01 dezembro 2014

A mitologia das Plêiades (aglomerado M45)

Constelação do Touro, mostrando as Híades e as Plêiades. Foto tirada por Ademir Xavier (Campinas/SP).

"As Plêiades cujas estrelas são estas: a amada Taigeta, 
Electra de  face escurecida, Alcíone e a brilhante Asterope, 
Celeno, Maia e Merope, que o grande Atlas gerou...
Nas montanhas de Cilene, ela (Maia) desnuda Hermes,
 o mensageiros dos deuses" 
Hesíodo, "Fragmentos de Astronomia 1'
 (from Scholiast on Pindar's Nemean 
Odea 2.16) (trans. Evelyn-White) (Épico grego do 8o ou 7o século a. C.)
Um dos agrupamentos de estrelas que mais chama a atenção no céu - desde tempos imemoriais - é o aglomerado das Plêiades. Esse conjunto de estrelas está envolto em uma nebulosidade bastante tênue que, em lugares distantes da poluição luminosa, confere ao conjunto um aspecto bastante singular. Com uso de instrumentos, essa nebulosidade ainda é pouco visível, tornando-se destacada em exposições fotográficas de longa duração. 

Segundo (1), as Plêiades foram conhecidas na antiga Grécia "como as sete ninfas filhas do titã Atlas. Sua líder era Maia, a mãe de Hermes (cujo pai era Zeus). As outras cinco também eram amadas pelos deuses, tornando-se ancestrais de várias famílias reais, incluindo as de Troia e Esparta. Quando foram perseguidas pelo gigante Órion, Zeus as colocou entre as estrelas na forma da constelação das Plêiades. Seu nome deriva do grego 'pleiôn' que significa 'bastante'." Essa, porém, não é a única versão grega para a mitologia das Plêiades.


Nomes e significado de cada uma das componentes. 
Esse asterismo não ficou sem citação, por exemplo, no Velho Testamento (Jó 9:9). Em quase todas as culturas esse aglomerado foi destacado. Assim, alguns nomes para as Plêiades são (2):
  • Mao () ou a cabeça cabeluda do tigre branco do ocidente (Chinês); 
  • Kimah: o aglomerado (כימה). (Hebreu);
  • Al-Thurayya: o aglomerado (الثريا). (Árabe);
  • Subaru: 'as reunidas'. (Japonês). Esse nome acabou virando marca de veículo;
  • Kungkarungkara: a mulher ancestral. (aborígene australiano: tribo Pitjantjatjara);
  • Khuseti: as estrelas da chuva, ou as que carregam chuva. (África do sul: tribo Khoikhoi)
  • Tianquiztli: o "mercado" ou o "lugar de encontro" (Asteca)
  • Para os antigos egípcios, as Plêiades representavam a deusa Net ou Neith, "a divina mãe e senhora do céus".
  • As ancestrais: conforme eram reverenciadas por uma antiga tribo paraguaia (Abipones).
Para os antigos celtas, as Plêiades estavam associadas aos mortos (3):
Para os povos da idade do bronze na Europa, tais como os Celtas (e, provavelmente, muito antes deles) as Plêiades estavam associadas ao luto e aos funerais já que, nessa época da história, o intervalo entre o equinócio de outono e o solstício de inverno, que era uma festividade dedicada à lembrança dos mortos, marcava a ascensão no leste desse aglomerado no céu à medida que o sol se punha a oeste. Foi por causa desse nascimento acrônimo que as Plêiades foram associadas ao luto e às lágrimas. Por causa da precessão com  a passagem dos séculos, as Plêiades não mais marcam o festival, mas a associação permaneceu e pode ser responsável pelo significado astrológico das Plêiades.
Selo sumério por volta de 2700 a. C., 
mostrando sete pontos representando 
as Plêiades. Para mais informação, ver (5).
Portanto, há uma associação entre as Plêiades e o 2 de Novembro, assim como o Halloween. Note que as Plêiades também foram chamadas "as irmãs chorosas", pois, para os povos do mediterrâneo, sua ascensão marcava o período chuvoso. De acordo com (4), há registros antigos que as Plêiades eram, na verdade, sete, mas "uma delas se foi". De fato, é possível ver a olho nu apenas seis estrelas.

