09 julho 2020

Ocultação de Marte pela lua em 9 de agosto de 2020 (GMT)


Mapa IOTA para a região de observação da ocultação de marte pela lua em 9 de agosto de 2020.

Em 9 de agosto de 2020, a lua ocultará Marte para a parte sul e sudeste do Brasil conforme mostra o mapa acima, o que também inclui considerável parte sul da América do Sul (Uruguai, Argentina e parte austral do Chile). A ocultação terá seu início um pouco antes do nascer do sol.

A página da IOTA [1], fornece os horários de desaparecimento e reaparecimento para diversas localidades.

Em Brasília/DF não haverá ocultação, nem mesmo razante. Entretanto, marte se aproximará da lua  por volta das 06:15 BRT, a menos de 16" de arco segundo uma simulação Stellarium. Será uma boa ocasião para se tirar fotografias. 

Para a cidade de São Paulo/SP, o desaparecimento ocorrerá as 8:28 TU (ver Fig. 1) e o reaparecimento as 09:40 TU. O reaparecimento ocorrerá na face não iluminada da lua e ocorrerá com o sol já acima do horizonte. 

Fig. 1 Aspecto do desaparecimento de marte em 9 de agosto de 2020 como visto desde a cidade de São Paulo/SP por volta das 5:26 hora local.

Referência

04 julho 2020

Cometas em 2020: C/2020 F3 NEOWISE


Aspecto do cometa C/2020 F3 (Neowise) em 28 de julho as 18:49 BRT simulado com  o Stellarium.

Em um post anterior, dissemos que 2020 não seria um ano propício para cometas. Entretanto, ser um bom ano para cometas não depende apenas do ano, mas da sorte e, principalmente, da posição do observador.

O  cometa C/2020 F3 NEOWISE, descoberto em 27 de março último, se apresenta no início de julho como astro de magnitude próxima a zero. É uma pena, porém, que ele esteja muito próximo do sol a ponto de se mostrar apenas para observadores em posições favoráveis.

Infelizmente, esse não é um cometa que em seu máximo brilho se mostrará para observadores no hemisfério sul. Assim, o leitor no Brasil não deverá perder seu tempo tentando buscá-lo no céu, se sua posição estiver ao sul do paralelo de latitude 5 graus sul. 

Para observá-lo no hemisfério austral, teremos que esperar até, pelo menos, o final de julho. Na data, seu brilho será consideravelmente reduzido, mas ainda assim talvez se comporte como objeto visível sem auxílio de instrumentos.

A partir de 27 de julho, o cometa será visível para observadores austrais após o entardecer (por volta das 18:30), como um objeto próximo ao horizonte boreal. Passará entre Coma Berenices e Canes Venatici em 31 de julho com magnitude próxima a 4.0.

Em 14 de agosto cruzará a fronteira entre Bootes e Virgo como mostra a Fig. 1

Fig. 1 Posição do cometa F3 Neowise em 14 de agosto de 2020 para um observador em Brasília/DF. O horário é 18:30. O cometa se colocará entre Spica (Azimeq) e Arcturus.
 
Progressivamente se tornará um objeto melhor visto para observadores no hemisfério sul, ainda que seu brilho se reduza consideravelmente. Para o final de julho, um pedaço do mapa disponível no site Comet Chasing foi reproduzido abaixo, onde a posição do cometa para o período de 21 a 31 de julho é mostrada.

Pedaço do mapa do Comet Chasing mostrando a posição do Cometa C/2020 F3 no final de julho de 2020. 

Referências











11 janeiro 2020

Será que Betelgeuse (α Orionis) vai explodir?

A grande constelação de Órion. Betelgeuse é a estrela mais brilhante do 'quadrilátero' visto acima nesta foto.
Betelgeuse é a conhecida estrela vermelha da grande constelação de Órion, ou o caçador. Ela também é considerada  uma estrela grande na Astronomia, como uma 'gigante vermelha'. 

Para um observador cuidadoso e reparador, a forma da constelação de Órion é facilmente distinguível. Visto 'de ponta cabeça' desde o hemisfério sul, a figura do homem tem o seu ombro formado por duas estrelas: Bellatrix (γ Orionis) e Betelgeuse (α Orionis). O primeiro nome serviu para uma personagem do filme 'Harry Potter', mas seu significado como 'a guerreira' é antigo na astronomia. Já Betelgeuse significa 'a mão de Jalsa' (يد الجوزا , yad al-Jawza, [1]) de origem árabe. 

Recentemente, porém, o ombro do gigante apresenta-se visivelmente mais fraco.

