. É a melhor época para observar esse corpo celeste com binóculo ou telescópio.

O asteroide Ceres está em oposição em 21 de março.

Em 24 de março ocorre uma conjunção entre a Lua e Vênus. Em algumas partes do mundo, a Lua ocultará Vênus (não visível do Brasil).

Emm 28 de março, a Lua oculta Marte. Evento não visível no Brasil que será visto como uma conjução.

Abril 

Em 20 de abril haverá um "eclipse solar híbrido". Por causa da distância da Lua na data, em algumas partes da trajetória de totalidade, o eclipse será total e, em outras, será anular.  De qualquer forma, esse eclipse não será visível em nenhuma parte das Américas

Em 22 de abril ocorre o máximo da chuva de meteoros "Líridas". Por causa da recente lua nova (eclipse dia 20), a Lua não atrapalhará  a observação desse chuveiro.

Maio

Haverá um eclipse penumbral da lua no dia 5 que não será visível nas américas em qualquer parte delas.

Em 6-7 de maio ocorre o pico do chuveiro das Eta Aquáridas que podem produzir até 60 meteoros por hora. Por causa da recente lua cheia (eclipse penumbral dia 5), a Lua atrapalhará  a observação desse chuveiro.

A Lua oculta Júpiter em 17 de maio em um evento não visível no Brasil, onde ele será visível como uma conjunção.

Julho

Uma sequência de conjunções da Lua com os planetas Mercúrio, Vênus e Marte ocorre em 19, 20 e 21 de março respectivamente.

Em 28 de julho, Mercúrio e a estrega Regulus (alfa Leo) se encontram no céu. O par poderá ser visto ao cair da tarde.

O máximo das "Delta Aquáridas" ocorre entre 28-29. Esse chuveiro produz em média 20 meteoros por hora como resultado de detritos do cometa Marsden-Kracht. Como a Lua estará próxima de cheia (em 1 de agosto), a Lua atrapalhará  a observação.

Agosto 

Em 12-13 de agosto ocorre o máximo da radiante "Perseidas" como resultado de detritos do cometa Swift-Tuttle. É provável que a Lua (nova em 16 de agosto) não atrapalhe a observação desses meteoros. 

Em 18 de agosto ocorre umam conjunção tripla envolvendo a Lua, Marte e Mercúrio. A tripla será vista ao cair da tarde. 

Conjunção tripla em 18 de agosto.

Em 25 de agosto a Lua oculta Antares (alfa da constelação do Escorpião), num evento que não será visível no Brasil onde ele ocorrerá como uma conjunção.

Em 27 ocorre a oposição do planeta Saturno.

Setembro

Em 18 de setembro, Vênus atinge o maior brilho. Será visto de manhã, antes do nascer do Sol como a "Estrela D'Alva". Seu brilho não será muito diferente alguns dias antes e depois desta data.

Em 21 de setembro a Lua oculta Antares (alfa da constelação do Escorpião), num evento que não será visível no Brasil onde ele ocorrerá como uma conjunção.

Outubro

Em 14 de outubro ocorrerá um eclipse anular do sol que será visível em boa parte do continente americano, inclusive o Brasil, ao cair do sol. A trajetória da anularidade cortará o Brasil na região norte como mostrado no gráfico. Nas outras regiões do Brasil (até o limite da região sul), o eclipse será parcial. A coroa solar não será visível durante esse eclipse. Em Brasília/DF o disco do sol será ocultado em seu máximo de 63%, o que ocorrerá as 16:47 do horário local.


Aspecto do eclipse solar de 14 de outubro como visto desde Brasília (16:47).

Em 18 de outubro a Lua oculta Antares (alfa da constelação do Escorpião), num evento que não será visível no Brasil onde ele ocorrerá como uma conjunção.

Em 28 de outubro ocorre um eclipse parcial da lua, visivel em parte do Brasil quando a Lua surgir no horizonte no começo da noite. Apenas uma parte da "umbra" tocará o disco lunar. 

