07 setembro 2016

Ocultação de Mercúrio pela Lua (29 de Setembro de 2016)

Simulação Stellarium do evento de ocultação de Mercúrio pela Lua em 29/9/2016, conforme visto desde Brasília DF, por volta das 5:10 TL. A Lua é aqui representada por seu limbo na parte superior. Mercúrio estará em fase. Será um fenômeno de difícil observação, pois o par Mercúrio-Lua estarão a menos de dois graus do horizonte oriental.

A aurora do dia 29 de setembro de 2016 será marcada por uma ocultação do planeta Mercúrio pela Lua, quando apenas a imersão de Mercúrio poderá ser vista. Esse fenômeno não consta no site da IOTA (International Occultation and Timing Association) que, por uma razão que desconhecemos, não lista nenhuma ocultação de Mercúrio (1). Trata-se do último evento desse tipo em 2016, de uma série de três ocultações (2), todas elas visíveis apenas no hemisfério sul (que ocorreram em 3/6/2016 e 4/8/2016, mas que não foram visíveis no Brasil). 

Fig 1 Mapa da projeção da região onde a ocultação será visível, que cobre boa parte do território brasileiro.
Desta vez, o mapa da Fig. 1 traz a região onde ela será visível, o que favorece o Brasil. Entretanto, a observação desse fenômeno será algo difícil porque a Lua se encontrará muito baixa no horizonte oriental, em fase de um fino minguante. Para a região de Brasília, Mercúrio e a Lua poderão ser vistos separados antes das 5:10 TL, após o que Mercúrio será ocultado. Na ocasião, Mercúrio estará apenas a 1 grau e 49' de elevação em relação ao horizonte, o que implica numa proximidade muito grande com a bruma da aurora (qualquer nuvem próxima ao horizonte poderá impedir a visualização do fenômeno). Ainda assim, os instantes que antecedem a ocultação serão os melhores momentos para algum registro fotográfico.

Referências


09 agosto 2016

Conjunção Venus-Júpiter (27 de agosto de 2016)


Conforme divulgado em nosso post "Alguns eventos astronômicos em 2016", haverá uma conjunção muito fechada de Vênus e Júpiter no entardecer do dia 27 de Agosto de 2016. Conjunções planetárias são efemérides bastante frequentes, porém, poucas se destacam por estreita "distância aparente" atingida pelos participantes planetários. Como sempre, o alinhamento (o que também exige posicionamento da Terra) é puro efeito de perspectiva, sendo que a "distância real" dos planetas envolvidos é bastante grande, considerando-se as dimensões do sistema solar. No caso deste evento, a distância aparente entre os principais componentes será da ordem de cinco minutos de arco.

Qual será a magnitude aparente do par?

A conjunção nos remete a uma interessante questão: dados dois objetos "estelares" com magnitudes aparente m1 e m2, se eles se aproximarem até que não possam ser separados a vista desarmada, qual é a magnitude resultante, m ?

Como é esperado, o fluxo luminoso conjunto do par será dado pela soma dos fluxos. Em termos de magnitudes, o fluxo luminoso é

F/F0 = 10^[m0-m]*2/5                    (1)

onde F0 é um fluxo de referência com magnitude m0 de referência. O fluxo total do par será dado portanto por

(F1+F2)/F0=10^[m0-m1]*2/5+10^[m0-m2]*2/5                   (2)

Aplicando a (1) para a magnitude combinada do par (e eliminado o termo que depende de m0), então:

m = -5/2*log[10^(-2*m1/5)+10^(-2m/5)]                (3)

A relação (3) fornece a equação procurada (ver também 1), o que mostra que m não é dado como uma função "linear" das magnitudes de cada componente. 

As circunstâncias da efeméride predizem que a separação máxima observada na data será de 4'40'' e as magnitudes de Vênus e Júpiter serão, respectivamente, -3.91 e -1.68 (sem considerar o efeito da atmosfera). Portanto, usando a Eq. (3) acima encontramos que a magnitude do par será de -4.04 (o que ainda assim é menor que o brilho máximo de Vênus, que chega a -5.0).

