15 abril 2014

Cometas em 2014: C/2012 X1 (LINEAR)

Fig. 1 C/2012 X1 (LINEAR) numa imagem por Gianluca Masi, Ceccano, Itália em 25 de Outubro de 2013. Projeto telescópio virtual, www.virtualtelescope.eu.
Cometas são, verdadeiramente, objetos imprevisíveis. O fracasso do ISON pode reduzir o interesse de muitas pessoas pelos cometas, ao mesmo tempo que a imprevisibilidade deles os torna objetos fascinantes, o que contribui para restaurar esse mesmo interesse.

Tal é o caso do cometa C/2012 X1 (LINEAR) que, embora não possa ser visto à vista desarmada, está brilhante o suficiente para ser observado com um telescópio de pequeno porte. Isso só é possível porque esse cometa passou por um "outburst" (ou seja, um aumento súbito de brilho) em outubro de 2013. Em abril de 2014, ele continua a ser o cometa mais brilhante até abril, embora já tenha passado o periélio.

A curva de brilho é vista na Fig. 2 e mostra um comportamento bastante singular. Ainda em abril, esse cometa pode ser visto no hemisfério sul como um astro matutino, de magnitude 8.5.

Fig. 2 Curva de brilho do cometa C/2012 X1 (LINEAR) com a contribuição de vários observadores e produzida por Seiichi Yochida (http://www.aerith.net/index.html). Uma mudança súbita de brilho ocorrida em Outubro de 2013, deixou esse objeto ao alcance de pequenos instrumentos.
Mapas de observação

Um mapa de observação do cometa C/2012 X1 (LINEAR) pode ser baixado aqui. Ele se encontra entre Aquário e Capricórnio, distante 1,8 unidades astronômicas da Terra, com uma cabeleira (coma) da ordem de 4 minutos de arco. As madrugadas do final de abril de 2014 sejam talvez mais propícias para sua observação por contarem com influência evanescente do brilho da lua. No dia 25 de abril de 2014, por exemplo, ele poderá ser encontrado próximo a estrelas de 6a magnitude (17 e 19 Aqr) conforme mostra as Figs. 3 e 4. A lua estará baixa no horizonte leste, próxima ao planeta Vênus.

Fig. 3 Posição do cometa C/2012 X1 no dia 25 de abril de 2014, próximo às estrelas 17 Aqr e 19 Aqr na constelação do Aquário. As 05:00 do tempo local, por exemplo, nas latitudes -23 graus, ele se encontrará quase que 60 graus acima do horizonte, facilitando sua observação.

Fig. 4 posição do cometa C/2012 X1 entre 25 de abril a 13 de maio de 2014. O horário é 04:00 para a cidade de São Paulo. Sofware Cartes du Ciel.

Não se deve esperar um espetáculo porque o C/2012 X1 não é reconhecidamente um cometa brilhante. A posição no céu (relativamente alto no céu do hemisfério sul), porém, contribui para sua localização. Uma variação de 6 pontos no brilho já demonstra que o C/2012 X1 está se esforçando para fazer uma bela passagem pelo centro do sistema solar.

Referências

01 abril 2014

Eclipse da Lua (15 de abril de 2014)

Fig. 1 Detalhes da geometria da sombra da Terra e posição da lua no eclipse lunar segundo (1).
Conforme já divulgamos aqui anteriormente (2), haverá um eclipse total da Lua na madrugada do dia 15 de abril de 2014. Em nosso post anterior (2), destacamos:
A imersão da sombra terrestre na lua, para moradores do fuso -3h (correspondente ao horário de Brasília) ocorrerá a partir da 3:00, com a lua aproximadamente a 45 graus de elevação em relação ao horizonte. Às 04:00 ela já estará completamente eclipsada, e terá, como companheiros no céu, Spica (α Vir) e Marte, já em direção ao horizonte oeste. A sombra começará a sair da superfície da lua a partir de 05:26. É importante notar que o final do eclipse não será visível no Brasil.
O mais interessante da ocorrência desse eclipse é o escurecimento do céu, que permitirá ver a olho nu estrelas que são bastante ofuscadas com a presença da lua cheia. Também brilhante será a presença de Marte, com mag. -1,4, já passada a  data de oposição. 
Fig. 2 Lua quase completamente eclipsada a 15/4/2014, 04:00 tempo de Brasília, tendo Spica (α Vir) como companheira a aproximadamente 2 graus de distância.  O conjunto por si forma uma espécie de conjunção inusitada, com forte contraste de cores.
Conforme a Ref. (3), o diâmetro aparente do disco lunar está próximo ao seu valor médio porque o momento do eclipse se dará entre o apogeu e o perigeu lunar. Esse será o eclipse de número 56 da série de Saros que começou em 14 de Agosto de 1022. Embora esse não seja uma passagem "central" pela sombra da Terra, ele durará cerca de 78 minutos. Ainda segundo o autor da Ref. (3):
O aparecimento de Spica próximo da lua lembra o autor do eclipse lunar de 13 de abril de 1968, quando Spica surgiu a 1,3 graus a sudoeste de lua eclipsada. O brilho azulado de Spica fez então um belo contraste com a vermelhidão da lua.
Trata-se, também, do primeiro de uma série de eclipses lunares que ocorrerão em 2014 e 2015 (4). Essa será também uma oportunidade para realizar fotometria do eclipse (Fig. 3), usando o método que descrevemos anteriormente em nosso artigo "Fotometria lunar no eclipse penumbral de 18 de Outubro de 2013" (5). Dessa vez, porém, o intervalo de tempos de exposição terá que ser maior por causa do escurecimento mais pronunciado do disco lunar.