Aspecto do eclipse lunar penumbral de 28/10 conforme informado aqui.

Novembro

Em 3 de novembro ocorre a oposição do planeta Júpiter.

Em 13 de novembro ocorre oposição do planeta Urano.

O chuveiro das "Leônidas" ocorre em 17-18 com um máximo estimado de 15 meteoros por hora. Com uma lua nova no dia 13, a Lua não atrapalhará a observação desses meteoros pois estará abaixo do horizonte.

Dezembro

Em 13-14 ocorre o máximo do chuveiro "Gemínidas". Estima-se que 2023 haverá uma aparição favorável desses meteoros associados a detritos do meteoro 3200 Feton. Estima-se que meteoros de diversas tonalidades numa taxa de 120 por hora possam ocorrer. Com lua nova em 12/12, a Lua não atrapalhara as observações. Mesmo assim, o céu deverá estar limpo e a observação se dar em um local escuro, longe das luzes artificiais. 

Luas novas de 2023 

As únicas luas que interessam à observação do céu são as luas novas. Pode-se considerar dias apropriados à observação os que antecedem ou se sucedem a aproximadamente 7 dias da data das luas novas. Em 2023 essas luas ocorrem nas datas:

Janeiro 21, Fevereiro 20,  Março 21Abril 20,  Maio 19Junnho 18Julho 17, Agosto 16, Setembro 14, Outubro 14, Novembro 13, Dezembro 12

Conjunções planetárias (sem envolver a Lua)

Data (BRLT)              Envolvidos       Separação

22 Jan 2023 16:36 -03 Venus-Saturno 0°21'

15 Fev 2023 09:19 -03 Venus-Neptuno <0°01'

02 Mar 2023 06:35 -03 Mercurio-Saturno 0°55'

02 Mar 2023 07:41 -03 Vênus-Júpiter 0°32'

31 Mar 2023 03:13 -03 Vênus-Urano 1°17'

04 Jun 2023 01:34 -03 Mercurio-Uranus 2°54'

26 Jul 2023 09:45 -03 Vênus-Mercúrio 5°17'

Referências

Granato, M., Costa, I. L. C. D., Martins, A. C., Reis, D. C., & Suzuki, C. (2007). Restauração do círculo meridiano de Gautier e reabilitação do pavilhão correspondente: Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST). Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, 15, 319-357.

https://eclipse.gsfc.nasa.gov/SEplot/SEplot2001/SE2023Apr20H.GIF

https://www.fullmoonology.com/2023-new-moons/

https://in-the-sky.org/



10 novembro 2022

Cometas em 2022: C/2017 K2 (PanSTARRS)

Imagem de D. Wipf do Cometa C/2017 K2 (PANSTARRS) obtida em 9 de julho de 2022. 

Um cometa que atingirá mag. 7.0, mas que permanecerá visível por instrumentos ópticos por um longo período de tempo (de outubro de 2022 a março de 2023). Foi em parte uma decepção, pois se esperava que atingisse ao menos mag. 5.0 e ficasse visível à vista desarmada.

Descoberto em maio de 2017, o C/2017 K2 (PanSTARRS) é considerado um habitante da núvem de Oort com uma órbita hiperbólica. Isso significa que pode nunca mais retornar às proximidades do sol depois de seu periélio em 19 de dezembro de 2022. Estima-se que ele levou milhões de anos para sair de sua posição na nuvem a cerca de 50 mil UA de distância do sol para nos visitar em 2022. Esse cometa foi descoberto pelo "Panoramic Survey Telescope and Rapid Response System" e por isso é chamado Pan-STARRS.

Como será  aparição em 2022.

É um objeto particularmente favorável para observadores do hemisfério sul tendo em vista que o cometa cruza a linha do equador celeste em julho de 2022, permanecendo no hemisfério austral até 2023 inclusive.

