19 dezembro 2014

Alguns eventos astronômicos em 2015

Sem dúvida, o grande acontecimento do ano a ser noticiado pela mídia será a visita que a sonda New Horizons fará ao último planeta do Sistema Solar, Plutão. O evento está marcado para 14 de Julho.
Quais serão os principais eventos no céu em 2015? Abaixo temos uma lista de eventos já previstos, muitos deles a serem comentados e detalhados ao longo de vários posts em 2015 antes de acontecerem. No que segue abaixo, faltam informações sobre os cometas de 2015 que serão postadas oportunamente em um artigo dedicado.

O grande destaque do ano é para o eclipse total da Lua em 28 de Setembro que será plenamente visível no Brasil e a visita da sonda New Horizons a Plutão a 14 de Julho.

Janeiro

A 14 de Janeiro ocorre a máxima elongação oriental do planeta Mercúrio facilitando sua observação com a chegada da noite.

Fevereiro

Exploração espacial: em algum momento de Fevereiro, a sonda Dawn irá se encontrar como o asteroide Ceres. Ceres não é bem uma "pedra" solta no espaço, mas um verdadeiro mini planeta (ele tem 950 km de diâmetro). Ela passará vários meses estudando esse corpo celeste e enviando imagens à Terra.

No dia 6 de Fevereiro ocorre a oposição do planeta Júpiter. É a ocasião perfeita para observação desse planeta.

Anoitecer do dia 20 de Fevereiro com uma conjunção entre Vênus e Marte. 
A Lua irá prestigiar o evento, aproximando-se da dupla.
Haverá uma conjunção entre Vênus e Marte no dia 20-22 de Fevereiro com a fina lua crescente nas proximidades. A imagem acima é uma previsão da disposição desses corpos celestes para o dia 20/2 as 20:00 (Hora de Brasília) como visto desde Campinas/SP.

Março

Teremos um eclipse total do sol no dia 20 de Março. Infelizmente, esse eclipse projetará a sombra numa posição muito setentrional da Terra, de forma que não será visível no Brasil.

Declinações dos planetas conforme consta no Astronomical Almanac for the Year 2015 (ISSN 0737-6421). Por meio desse gráfico, é possível ver que Saturno terá uma boa visibilidade no hemisfério sul (declinação -20 graus), enquanto que Júpiter será mais bem visto no hemisfério norte. (Imagem disponível via Google).

Abril

A Lua cheia de 4 de Abril será marcada por um eclipse total da lua que será desfavorável ao hemisfério ocidental. No Brasil ele será visto com a lua se pondo à Oeste.

A chuva de meteoros Líridas terá seu máximo em 22 e 23 de Abril. Associados ao cometa C/1861 G1 Thatcher, essa chuva apresentará uma frequência de aproximadamente 20 meteoros por hora. Como a lua nova ocorre no dia 18, é provável que a data seja favorável a sua observação, desde que feita de lugares escuros.

Maio

A chuva de meteoros Eta Aquáridas ocorre em 5-6 de Maio. Essa chuva é conhecida por frequências de até 60 meteoros por hora e por ser associada ao famoso cometa Halley, Ela também é apreciável no hemisfério sul. Infelizmente em 2015 a lua cheia será um problema, impossibilitando a observação de meteoros mais débeis. 

No dia 23 de Maio ocorre oposição de Saturno, marcando o período ideal (alguns meses antes e depois dessa data) para observação desse planeta.

Junho

A 6 de Junho ocorre a máxima elongação oriental do planeta Vênus facilitando sua observação ao anoitecer.

Julho

Exploração espacial: No dia 14 de Julho ocorrerá a grande aproximação da sonda New Horizons do planeta Plutão. Se tudo der certo será uma data memorável na história da Astronomia já que Plutão é um dos planetas que ainda não foi explorado por nenhum engenho humano.

Entre 28 e 29 de Julho ocorre o pico da chuva de meteoros Delta Aquáridas. Associados a restos dos cometas Marsden e Kracht, essa chuva apresenta uma taxa de 20 meteoros por hora. Novamente a proximidade da lua cheia (que acontece no dia 31) irá prejudicar a observação dessa chuva.

Agosto

Entre 12 e 13 de Agosto ocorre o pico da chuva de meteoros Perseidas. Associados a restos do cometa Swif-Tutle, essa chuva apresenta uma taxa de 60 meteoros por hora. Este ano o fino crescente lunar (a lua nova ocorre em 14 de Agosto) não atrapalhará sua observação, recomendando-se ainda assim um lugar escuro para sua melhor apreciação.

Setembro

O dia 1 de Setembro marcará a oposição do planeta Netuno. Por estar muito distante, os dias em torno dessa data são os mais favoráveis para sua observação, o que requer o uso de um telescópio.

No dia 13 de Setembro ocorrerá a lua nova e um eclipse parcial do sol que não poderá ser visto no Brasil (as melhores regiões de observação são sul da África e Antártica).

No dia 28 de Setembro ocorrerá aquele que será provavelmente o maior evento astronômico do ano. Um eclipse total da lua será plenamente visível no hemisfério Ocidental, em particular no Brasil e na Europa Ocidental (Portugal).

Outubro

A 11 de Outubro, ocorrerá a oposição do planeta Urano. As noites em torno dessa data marcam os melhores momentos para apreciar este planeta por meio de um telescópio.

Entre 21-22 de Outubro ocorre a chuva de meteoros Orionidas, associadas ao cometa Halley. Com um pico de 20 meteoros por hora, há chance de observação de alguns meteoros, considerando que a lua estará em quarto crescente (lua nova em 13 de Outubro).

Conjunção entre Vênus e Júpiter na madrugada do dia 26 de Outubro.
Um pouco antes do Halloween, mais precisamente a 26 de Outubro, haverá uma conjunção entre Júpiter e Vênus. Na verdade, a conjunção é tripla, com Marte nas cercanias. A imagem acima é da madrugada do dia 26 por volta das 6:00 da manhã como visto desde Campinas/SP.

Ainda no dia 28 de Outubro, Marte se aproximará ainda mais de Vênus e Júpiter em uma conjunção tripla, visível pouco antes do nascer do sol. 

Novembro

A madrugada de 17-18 de Novembro marcará a presença da chuva de meteoros Leônidas. Associada ao cometa Tempel-Tuttle, este ano haverá pouca influência da lua, que estará no período de nova em 11 de Novembro.  As Leônidas já se apresentaram como tempestades, mas, em 2015, a taxa média esperada é de 15 meteoros por hora.

Dezembro

O dia 7 de dezembro marca a presença de uma interessante conjunção da Lua e Vênus. O momento de maior aproximação se dará por volta das 17:00 da tarde do dia 7, quando a lua estará abaixo do horizonte para o Brasil. Com alguma paciência na busca da lua, essa conjunção poderá ser vista por volta das 15:00 (em pleno dia), procurando-se por Vênus. Recomenda-se o uso de um binóculo de baixo aumento (e grande campo).

Na madrugada 13-14 ocorrerá a famosa chuva de meteoros Gemínidas. Ela é considerada a "rainha" das chuvas, com picos que beiram os 120 meteoros por hora associados à passagem de restos asteroide 3200 Feton. Este ano a lua não atrapalhará o evento, mas maiores informações são necessárias sobre as condições de observação dessa chuva para o hemisfério sul. Aguardem!

O dia 25 de Dezembro (Natal) é marcado por uma lua cheia.

Mais detalhes sobre eventos astronômicos em 2015 serão postados ao longo do ano neste blog. Aguardem.

Referências









01 dezembro 2014

A mitologia das Plêiades (aglomerado M45)

Constelação do Touro, mostrando as Híades e as Plêiades. Foto tirada por Ademir Xavier (Campinas/SP).

