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10 novembro 2022

Cometas em 2022: C/2017 K2 (PanSTARRS)

Imagem de D. Wipf do Cometa C/2017 K2 (PANSTARRS) obtida em 9 de julho de 2022. 

Um cometa que atingirá mag. 7.0, mas que permanecerá visível por instrumentos ópticos por um longo período de tempo (de outubro de 2022 a março de 2023). Foi em parte uma decepção, pois se esperava que atingisse ao menos mag. 5.0 e ficasse visível à vista desarmada.

Descoberto em maio de 2017, o C/2017 K2 (PanSTARRS) é considerado um habitante da núvem de Oort com uma órbita hiperbólica. Isso significa que pode nunca mais retornar às proximidades do sol depois de seu periélio em 19 de dezembro de 2022. Estima-se que ele levou milhões de anos para sair de sua posição na nuvem a cerca de 50 mil UA de distância do sol para nos visitar em 2022. Esse cometa foi descoberto pelo "Panoramic Survey Telescope and Rapid Response System" e por isso é chamado Pan-STARRS.

Como será  aparição em 2022.

É um objeto particularmente favorável para observadores do hemisfério sul tendo em vista que o cometa cruza a linha do equador celeste em julho de 2022, permanecendo no hemisfério austral até 2023 inclusive.

O brilho máximo desse objeto é estimado em 7.0, entretanto, podem ocorrer surtos de atividade que aumentarão o brilho de seu núcleo de forma inesperada. De fato, em um interessante artigo de Deborah Byrd podemos ler:

O cometa bate recordes ao se tornar ativo mesmo sob a débil luz do sol distante. Astrônomos nunca viram um cometa ativo tão distante como esse, onde a luz solar é apenas 1/225 daquela que brilha na Terra. As temperaturas lá são da orde de -260C. Mesmo em tais temperaturas congelantes, uma mistura de antigos gelos na superfície - de oxigênio, nitrogênio, dióxido e monóxido de carbone - começou a sublimar e ser lançado como poeira. Esse material se expande em um vasto halo de poeira (de 130 mil quilômetros de diâmetro) chamado coma, que forma um envelope em torno do núcleo.

Esse é portanto um objeto com atividade incomum, mesmo a uma distância muito grande do sol. A variação de luz medida para esse cometa pode ser vista na página de Seiichi Yoshida (aerith) e mostra uma curva com máximo pouco abaixo de 7.0. Um mapa detalhado da posição desse cometa pode ser baixado aqui

Posição orbital do cometa em novembro de 2022. (vanbuitenen)

Referências

 http://www.aerith.net/comet/catalog/2017K2/2017K2.html

https://earthsky.org/space/c2017-k2-panstarrs-farthest-inbound-active-comet/

https://en.wikipedia.org/wiki/C/2017_K2

http://astro.vanbuitenen.nl/comet/2017K2




25 dezembro 2021

Cometas em 2021: C/2021 A1 (Leonard)

Desenho pelo autor do cometa C/2021 A1 (Leonard) como visto desde Brasília/DF em 25/12/2021 por meio de um telescópio refletor de 5 polegadas f/12 e uma ocular de 17 mm.

Finalmente o grande cometa de 2021 se torna visível no hemisfério sul. A figura acima é um esboço em papel (negativo) de um desenho que fiz de minha observação do C/2021 A1 desde Brasília no dia 25 de dezembro, por volta das 20:00. É possível imaginar que, em céus rurais, esse cometa no final de 2021 deve ser um verdadeiro espetáculo, já que não foi difícil encontrá-lo com um binóculo em um céu tão poluído como de Brasília.

O aspecto mais notável dele na data da observação acima foi a concentração do núcleo, visível como uma pequena estrela de cor alanjada (pode ser efeito da atmosfera, já que ele estava a menos de 20 graus de elevação). Seu núcleo tem cerca de 10 km de diâmetro e, no dia da observação, a distância de mais de 90 milhões de quilômetros não se mostrou obviamente na imagem. A condensação visível é parte da região mais central da coma, o que podemos chamar "núcleo óptico" do cometa (em contraposição ao seu "núcleo físico").

No final de dezembro de 2021, o C/2021 A1 poderá ser visto como uma condensação de mag. 4.0-5.0 entre as constelações do Microscópio e o Grou, se elevando em relação ao horizonte Oeste à medida que os dias passam. O periélio desse cometa ocorrerá em 3 de janeiro de 2022, quando então ele terá reduzido seu brilho para mais de mag. 5.0. Em boa parte de janeiro de 2022 ele será visível como um astro vespertino entre as citadas constelações, não muito longe da estrela "Aldhanab" ou γ Grus. Sua observação nessas condições será sempre melhor depois das 19:30 do horário local. 