O brilho máximo desse objeto é estimado em 7.0, entretanto, podem ocorrer surtos de atividade que aumentarão o brilho de seu núcleo de forma inesperada. De fato, em um interessante artigo de Deborah Byrd podemos ler:

O cometa bate recordes ao se tornar ativo mesmo sob a débil luz do sol distante. Astrônomos nunca viram um cometa ativo tão distante como esse, onde a luz solar é apenas 1/225 daquela que brilha na Terra. As temperaturas lá são da orde de -260C. Mesmo em tais temperaturas congelantes, uma mistura de antigos gelos na superfície - de oxigênio, nitrogênio, dióxido e monóxido de carbone - começou a sublimar e ser lançado como poeira. Esse material se expande em um vasto halo de poeira (de 130 mil quilômetros de diâmetro) chamado coma, que forma um envelope em torno do núcleo.

Esse é portanto um objeto com atividade incomum, mesmo a uma distância muito grande do sol. A variação de luz medida para esse cometa pode ser vista na página de Seiichi Yoshida (aerith) e mostra uma curva com máximo pouco abaixo de 7.0. Um mapa detalhado da posição desse cometa pode ser baixado aqui

Posição orbital do cometa em novembro de 2022. (vanbuitenen)

Referências

 http://www.aerith.net/comet/catalog/2017K2/2017K2.html

https://earthsky.org/space/c2017-k2-panstarrs-farthest-inbound-active-comet/

https://en.wikipedia.org/wiki/C/2017_K2

http://astro.vanbuitenen.nl/comet/2017K2




25 dezembro 2021

Cometas em 2021: C/2021 A1 (Leonard)

Desenho pelo autor do cometa C/2021 A1 (Leonard) como visto desde Brasília/DF em 25/12/2021 por meio de um telescópio refletor de 5 polegadas f/12 e uma ocular de 17 mm.

Finalmente o grande cometa de 2021 se torna visível no hemisfério sul. A figura acima é um esboço em papel (negativo) de um desenho que fiz de minha observação do C/2021 A1 desde Brasília no dia 25 de dezembro, por volta das 20:00. É possível imaginar que, em céus rurais, esse cometa no final de 2021 deve ser um verdadeiro espetáculo, já que não foi difícil encontrá-lo com um binóculo em um céu tão poluído como de Brasília.

O aspecto mais notável dele na data da observação acima foi a concentração do núcleo, visível como uma pequena estrela de cor alanjada (pode ser efeito da atmosfera, já que ele estava a menos de 20 graus de elevação). Seu núcleo tem cerca de 10 km de diâmetro e, no dia da observação, a distância de mais de 90 milhões de quilômetros não se mostrou obviamente na imagem. A condensação visível é parte da região mais central da coma, o que podemos chamar "núcleo óptico" do cometa (em contraposição ao seu "núcleo físico").

No final de dezembro de 2021, o C/2021 A1 poderá ser visto como uma condensação de mag. 4.0-5.0 entre as constelações do Microscópio e o Grou, se elevando em relação ao horizonte Oeste à medida que os dias passam. O periélio desse cometa ocorrerá em 3 de janeiro de 2022, quando então ele terá reduzido seu brilho para mais de mag. 5.0. Em boa parte de janeiro de 2022 ele será visível como um astro vespertino entre as citadas constelações, não muito longe da estrela "Aldhanab" ou γ Grus. Sua observação nessas condições será sempre melhor depois das 19:30 do horário local. 

Posição do cometa Leonard em 25/1/22 pouco depois de escurecer como visto desde Brasília/DF. Olhe e direção ao horizonte oeste, pouco abaixo da estrela gama da constelação do Grou. Nessa data, sua observação será melhor por meio de um pequeno telescópio. 

Vamos encontrá-lo já com mag. 8.0 no final de janeiro, mesmo assim um astro acessível à binóculos e, claro, um bom telescópio. Sua posição em 25/1 é marcada na simulação Stellarium da figura acima. 

A partir da metade de fevereiro de 2021, ele será visível como um astro de magnitude 10 no céu matutino, ainda na mesma região entre o Grou e o Microscópio. Gradativamente, esse cometa perderá brilho, tornando-se um objeto somente acessível a médios e grandes telescópios.