Sobre Betelgeuse 

Betelgeuse é uma estrela variável. Isso significa que, ao longo o tempo, ela apresenta variações mais ou menos cíclicas na quantidade de luz que emite. Tecnicamente ela é uma supergigante vermelha do tipo M2 Iab [2] e dista da Terra em 700 anos-luz. Trata-se de uma variável irregular com quase 12 vezes  a massa do sol e que apresenta um dos maiores diâmetros aparentes visíveis em estrelas, o que possibilitou a observação de seu 'disco', ou melhor, seu diâmetro como limitado pela sua cronomosfera, o que depende fortemente do comprimento de onda usado para tomar uma imagem. 

Não obstante a observação de seu 'disco', não existe uma imagem clara do mecanismo que gera as pulsações. Há trabalhos que sugerem um modelo para Betelgeuse como uma grande esfera débil na superfície da qual existiriam manchas brilhantes [3]. Quando essas manchas se interpõem entre o núcleo da estrela e a Terra, seu brilho aumenta. Outros modelos explicam Betelgeuse como um sistema pulsante, com várias 'células de convecção' que seriam responsáveis pelo brilho variável. 

O fato 

Um relatório recente [4], que apresenta medidas quantitativas de brilho, indica que Betelgeuse continua sua crise de debilidade como pode ser visto na figura abaixo. Essa é a curva de luz de Betelgeuse como função do tempo em 'dias Julianos heliosféricos' (HJD). O último ponto dessa curva corresponde a 6 de janeiro de 2020. Cada unidade é um dia e,  no eixo vertical, se mostra a magnitude visual. As lacunas nesse gráfico correspondem a 'conjunções helíacas' da estrela, quando seu brilho não pôde ser medido porque estava em conjunção como sol.

Curva de brilho (magnitue visual) de Betelgeuse como medido por um time da Universidade de Villanova [4].
A estrutura da curva de brilho, embora recorrente, é irregular (um período em torno de 400 dias). Como se pode ver, todo munda já sabe que a estrela reduz seu brilho. No ciclo anterior de mínimo, sua magnitude chegou a 1.0, enquanto que hoje ela está em 1.4, o que não mais faz de Betelgeuse a mais brilhante estrela da constelação (a mais brilhante - e o leitor poderá verificar isso por si mesmo - é Rigel ou β Orionis). É importante entender que o tal mínimo pode ser devido ao fato de as manchas brilhantes estarem em outro lugar na estrela e não visiveis a nós, o que só ocorre no máximo.

O destino de nosso conhecimento sobre Betelgeuse depende inteiramente de quem acertar o melhor 'modelo' para sua superfície. Diante de diversas referências sobre o assunto [2][3], é possível ver que não há um consenso sobre a estrutura da estrela. Há previsões de que o mínimo estaria na sua fase final [5], sendo aguardado, no máximo, até fevereiro de 2020. 

Conclusão

O fato de que a estrela tenha atingido um mínimo não significa que ela está na iminência de 'explodir' como recentemente alardeado por sites da internet e revistas consideradas de divulgação científica [6]. De forma irresponsável, esse raro mínimo tem sido associado à possível explosão de Betelgeuse. 

A previsão de uma explosão depende das 'trajetórias evolutivas' [3] da estrela, o que sujeita-se fortemente os modelos estelares admitidos. De fato, apenas se esses modelos e hipóteses estiverem corretos, uma explosão da estrela seria esperada daqui a 100 mil anos [3], e criaria no céu um objeto com magnitude -12.4, mais brilhante que a lua cheia. Haveria considerável produção de Raio-X e radiação gama, mas isso não chegaria a afetar a vida na Terra pela blindagem de sua atmosfera.

Ainda assim, o leitor deve atentar para o fato de que, se isso acontecer hoje (tempo em que o leitor ler esta frase), só saberá disso daqui a mais ou menos 700 anos. Mas, se acontecer, tudo o que sabemos sobre Betelgeuse está errado...

Referências

[2] FREYTAG, Bernd; STEFFEN, Matthias; DORCH, Bertil. Spots on the surface of Betelgeuse–Results from new 3D stellar convection models. Astronomische Nachrichten, v. 323, n. 3‐4, p. 213-219, 2002.
[3] DOLAN, Michelle M. et al. Evolutionary tracks for Betelgeuse. The Astrophysical Journal, v. 819, n. 1, p. 7, 2016. https://iopscience.iop.org/article/10.3847/0004-637X/819/1/7/pdf
[5] SIGISMONDI, Costantino. Betelgeuse at the end of 2019: an historical minimum about to end. arXiv preprint arXiv:1912.12539, 2019. https://arxiv.org/ftp/arxiv/papers/1912/1912.12539.pdf
[6] Exemplos que mostram a precariedade da imprensa científica são: