23 outubro 2014

De incêndios e observatórios astronômicos

Imagem do terreno que abriga o Observatório de Americana (Outubro/2014). Foto de Matt Pratta. Este observatório foi consumido pelo fogo.
O dia 8 de outubro de 2014 foi marcado por terrível incêndio que destruiu o Observatório Municipal de Americana, em São Paulo. Com a fluidez da informação nos dias atuais, a tragédia teve conhecimento rápido entre amadores e entusiastas em astronomia no interior paulista. As imagens da figura abaixo, tiradas por Deivis Ortiz testemunham a dimensão do estrago. 

Imagens por Deivis Ortiz mostrando o interior do observatório de Americana após o incêndio em Outubro de 2014.
Embora a sensação de perda profunda, é importante conhecer, pela história, que observatórios astronômicos sempre foram alvos de vandalismo e acidentes desse tipo, justamente por se localizarem em lugares distantes de acesso difícil. Muitas vezes, as instalações jazem abandonadas por períodos grandes de tempo e a ação cruel dos elementos torna mais severas as exigências de manutenção preventiva e vigilância constantes. 

Um pouco de História

A ocorrência com o observatório de Americana não é única. Encontramos relatos na web de outros incidentes semelhantes envolvendo observatórios astronômicos:
  1. Ainda no século 17, o grande J. Hevelius (1611-1687) teve sua casa e observatório destruídos (1) por um incêndio em 1679 (26 de Setembro). Os instrumentos (ainda sem a presença do telescópio)  foram perdidos;
  2. O observatório de Vartiovuori, onde trabalhou o famoso astrônomo alemão Friedrich W. Argelander (2), na Turquia, esteve envolvido por um incêndio no século 19. Esse foi o grande incêndio turco de 1827 que, felizmente, não atingiu o observatório; 
  3. A noite de 5 de Fevereiro de 1997 foi marcado por um incêndio que causou a perda da biblioteca do Observatório de Pulkovo em São Petersburgo (3). Houve suspeitas de que a máfia russa estivesse envolvida no caso para promover desapropriação de terreno. Esse observatório foi construído pelo famoso astrônomo F. G. Struve em 1839 e passou por triste história de destruição com o cerco de Leningrado em 1940;
  4. O tubo e a montagem do grande refrator do observatório de Yerkes quase foram destruídos em 1893 por um incêndio em uma feira de exposições em Chicago, nos Estados Unidos (4);
  5. Em Janeiro de 2003 ocorreu um grande incêndio que destruiu completamente as instalações do grande observatório do Monte Stromlo em Camberra, Austrália (5). O observatório de Monte Stromlo foi construído em 1924 e era um dos recursos mais importantes de pesquisa australiano. 
  6. Em 2003 o fogo também ameaçou o grande telescópio Herschel de 4,2 m de diâmetro, localizado no observatório Roque de los Muchachos, nas ilhas Canárias (6).
Um canguru passei em frente a uma cúpula destruída  por incêndio em M. Stromlo, Autrália. Foto: Andrew Meares. 
Assim, o fogo é ameaça constante na vida dos observatórios astronômicos. Porém, ele nunca será a pior das ameaças porque observatórios podem ser reconstruídos em seus sítios que serão sempre ideais se se preservarem isolados e distantes. 

O que seria uma ameaça de verdade? Como curiosidade, os leitores considerem os restos do observatório construído em 1877 por Edward Dickerson (7) em Nova Iorque cuja imagem podemos ver abaixo. Esse desastre é irrecuperável porque o observatório foi cercado por prédios altíssimos, tais como o Empire State Building, seu vizinho de fundo...

Imagem aérea do observatório de E. Dickerson (7), um cientista amador que construiu este observatório em 1877 na cidade de Nova Iorque. O antigo prédio é vizinho hoje do Empire State Building. O lugar tornou-se o pior possível para se realizar observações astronômicas. Eis aqui um verdadeiro desastre para um observatório. Foto: James Ryan.
Referências

(1) Hevelius: http://www.hao.ucar.edu/education/bios/hevelius.php
(2) http://en.wikipedia.org/wiki/Vartiovuori_Observatory
(3) http://astrogeo.oxfordjournals.org/content/38/2/7.2.extract
(4) http://oneminuteastronomer.com/53/yerkes-observatory/
(5) http://www.theage.com.au/articles/2003/01/20/1042911328090.html
(6) https://www.starstryder.com/2009/08/30/of-astronomy-and-fire/
(7) Imagens de observatórios abandonados.

04 outubro 2014

Cometas em 2014: C/2012 K1 (PANSTARRS)

Imagem de Rolando Ligustri mostrando o cometa C/2012 K1 com duas caudas. Esse cometa poderá ser visto em boa parte de Outubro de 2014 como um astro matutino.
Um cometa visível em binóculos e em boas condições de observação para o hemisfério sul pode ser visto em Outubro de 2014: C/2012 K1 (PANSTARRS). Trata-se de um astro descoberto pelo telescópio Panstarrs (no Havaí) com mag. 19,7 no dia 17 de Maio de 2012.

No hemisfério sul, as condições para sua observação são particularmente favoráveis porque ele se mostra (por volta das 04:00 da manhã) como um astro bem posicionado no céu (aproximadamente 40 graus de elevação), visível em direção leste. 

Esse cometa atingiu o periélio em Agosto de 2014 e brilha em outubro com magnitude pouco acima de 7,0, podendo ser visto em pequenos telescópios e binóculos. Para tanto, o período ideal é quando a lua não se encontrar próxima (o que ocorrerá entre 08/10/2014 e 19/10/2014). No começo de Outubro, esse cometa estará numa região do céu entre as constelações da Popa (Puppis) e o Unicórnio (Monoceros)/Cão Menor (Canis Minor).

O mapa abaixo permite determinar a posição desse cometa para a segunda metade de Outubro de 2014. Ver "Referências" para a versão completa (Setembro e Outubro) desse mapa. No dia 14/10, por exemplo, o cometa será visível entre as estrelas ρ e ξ Puppis, o que facilitará sua localização.

Mapa da localização do cometa c/2012 K1 para a segunda metade de Outubro. Esse cometa passará em uma região do céu rica em aglomerados abertos.
Posição de C/2012 K1 entre estrelas da constelação de Puppis em 14 de Outubro de 2014.

Referências

  • Um mapa de sua localização pode ser obtido em PDF aqui.