14 março 2014

Oposição de Marte (Abril de 2014)

Desenhos por Ademir Xavier na oposição de Marte em 23 de Setembro de 1988 feitos com um refletor Newtoniano de 120 mm. Os tempos mostrados estão em TU(*). Diário de observação da época: "Esta noite, as condições de observação estavam boas. Novos caracteres foram vistos: presença de região mais escurecida a oeste de Syrtis Major e também uma região clara ao pé do mesmo lugar, ou seja tal região assinalada era sensivelmente mais clara que as regiões vizinhas."
Atenção! - É importante considerar que Marte será um bom alvo para observações por telescópios até, pelo menos, meados de maio de 2014 e não apenas no dia 8 de abril!
Conforme anunciamos anteriormente, este ano haverá uma oposição de Marte. O evento é relevante porque esse planeta só se encontra em oposição a cada dois anos. 

Marte estará em oposição (isto é, na linha Sol-Terra-Marte) por um mês e meio e poderá ser observado bem, pois seu diâmetro será maior que dez segundos de arco. O máximo será alcançado de 12 a 17 de Abril de 2014 (aproximadamente 15"). Para observadores do hemisfério norte, essa será a última vez que ele estará bem alto acima do horizonte para um oposição favorável. Gradativamente até 2020, ele se tornará um objeto mais apropriado para observação no hemisfério sul.

Marte estará na constelação da Virgem na oposição de 2014 (Fig. 3). No dia 14 de Abril, por exemplo, haverá um "alinhamento" entre Marte, a lua e a estrela Spica (alfa da Virgem).

Estação do ano em Marte

Começa o verão no hemisfério norte de Marte em fevereiro (de nosso ano terráqueo). Portanto, a estação que ocorrerá em Marte será o verão que mostrará sua face para a Terra este ano. A calota polar norte estará reduzida a um tamanho mínimo. A oposição deste ano será semelhante a de 2012.

O que se pode ver

Munido de um telescópio de 200 mm a 300 mm de diâmetro, algumas características mais marcantes da topografia marciana poderão ser contempladas dependendo das condições de observação (ver abaixo). Um exemplo são as nuvens orográficas (Fig. 1) sobre os grandes vulcões marcianos (em Tarsis e Elysium) que devem durar até Junho. 

Fig. 1 Núvens orográficas em Marte como vistas em 2012. Para sua observação é recomendado um instrumento de grande abertura (> 200 mm de diâmetro). Fonte: Christophe Pellier.
Segundo C. Pellier (1), uma fenômeno que pode ser visto no planeta é o cinturão de nuvens de afélio. Trata-se de uma ocorrência muito mais sutil e que se vê na atmosfera ao redor do planeta quando ele está mais afastado do sol.

Outros fenômenos atmosféricos que podem ser vistos durante a oposição são:
  • Aparecimento de geadas na região de Hellas (Fig. 2). Esse é um vasto platô na região sul de Marte na mesma longitude de "Syrtis Major", que é uma característica facilmente reconhecida por telescópio. Em geral, muitos observadores acabam confundindo o branco observado nessa região com a calota polar. Não podemos nos esquecer que é inverno no hemisfério sul de Marte, o que favorece a formação de geadas.
  • Aparecimento de neblinas matutinas/vespertinas. Próximo ao limbo (separador entre dia e noite) pode ser possível observar esbranquecimentos que desaparecem rapidamente. De acordo com C. Pellier (1), as formações mais espetaculares ocorrem na região de Tharsis que permite a essa região elevada se destacar visualmente.
  • Núvens de grande altitude. De difícil observação, trata-se de nuvens elevadas iluminadas pelo sol sobre regiões ainda escuras (noite) de Marte. Para saber mais, consulte a Ref. (3). Foram observadas em 2012. 

Fig. 2 Mapa da superfície de Marte com características reconhecíveis por telescópio.Fonte: (2). Sul está em cima.
Condições de observação

Ter um bom telescópio (de grande abertura, boa óptica e bem colimado) não é a única condição para se observar os fenômenos acima descritos. É necessário também aguardar pelo melhor momento de observação, não só no período de maior proximidade, mas, ao  longo da noite e madrugada, por momentos em que a atmosfera se mostre menos agitada.

Essa condição é fundamental para se observar Marte porque, por causa de sua cor, se mostra como um objeto de baixo contraste ao olho humano. Naturalmente, câmeras de vídeo poderão registrar imagens nítidas e softwares especiais poderão reduzir a quantidade de ruído provocado pela atmosfera, de forma a se produzir belas imagens de planeta vermelho. 