Ainda segundo (4), em muitas culturas do mundo, "parece haver uma conexão", que se mostra por meio das Plêiades, "já que, para muitas dessas culturas, elas eram consideradas 'garotas' ". Registros das Plêiades podem ser encontrados em documentos e obras antiquíssimos, como o selo sumério ao lado (5). Para os Sumérios, as Plêiades eram consideradas uma "reunião de deuses".

As Plêiades hoje são consideradas como um agrupamento vizinho de estrelas, pertencendo à (também antiga) constelação do Touro.

Referências



13 novembro 2014

Sobre o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko


Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. 
Imagem de 1995 por by Herman Mikuz (Crni Vhr Observatory, Eslovênia)
A nave Rosetta e Philae fizeram história com o pouco no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko no dia 12 de Novembro de 2014. Mas, que cometa é este? No que segue abaixo, traduzimos dados sobre  a descoberta desse cometa disponível no site "Cometography" (1).

Resumo

O cometa periódico 67P/Churyumov-Gerasimenko tem um núcleo que mede de 3 a 5 quilômetros e que gira com período de 12,7h. Pertence à família dos cometas de Júpiter (cometas com períodos inferiores a 20 anos). Foi descoberto em 1969. Embora tenha período orbital de 6,55 anos, uma análise de sua órbita revelou que o período foi algo maior no passado recente. Durante os primeiros anos do Século XX, o período orbital era de 9,3 horas. Um encontro próximo de Júpiter em Fevereiro de 1959 (0,22 U. A.) reduziu o período para 6,5 anos. O cometa tem sido observado a cada retorno desde sua descoberta.

Descoberta. 

Em meados de 1969 vários astrônomos de Kiev visitaram o Instituto Astrofísico de Alma-Ata para realizar uma busca por cometas. No dia 20 de Setembro, ainda em Alma-Ata, Klim Ivanovic Churyumov, examinando placas fotográficas expostas para o cometa Comas Solá por Svetlana Ivanovna Gerasimenko do dia 11,92 de Setembro, encontrou um objeto cometário próximo ao campo da placa, que ele achou que fosse o cometa esperado. Ao voltar a Kiev, as placas passaram por exames meticulosos. Posições precisas foram determinadas para todos os objetos observados, assim como estimativas de diâmetro da coma e magnitudes fotográficas foram feitas para o cometa e para seu núcleo. No dia 22 de Outubro, percebeu-se que a posição determinada para o P/Comas Solá estava 1,8 graus de distancia do que seria esperado, com base em observações de outros observatórios. Outras inspeções mostraram que o P/Comas Solá estava na posição correta, no limite da placa fotográfica, o que significava que o outro corpo observado era um novo cometa. Estimaram sua magnitude como próxima a 13 e com uma coma com 0,6 minutos de arco de diâmetro, com uma condensação central de 0,3 minutos de arco. Havia também uma débil cauda se extendendo por 1 minuto de arco na direção PA 280 graus. 

(1969) Além das observações da descoberta feitas acima, outras imagens foram feitas em outra placa exposta por Gerasimenko no dia 9,91 de Setembro e em outra placa por Churyumov em 21,93 de Setembro. As magnitudes foram estimadas em 13 e 12 respectivamente.

(1975) Esse foi o ano de seu primeiro retorno, mas não foi uma aparição muito favorável. Astrônomos do observatório de Palomar (Califórnia, EUA) redescobriram o cometa no dia 8 de agosto de 1975 e estimaram que o núcleo tinha magnitude 19,5. Fizeram observações adicionais nos dias 9 e Setembro, 6 de Outubro e 1 de Novembro sem descrição física. Observações finais foram feitas na estação Catalina do Laboratório Planetário e Lunar (Arizona, EUA) no dia 7 de Dezembro de 1975.