Para Brasília, DF, o fenômeno poderá ser visto no horizonte ocidental, ao cair da tarde do dia 27 de Agosto, sendo mais facilmente observado depois das 18 h do tempo local (o par estará visível acima do horizonte até aproximadamente 19:20). O planeta Mercúrio também poderá ser visto ladeando o encontro dos gigantes de brilho no céu, o que mostra que essa conjunção será, na verdade, tríplice.

Aspecto da conjunção no dia 27. O evento, na verdade, é uma conjunção tríplice, pois Mercúrio também estará próximo. 

Referência

1 - Meeus, J. H. (1991). Astronomical algorithms. Willmann-Bell, Incorporated.

26 julho 2016

A pesquisa de impacto de meteoros na lua

Registro de um impacto lunar (ponto branco ou "flash" na borda inferior da lua), feito por Iten (ver 3).
Dentro da abrangência das buscas e investigações feitas em astronomia prática está a observação e registro de impacto de meteoros na lua. Há quem pense que, por estar muito distante, a queda de um meteoro de alguns quilos no solo lunar seja de difícil observação. Não é bem assim. Essa atividade é complementar ao registro detalhado de chuvas de meteoros ao longo dos diversos máximos anuais. Contrário, porém, a essa última tarefa, o registro de impactos precisa do auxílio de telescópios e câmeras, o que abre um campo de investigação aos que detêm esses instrumentos. 

Na verdade, há um programa inteiro da NASA dedicado a esse estudo e a atividade está ao alcance de astrônomos amadores:

(1) http://www.nasa.gov/centers/marshall/news/lunar/#.V5eSL2grKUk

O projeto "Impactos lunares" tem como missão:
  • Usar observações de telescópios terrestre do lado escuro da lua para estabelecer as taxas e tamanhos de grandes meteoros (de massa maior que algumas dezenas de grama), que atingem o solo lunar;
  • Relevância: o escritório de ambiente de meteoros está incumbido do desenvolvimento de uma compreensão do ambiente de meteoros que nos cerca. O monitoramento de impactos lunares permite a detecção de meteoros com massa acima de algumas dezenas de gramas (até vários quilos) que são difíceis de se medir com outras técnicas. 
A página citada traz uma lista de potenciais impactos. O "lado escuro da lua" corresponde à superfície voltada para a Terra que ainda não está iluminada, portanto, essa atividade é melhor realizada entre o quarto minguante e crescente, excetuando o período de lua nova, por causa do brilho solar. Segundo a referência citada, existem 10-12 noites no mês que satisfazem tais condições. A observação usando a superfície da lua aumenta a "área de coleta" (além da medida de queda de meteoros usando radares terrestres), o que é importante para caracterizar o ambiente (em termos de detritos naturais) onde circulam diversos engenhos espaciais. Telescópios de 14 polegadas são usados nesse programa. 
Telescópio usado pela NASA (aos pares)
para busca por eventos de impacto lunar.

Obviamente, a probabilidade de se observar um impacto desses cresce nas proximidades dos máximos das chuvas de meteoros. Logo, deve-se prestar atenção para as ocasiões quando esses máximos coincidem com as fases lunares ideais de observação. 

Deve-se, porém, compreender que a atividade de registro dessas quedas deve ser pareada, ou seja, feita em conjunto com um parceiro, que também deverá registrar a ocorrência simultaneamente. Esse expediente é para evitar que um flash registrado na superfície lunar seja imediatamente interpretado como uma ocorrência de queda, quado se trata apenas de ruído no sistema de registro. Também parece evidente que, porque a atividade de observação é bastante tediosa, o amador deve contar com um sistema de gravação e análise digitalizada de imagens. 

A tarefa de registro envolve a determinação do brilho aparente produzido pelo impacto, a partir do que pode-se inferir valores para o tamanho do meteoro, conhecido um "chute" para sua velocidade. Isso é mais fácil nas ocasiões dos chuveiros, já que assume-se que o impacto é causado por um potencial integrante do "bando" de meteoros, quando suas velocidades são conhecidas por razões orbitais. 

A revista "Selenology Today" (2) traz diversos artigos escritos por amadores sobre o registro desses impactos, além de inúmeras dicas e outras informações sobre as técnicas de observação.

Referências

(2) http://digilander.libero.it/glrgroup/
(3) http://www.lunar-captures.com//Selenology_Today/selenologytoday23.pdf