"As Plêiades cujas estrelas são estas: a amada Taigeta, 
Electra de  face escurecida, Alcíone e a brilhante Asterope, 
Celeno, Maia e Merope, que o grande Atlas gerou...
Nas montanhas de Cilene, ela (Maia) desnuda Hermes,
 o mensageiros dos deuses" 
Hesíodo, "Fragmentos de Astronomia 1'
 (from Scholiast on Pindar's Nemean 
Odea 2.16) (trans. Evelyn-White) (Épico grego do 8o ou 7o século a. C.)
Um dos agrupamentos de estrelas que mais chama a atenção no céu - desde tempos imemoriais - é o aglomerado das Plêiades. Esse conjunto de estrelas está envolto em uma nebulosidade bastante tênue que, em lugares distantes da poluição luminosa, confere ao conjunto um aspecto bastante singular. Com uso de instrumentos, essa nebulosidade ainda é pouco visível, tornando-se destacada em exposições fotográficas de longa duração. 

Segundo (1), as Plêiades foram conhecidas na antiga Grécia "como as sete ninfas filhas do titã Atlas. Sua líder era Maia, a mãe de Hermes (cujo pai era Zeus). As outras cinco também eram amadas pelos deuses, tornando-se ancestrais de várias famílias reais, incluindo as de Troia e Esparta. Quando foram perseguidas pelo gigante Órion, Zeus as colocou entre as estrelas na forma da constelação das Plêiades. Seu nome deriva do grego 'pleiôn' que significa 'bastante'." Essa, porém, não é a única versão grega para a mitologia das Plêiades.


Nomes e significado de cada uma das componentes. 
Esse asterismo não ficou sem citação, por exemplo, no Velho Testamento (Jó 9:9). Em quase todas as culturas esse aglomerado foi destacado. Assim, alguns nomes para as Plêiades são (2):
  • Mao () ou a cabeça cabeluda do tigre branco do ocidente (Chinês); 
  • Kimah: o aglomerado (כימה). (Hebreu);
  • Al-Thurayya: o aglomerado (الثريا). (Árabe);
  • Subaru: 'as reunidas'. (Japonês). Esse nome acabou virando marca de veículo;
  • Kungkarungkara: a mulher ancestral. (aborígene australiano: tribo Pitjantjatjara);
  • Khuseti: as estrelas da chuva, ou as que carregam chuva. (África do sul: tribo Khoikhoi)
  • Tianquiztli: o "mercado" ou o "lugar de encontro" (Asteca)
  • Para os antigos egípcios, as Plêiades representavam a deusa Net ou Neith, "a divina mãe e senhora do céus".
  • As ancestrais: conforme eram reverenciadas por uma antiga tribo paraguaia (Abipones).
Para os antigos celtas, as Plêiades estavam associadas aos mortos (3):
Para os povos da idade do bronze na Europa, tais como os Celtas (e, provavelmente, muito antes deles) as Plêiades estavam associadas ao luto e aos funerais já que, nessa época da história, o intervalo entre o equinócio de outono e o solstício de inverno, que era uma festividade dedicada à lembrança dos mortos, marcava a ascensão no leste desse aglomerado no céu à medida que o sol se punha a oeste. Foi por causa desse nascimento acrônimo que as Plêiades foram associadas ao luto e às lágrimas. Por causa da precessão com  a passagem dos séculos, as Plêiades não mais marcam o festival, mas a associação permaneceu e pode ser responsável pelo significado astrológico das Plêiades.
Selo sumério por volta de 2700 a. C., 
mostrando sete pontos representando 
as Plêiades. Para mais informação, ver (5).
Portanto, há uma associação entre as Plêiades e o 2 de Novembro, assim como o Halloween. Note que as Plêiades também foram chamadas "as irmãs chorosas", pois, para os povos do mediterrâneo, sua ascensão marcava o período chuvoso. De acordo com (4), há registros antigos que as Plêiades eram, na verdade, sete, mas "uma delas se foi". De fato, é possível ver a olho nu apenas seis estrelas.

Ainda segundo (4), em muitas culturas do mundo, "parece haver uma conexão", que se mostra por meio das Plêiades, "já que, para muitas dessas culturas, elas eram consideradas 'garotas' ". Registros das Plêiades podem ser encontrados em documentos e obras antiquíssimos, como o selo sumério ao lado (5). Para os Sumérios, as Plêiades eram consideradas uma "reunião de deuses".