Fig. 3 Um arranjo possível (câmera DSLR e tripé) para fotometria durante o eclipse. Para mais detalhes, ver Ref. (5).
Referências

(1) http://eclipse.gsfc.nasa.gov/OH/OHfigures/OH2014-Fig01.pdf

(2) Blog astronomiapratica: Alguns eventos astronômicos em 2014

(3) http://eclipse.gsfc.nasa.gov/OH/OH2014.html

(4) Outro eclipse lunar ocorrerá a 8 de Outubro de 2014, que será principalmente visto no meio do oceano Pacífico e, portanto, desfavorável ao Brasil.

(5) http://astronomiapratica.blogspot.com.br/2013/10/fotometria-lunar-no-eclipse-penumbral.html

14 março 2014

Oposição de Marte (Abril de 2014)

Desenhos por Ademir Xavier na oposição de Marte em 23 de Setembro de 1988 feitos com um refletor Newtoniano de 120 mm. Os tempos mostrados estão em TU(*). Diário de observação da época: "Esta noite, as condições de observação estavam boas. Novos caracteres foram vistos: presença de região mais escurecida a oeste de Syrtis Major e também uma região clara ao pé do mesmo lugar, ou seja tal região assinalada era sensivelmente mais clara que as regiões vizinhas."
Atenção! - É importante considerar que Marte será um bom alvo para observações por telescópios até, pelo menos, meados de maio de 2014 e não apenas no dia 8 de abril!
Conforme anunciamos anteriormente, este ano haverá uma oposição de Marte. O evento é relevante porque esse planeta só se encontra em oposição a cada dois anos. 

Marte estará em oposição (isto é, na linha Sol-Terra-Marte) por um mês e meio e poderá ser observado bem, pois seu diâmetro será maior que dez segundos de arco. O máximo será alcançado de 12 a 17 de Abril de 2014 (aproximadamente 15"). Para observadores do hemisfério norte, essa será a última vez que ele estará bem alto acima do horizonte para um oposição favorável. Gradativamente até 2020, ele se tornará um objeto mais apropriado para observação no hemisfério sul.

Marte estará na constelação da Virgem na oposição de 2014 (Fig. 3). No dia 14 de Abril, por exemplo, haverá um "alinhamento" entre Marte, a lua e a estrela Spica (alfa da Virgem).

Estação do ano em Marte

Começa o verão no hemisfério norte de Marte em fevereiro (de nosso ano terráqueo). Portanto, a estação que ocorrerá em Marte será o verão que mostrará sua face para a Terra este ano. A calota polar norte estará reduzida a um tamanho mínimo. A oposição deste ano será semelhante a de 2012.

O que se pode ver

Munido de um telescópio de 200 mm a 300 mm de diâmetro, algumas características mais marcantes da topografia marciana poderão ser contempladas dependendo das condições de observação (ver abaixo). Um exemplo são as nuvens orográficas (Fig. 1) sobre os grandes vulcões marcianos (em Tarsis e Elysium) que devem durar até Junho. 

Fig. 1 Núvens orográficas em Marte como vistas em 2012. Para sua observação é recomendado um instrumento de grande abertura (> 200 mm de diâmetro). Fonte: Christophe Pellier.
Segundo C. Pellier (1), uma fenômeno que pode ser visto no planeta é o cinturão de nuvens de afélio. Trata-se de uma ocorrência muito mais sutil e que se vê na atmosfera ao redor do planeta quando ele está mais afastado do sol.

Outros fenômenos atmosféricos que podem ser vistos durante a oposição são:
  • Aparecimento de geadas na região de Hellas (Fig. 2). Esse é um vasto platô na região sul de Marte na mesma longitude de "Syrtis Major", que é uma característica facilmente reconhecida por telescópio. Em geral, muitos observadores acabam confundindo o branco observado nessa região com a calota polar. Não podemos nos esquecer que é inverno no hemisfério sul de Marte, o que favorece a formação de geadas.
  • Aparecimento de neblinas matutinas/vespertinas. Próximo ao limbo (separador entre dia e noite) pode ser possível observar esbranquecimentos que desaparecem rapidamente. De acordo com C. Pellier (1), as formações mais espetaculares ocorrem na região de Tharsis que permite a essa região elevada se destacar visualmente.
  • Núvens de grande altitude. De difícil observação, trata-se de nuvens elevadas iluminadas pelo sol sobre regiões ainda escuras (noite) de Marte. Para saber mais, consulte a Ref. (3). Foram observadas em 2012. 

Fig. 2 Mapa da superfície de Marte com características reconhecíveis por telescópio.Fonte: (2). Sul está em cima.
Condições de observação

Ter um bom telescópio (de grande abertura, boa óptica e bem colimado) não é a única condição para se observar os fenômenos acima descritos. É necessário também aguardar pelo melhor momento de observação, não só no período de maior proximidade, mas, ao  longo da noite e madrugada, por momentos em que a atmosfera se mostre menos agitada.

Essa condição é fundamental para se observar Marte porque, por causa de sua cor, se mostra como um objeto de baixo contraste ao olho humano. Naturalmente, câmeras de vídeo poderão registrar imagens nítidas e softwares especiais poderão reduzir a quantidade de ruído provocado pela atmosfera, de forma a se produzir belas imagens de planeta vermelho. 

Fig. 3 Posição de Marte junto à Lua e Spica no quadrilátero da constelação da Virgem em 14 de Abril de 2014. Essa configuração corresponde a aproximadamente 21:00 (horário de Brasília. Nessa época, Marte está mais próximo da Terra.

(*) TU = Tempo Universal

Referências

(1) What can we see on Mars this year? - http://www.planetary-astronomy-and-imaging.com/en/2014-mars/
(2) http://www.astro-tom.com/getting_started/mars.htm
(3) "A martian stumper" - http://exosky.net/exosky/?p=1606