Fig. 3 Posição de Marte junto à Lua e Spica no quadrilátero da constelação da Virgem em 14 de Abril de 2014. Essa configuração corresponde a aproximadamente 21:00 (horário de Brasília. Nessa época, Marte está mais próximo da Terra.

(*) TU = Tempo Universal

Referências

(1) What can we see on Mars this year? - http://www.planetary-astronomy-and-imaging.com/en/2014-mars/
(2) http://www.astro-tom.com/getting_started/mars.htm
(3) "A martian stumper" - http://exosky.net/exosky/?p=1606

20 fevereiro 2014

Ocultações de Saturno pela Lua (em 2014)

Fig. 1 Ocultação de saturno pela Lua em 3/11/2001. Imagem por Étienne Bonduelle, Cambrai, França. Meade 8-polegadas e câmera Philips ToUcam Pro.
Uma ocultação é o fenômeno de passagem de um astro 'em frente' a outro, ou  seja, durante uma ocultação, um objeto celeste fica no meio do caminho da linha de visada do observador. 

Ocultações podem ser provocadas por diversos corpos celestes tais como planetas, asteroides e, principalmente, a Lua. Por ter um diâmetro aparente grande, a Lua frequentemente intercepta diversas estrelas em seu caminho. No passado, a temporização de ocultações de estrelas pela Lua foi importante para se estabelecer correções nos chamados 'elementos orbitais' desse satélite e, assim, determinar, com precisão, a influência de perturbações no movimento da Lua, que é bastante irregular.

Hoje, as ocultações principalmente de asteroides pela Lua e de asteroides de estrelas são importantes para se determinar - a partir da curva de brilho - o diâmetro de asteroides.  Ocultações de planetas pela Lua tem uma razão mais contemplativa, já que pouco pode ser acrescentado ao nosso conhecimento sobre planetas na era das explorações espaciais.

Em 2014 ocorrerão duas ocultações do planeta saturno pela Lua (Fig. 1) que serão visíveis em boa parte do Brasil e na sua parte mais ao sul. Ressaltamos que nas áreas em que tais ocultações não acontecem, o fenômeno será apreciado como uma conjunção.

Ocultação de 21 de Março de 2014 (1).
Fig. 2 Simulação da fase e posição de saturno
no egresso  da ocultação em 20/3/2014.
(via Stellarium)

Essa ocultação inicia-se no dia 20/3/2014 por volta das 22:30 com a Lua aproximadamente a 17 graus acima do horizonte. O fenômeno será relativamente rápido, com egresso previsto por volta das 23:15 com a Lua a 28 graus de elevação. Portanto, a duração total será de aproximadamente 45 minutos.

O mapa da Fig. 3 ilustra a posição geográfica da 'sombra da Lua' para esse evento.

Fig. 3 Mapa da localização geográfica da 'sombra' da Lua para saturno em 21/3/2014. O fenômeno será visto em boa parte do Brasil. Fonte: IOTA (ref. 2)

Ocultação de 17 de Abril de 2014.

Essa será uma ocultação apenas para a região sul do Brasil, conforme pode-se ver pela distribuição geográfica da sombra na Fig. 4. Em Porto Alegre/RS, por exemplo, a ocultação se inicia por volta das 5:00 do dia 17/4 e termina por volta das 5:54 com quase uma hora de evento.

Nas regiões em que ela se mostrar como uma conjunção, ela também mostrará saturno sucessivamente mais distante da Lua, à medida que o observador se posicionar mais ao norte.

Fig. 4 Mapa da localização geográfica da 'sombra' da Lua para saturno em 17/4/2014. O fenômeno será visto em boa parte do Brasil. Fonte: IOTA (ref. 2)

Em Campinas/SP, por outro lado, por 'pouco' a ocultação não será visível. Ao invés disso, o que se verá será uma 'conjunção' entre saturno e a Lua, conforme ilustra a simulação via Stellarium da Fig. 5. A conjunção será bem 'cerrada' com a distância de saturno ao limbo lunar de aproximadamente 1' na sua maior aproximação.

Fig. 5 Simulação da posição de Saturno e da Lua em 17/4/2013 para a região de Campinas/SP por volta das 5:36.  O fenômeno é uma conjunção.

O que se pode ver?