As Plêiades hoje são consideradas como um agrupamento vizinho de estrelas, pertencendo à (também antiga) constelação do Touro.

Referências



13 novembro 2014

Sobre o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko


Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. 
Imagem de 1995 por by Herman Mikuz (Crni Vhr Observatory, Eslovênia)
A nave Rosetta e Philae fizeram história com o pouco no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko no dia 12 de Novembro de 2014. Mas, que cometa é este? No que segue abaixo, traduzimos dados sobre  a descoberta desse cometa disponível no site "Cometography" (1).

Resumo

O cometa periódico 67P/Churyumov-Gerasimenko tem um núcleo que mede de 3 a 5 quilômetros e que gira com período de 12,7h. Pertence à família dos cometas de Júpiter (cometas com períodos inferiores a 20 anos). Foi descoberto em 1969. Embora tenha período orbital de 6,55 anos, uma análise de sua órbita revelou que o período foi algo maior no passado recente. Durante os primeiros anos do Século XX, o período orbital era de 9,3 horas. Um encontro próximo de Júpiter em Fevereiro de 1959 (0,22 U. A.) reduziu o período para 6,5 anos. O cometa tem sido observado a cada retorno desde sua descoberta.

Descoberta. 

Em meados de 1969 vários astrônomos de Kiev visitaram o Instituto Astrofísico de Alma-Ata para realizar uma busca por cometas. No dia 20 de Setembro, ainda em Alma-Ata, Klim Ivanovic Churyumov, examinando placas fotográficas expostas para o cometa Comas Solá por Svetlana Ivanovna Gerasimenko do dia 11,92 de Setembro, encontrou um objeto cometário próximo ao campo da placa, que ele achou que fosse o cometa esperado. Ao voltar a Kiev, as placas passaram por exames meticulosos. Posições precisas foram determinadas para todos os objetos observados, assim como estimativas de diâmetro da coma e magnitudes fotográficas foram feitas para o cometa e para seu núcleo. No dia 22 de Outubro, percebeu-se que a posição determinada para o P/Comas Solá estava 1,8 graus de distancia do que seria esperado, com base em observações de outros observatórios. Outras inspeções mostraram que o P/Comas Solá estava na posição correta, no limite da placa fotográfica, o que significava que o outro corpo observado era um novo cometa. Estimaram sua magnitude como próxima a 13 e com uma coma com 0,6 minutos de arco de diâmetro, com uma condensação central de 0,3 minutos de arco. Havia também uma débil cauda se extendendo por 1 minuto de arco na direção PA 280 graus. 

(1969) Além das observações da descoberta feitas acima, outras imagens foram feitas em outra placa exposta por Gerasimenko no dia 9,91 de Setembro e em outra placa por Churyumov em 21,93 de Setembro. As magnitudes foram estimadas em 13 e 12 respectivamente.

(1975) Esse foi o ano de seu primeiro retorno, mas não foi uma aparição muito favorável. Astrônomos do observatório de Palomar (Califórnia, EUA) redescobriram o cometa no dia 8 de agosto de 1975 e estimaram que o núcleo tinha magnitude 19,5. Fizeram observações adicionais nos dias 9 e Setembro, 6 de Outubro e 1 de Novembro sem descrição física. Observações finais foram feitas na estação Catalina do Laboratório Planetário e Lunar (Arizona, EUA) no dia 7 de Dezembro de 1975.

(2002) O cometa foi redescoberto no dia 18 de Junho de 2002 quando apresentava magnitude 15. Seu brilho aumentou até a magnitude 12,5 por volta do começo de Outubro. O cometa foi detectado pela última vez no dia 14 de Maio, quando apresentava magnitude 22-23. A ESA (Agência Espacial Europeia) anunciou em 28 de Mairo de 2003 que uma sonda de pesquisa de cometas, a Rosetta, teria como alvo o 67P/Churyumov-Gerasimenko.

Referência
1 - http://cometography.com/pcomets/067p.html