(2002) O cometa foi redescoberto no dia 18 de Junho de 2002 quando apresentava magnitude 15. Seu brilho aumentou até a magnitude 12,5 por volta do começo de Outubro. O cometa foi detectado pela última vez no dia 14 de Maio, quando apresentava magnitude 22-23. A ESA (Agência Espacial Europeia) anunciou em 28 de Mairo de 2003 que uma sonda de pesquisa de cometas, a Rosetta, teria como alvo o 67P/Churyumov-Gerasimenko.

Referência
1 - http://cometography.com/pcomets/067p.html




07 novembro 2014

Chuva de meteoros Leônidas 2014

Gravura de 1833 representando a tempestade Leônidas com cerca de 100 mil meteoros por hora.
A famosa chuva de meteoros Leônidas pode apresentar boa "campanha" em 2014. Associada a restos do cometa Tempel-Tuttle, a noite de 17 para 18 de Novembro de 2014 se mostra como favorável por causa da fase da lua na data, um fino minguante.

Quantos meteoros será possível observar este ano? Isso depende de várias condições; em geral essa chuva é considerada de intensidade "moderada", o que representa uma taxa de 10 a 15 meteoros por hora (ou seja, assumindo a taxa máxima, isso representa um meteoro a cada 4 ou 5 minutos). Há que se ter paciência para conseguir ver, condições cristalinas de observação, ausência de nuvens, distância de grandes centros de poluição luminosa etc. Além disso, uma posição de observação confortável também deve ser conseguida para se evitar fadiga. 

Este ano o planeta Júpiter estará próximo da posição da radiante (figura abaixo). A posição da radiante para o horário e local indicado é de aproximadamente 33 graus de altitude. Em geral, quanto mais tarde for feita a observação, mais elevada estará a radiante, o que facilita a observação. Porém, a alvorada acaba fatalmente impedindo a observação. Portanto, talvez o melhor horário para observação será entre 4:30 e 5:00 no horário local de Campinas/SP (6:30 a 7:00 UT). Quanto mais ao norte estiver o observador, tanto melhores serão suas condições de observação. Importante, esse horário ótimo represente o melhor em termos geométricos. É difícil estimar quando se dará exatamente o "máximo" de atividade dentro do período. 

Representação do céu na madrugada do dia 18/11/14 aproximadamente as 5:00 da manhã como visto desde Campinas/SP. Nota-se a lua em fase minguante próximo ao horizonte leste. O círculo representa a posição aproximada da radiante de Leônidas. Um pouco acima está o planeta Júpiter como que a indicar a posição da radiante.
Histórico

Segundo (1):
"As Leônidas são conhecidas em produzir tempestades de meteoros. Seu cometa pai - o Tempel-Tuttle - completa uma revolução em torno do sol a cada 33 anos. Ele libera novo material quando entra o sistema solar interior e se aproxima do sol. Desde o século XIX, observadores esperam ver tempestades Leônidas a cada 33 anos, o que se iniciou com a tempestade de 1833, que, segundo se diz, produziu cerca de 100000 meteoros por hora. Outras tempestades ocorreram 33 anos depois, em 1866 e 1867. 
Previu-se uma outra para 1899, o que não aconteceu.  Somente em 1966 outra tempestade espetacular aconteceu como vista sobre as Américas. Em 1966, observadores na parte sul dos Estados Unidos reportaram ter visto de 40 a 50 meteoros por segundo (isto é, 2400 a 3000 meteoros por minuto) durante um intervalo de 15 minutos na manhã do dia 17 de Novembro de 1966."
Interessante que houve uma terrível epidemia de malária entre 1866 e 1868 que dizimou a população da Ilha Maurícia (2) e que foi associada, pelos moradores da ilha, à ocorrência da tempestade de meteoros de 1866. Este ano, com a epidemia de Ebola na África Ocidental, a chuva de Leônidas não servirá como anúncio apocalíptico.

Além de condições geométricas para a posição dos observadores em relação ao sol, a lua etc, são importantes as condições de alinhamento dinâmico entre a órbita da Terra e a dos dejetos do cometa, o que somente ocorre sob condições especiais e algo imprevisíveis.

Referências

(1) http://earthsky.org/space/everything-you-need-to-know-leonid-meteor-shower
(2) Malaria, Communicable diseases control unit, ministry of Health and Quality of Live.