É possível cronometrar o instante de ocultação não só de saturno e seus anéis, mas também de diversos satélites, contanto que se tenha um instrumento razoavelmente potente (mais de 10 cm de abertura).

Com grandes aumentos (desde que justificados com aberturas suficientes), é possível contemplar o 'por de Saturno' na Lua ou o seu 'nascimento' (durante o egresso), o que, se registrado de forma fotográfica, pode resultar em um interessante imagem para a posteridade.

A observação à vista desarmada também é interessante, uma vez que cada observador relatará de forma diferente o evento, o que depende do grau de acuidade visual de cada observador.

A observação com binóculos também é recomendada.

Notas e referências

1 - Observe que a data oficial da ocultação (referenciada por meio de tempo universal é 21 de março, mas ocorrerá no Brasil no dia 20/3).
2 - IOTA, The International Occultation Timing Association, http://www.lunar-occultations.com/iota/iotandx.htm

10 janeiro 2014

Alguns eventos astronômicos em 2014

Quais são os grandes eventos celestes para 2014? Apresentamos aqui um resumo dos principais eventos, outros serão comentados ao longo do ano em vários posts.

Oposição de planetas: destaque para Marte.

 Um planeta 'superior' (isto é, externo à órbita da Terra) está em oposição quando se encontra alinhado com a reta que liga o sol à Terra. Em 2014, espera-se a oposição dos principais planetas visíveis: Júpiter para o começo do ano (dia 5 de Janeiro), Marte (em 8 de abril) e Saturno (em 10 de Maio).

Júpiter chega a atingir o diâmetro aparente de 47", Marte, 15", e Saturno 19". A oposição de Saturno ocorrerá na constelação de Libra e terá anéis inclinados em 22 graus em relação à linha aparente que nos une a ele.

De particular interesse para amadores será a oposição de Marte, uma vez que esse planeta apenas a cada dois anos, aproximadamente, pode ser observado em condições favoráveis. O diâmetro que ele atingirá (que se deve à combinação de geometria entre as distâncias da Terra e Marte) é apenas pouco mais da metade da oposição mais favorável (que chega a quase 26"). Marte está se tornando um objeto gradativamente mais favorável para observação. Por exemplo, na próxima oposição favorável (a 22 de Maio de 2016, Marte atingirá 18,4").  A 27 de Julho de 2018, será 24,1".
Fig. 1 Imagem de Marte em 2005.

A observação de Marte é particularmente difícil, detalhes requerem que a noite esteja límpida e a atmosfera bem serena. Entretanto, o registro fotográfico - principalmente se feito com técnicas modernas de redução de ruído (como as que usam o processo de empilhamento de imagens) sempre conseguirá revelar mais detalhes do que a observação com o olho.

A Fig. 2 traz um aspecto do céu em 8 de Abril de 2014, a data da oposição de Marte. Brilhando então com mag. -1,5 ele terá como companheiros no céu a estrela Spica (da Virgem) e os asteróides Vesta e Ceres, brilhando respectivamente a 5,5 e 4,2.

Fig. 2 Mapa do Stellarium da posição de Marte no céu próximo da estrela Spica na noite de 8 de abril de 2014 (oposição). Junto com Marte, também será possível ver os asteroides Vesta e Ceres.
Urano, embora não seja planeta dos mais brilhantes, atinge oposição em 7 de Outubro de 2014, quando se apresenta com um disquinho de aproximadamente 4" de diâmetro e brilhando com mag. ~6,0.

Eclipses

Abril de 2014 também traz um eclipse da lua, que será o primeiro completamente visível (em todo hemisfério obscurecido da Terra na data) deste Dezembro de 2011. Ocorrerá na madrugada do dia 15 de Abril de 2014. A imersão da sombra terrestre na lua, para moradores do fuso -3h (correspondente ao horário de Brasília) ocorrerá a partir da 3:00, com a lua aproximadamente a 45 graus de elevação em relação ao horizonte. Às 04:00 ela já estará completamente eclipsada, e terá, como companheiros no céu, Spica (α Vir) e Marte, já em direção ao horizonte oeste. A sombra começará a sair da superfície da lua a partir de 05:26. É importante notar que o final do eclipse não será visível no Brasil.


Fig. 3 Lua quase completamente eclipsada a 15/4/2014, 04:00 tempo de Brasília, tendo Spica (α Vir) como companheira a aproximadamente 2 graus de distância.  O conjunto por si forma uma espécie de conjunção.
O mais interessante da ocorrência desse eclipse é o escurecimento do céu, que permitirá ver a olho nu estrelas que são bastante ofuscadas com a presença da lua cheia. Também brilhante será a presença de Marte, com mag. -1,4, já passada a  data de oposição.

O eclipse lunar será seguido de um eclipse anular do sol a 29 de Abril de 2014 que não será visível no Brasil.

Outro eclipse lunar ocorrerá a 8 de Outubro de 2014, que será principalmente visto no meio do oceano Pacífico e, portanto, desfavorável ao Brasil.

Conjunções

Uma conjunção é o fenômeno de localização aparente próxima entre dois astros 'não fixos' (planetas, sol, lua). Sem valor científico algum, as conjunções têm importância histórica (porque permitem conhecer com precisão a data de ocorrências passadas desde que tenham sido registradas historicamente) e de valor contemplativo.

Conjunção Lua-Marte: A noite de 7 de Junho de 2014 mostrará a lua (em fase crescente) próxima à Marte.

Conjunção Júpiter-Vênus. No alvorecer do dia 18 de Agosto de 2014, bem próximo ao horizonte leste, será possível ver Júpiter e Vênus, no que será a 'conjunção do ano' distantes apenas 12' um do outro. O horário mais favorável para observação será as 6:00 da manhã (horário de Brasília), mas, com o fenômeno, será interessante seguir os dois astros também durante o dia.

Fig. 4 Conjunção Vênus-Júpiter a 18 de Agosto de 2014 (aproximadamente 5 graus acima do horizonte leste).
Cometas em 2014.

Existirá algum cometa visível em 2014? Depois do 'fiasco' com o cometa Ison, fica sempre a pergunta sobre os próximos cometas.

Logo no começo do ano, há ainda chance de se observar o cometa C/2013 R1 (Lovejoy), de manhã, mas com brilho bastante reduzido em relação aquele de 2013. A data ideal para observá-lo será a partir do começo de Fevereiro de 2014, quando já terá se afastado o suficiente do Sol para ser visto antes da alvorada.

As duas outras 'promessas' de cometas em 2014 são cometas de fraco brilho, pelo menos para a vista desarmada:

  • C/2012 K1 (Panstarrs) que será visível com mag. 10 ou mais brilhante a partir de Abril de 2014 e que poderá atingir mag. 6 em meados de Outubro de 2014;
  • C/2013 A1 (Siding Spring) que atingirá mag. 8 no final de Setembro e começo de Outubro de 2014 e que irá passar muito próximo de Marte no dia 19 de Outubro. Já falamos sobre esse cometa no post: "Cometas em 2014: C/2013 A1 (colisão com marte?)" Dados recentes mostram que ele não irá se chocar com Marte.
Ainda que o Panstarrs seja mais brilhante, o espetáculo ficará com a 'conjunção' (nesse caso, não aparente) entre Marte e o cometa Siding Spring, que ocorrerá no dia 19 de Outubro de 2014. Um cometa com mag. 8, muito próximo de um planeta vermelho com mag. 1,0, será visível? O contraste de brilho é grande o suficiente para dificultar a visualização de ambos os corpos celestes ao mesmo tempo, mesmo com instrumentos, principalmente nas regiões com poluição luminosa. Como já discutimos no post citado, a 'colisão', ou seja, o momento de menor aproximação entre Marte e o cometa não será visível do Brasil. Assim, o melhor mesmo é tentar ver o par no dia 18 de Outubro de 2014, conforme mostra a Fig. 5, que prevê uma distância aparente de aproximadamente 43 minutos de arco (pouco mais que uma lua cheia) na data. 


Fig. 5 Posição no céu do cometa Siding Spring na noite de 18 de Outubro de 2014  (21:15 TL).  O momento de máxima aproximação não será visível  no  Brasil. A distância entre Marte e o cometa nesta data é de aproximadamente 43 minutos de arco que serão consumidos nas horas seguintes. Nesse horário, o par, entretanto, estará muito baixo, próximo ao horizonte ocidental.
O espetáculo será muito maior, porém, como visto deste a superfície de Marte, dada a proximidade do cometa do planeta (aproximadamente 140 mil quilômetros).

Mais informações sobre o C/2012 K1 (Panstarrs) serão fornecidas aqui em 2014. Por enquanto, esse cometa permanece como o mais brilhante de 2014. Vamos aguardar, quem sabe, a descoberta de algum outro ainda mais brilhante ao longo do ano.

Referências