Posição do cometa Leonard em 25/1/22 pouco depois de escurecer como visto desde Brasília/DF. Olhe e direção ao horizonte oeste, pouco abaixo da estrela gama da constelação do Grou. Nessa data, sua observação será melhor por meio de um pequeno telescópio. 

Vamos encontrá-lo já com mag. 8.0 no final de janeiro, mesmo assim um astro acessível à binóculos e, claro, um bom telescópio. Sua posição em 25/1 é marcada na simulação Stellarium da figura acima. 

A partir da metade de fevereiro de 2021, ele será visível como um astro de magnitude 10 no céu matutino, ainda na mesma região entre o Grou e o Microscópio. Gradativamente, esse cometa perderá brilho, tornando-se um objeto somente acessível a médios e grandes telescópios.

20 abril 2021

Por que os cometas possuem caudas e de que elas são feitas?


Longe do calor do sol, núcleos de cometas são indistinguíveis de asteroides ou outros corpos rochosos. Sua composição volátil faz com que eles percam massa muito rapidamente se aquecidos. Esses materias, em grande parte gases ou fluidos gaseificáveis, são expelidos tanto do interior da massa que compõem os núcleo dos cometas como evolam para o espaço.

Existem dois tipos de cauda:
  • Uma cauda de gás ou de íons: criadas pelo efeito da luz ultravioleta do sol que ioniza o gás. Elas são mais 'retas' e apontam sempre imediatamente na direção oposta ao sol. Como são partículas carregadas, elas são empurradas tanto pelo vento solar como por campos magnéticos.
  • Uma cauda de poeira: formada por partículas microscópicas, 'poeira de cometa', mas mais pesadas que a cauda de gás. Atuada principalmente pela força de radiação. Como as partículas são massivas, elas têm uma estrutura mais complexa e, a vezes, estriada, revelando fluxos não uniformes a partir do núcleo do cometa. Importante também entender que, ao se desprenderem do cometa, cada partícula é um corpo em órbita do sol. Assim, sofre a influência da atração solar, razão porque algumas caudas de poeira têm o formato encurvado.
Como cometas perdem massa quando estão próximos do sol com o aquecimento, a luz do sol exerce uma pressão (chamada "de radiação") sobre as moléculas liberdas e uma calda se forma.

A força de radiação que empurra as partículas evoladas dos cometas depende da intensidade da luz. Quanto mais próximo do sol o cometa se encontrar, tanto maiores serão as caudas, pois as partículas serão projetadas em direção oposta ao sol com maior velocidade.

Referência

ALFVEN, H. t. On the theory of comet tails. Tellus, v. 9, n. 1, p. 92-96, 1957. https://tandfonline.com/doi/pdf/10.3402/tellusa.v9i1.9064

20 dezembro 2020

A estrela de Belém

E, tendo nascido Jesus em Belém de Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém, dizendo: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? porque vimos a sua estrela no oriente, e viemos a adorá-lo. (Mateus 2:1,2) 
E, tendo eles ouvido o rei, partiram; e eis que a estrela, que tinham visto no oriente, ia adiante deles, até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde estava o menino. (Mateus 2:9)
Para quem gosta de Astronomia, a proximidade do Natal lembra a "Estrela de Belém" ou a referência nos Evangelhos sobre o surgimento de um corpo celeste que teria indicado aos três Reis Magos a posição da Manjedoura. De fato, inúmeros astrônomos no passado se dedicaram a desvendar o significado astronômico do surgimento dessa estrela, que está registrada apenas no Evangelho de Mateus. Céticos naturalmente considerem a descrição fantasiosa, como criada à posteriori para validar toda a narrativa dos Evangelhos sobre a vida de Jesus. Entretanto, para a imensa maioria dos cristãos, essa opinião não é válida. 

O que seria essa estrela? Encontrar uma explicação astronômica é uma tarefa difícil, pois envolve reconciliar o texto do Evangelho com diversas possibilidades em um cenário de escassos registros da época. Dependendo de qual for favorável, há uma sequência de datas que, se aceitas, determinariam o momento mais exato do nascimento de Jesus e toda a sequência de acontecimentos de sua vida conforme narrado no texto dos evangelhos. 

Excluindo a hipótese levantada pelo ceticismo - que chamamos aqui de "teoria da fábula"- algumas das possibilidades levantadas ao longo dos séculos para a Estrela de Belém são descritas de forma breve aqui. O assunto é complexo, pois envolve inúmeros autores e explicações possíveis.

Teorias

Meteoro: um bólido ou pedaço de meteorito que atinge a Terra vindo do espaço é um fenômeno bastante comum, mas rápido demais para se adequar ao texto evangélico, que diz ter sido a estrela vista "no oriente", de onde teriam vindo os magos. O texto sugere que o tempo envolvido desde o avistamento da estrela até o instante da manjedoura é incompatível com a hipótese do meteoro.

Cometa: uma representação universal dos presépios é o da Estrela de Belém como um cometa. Essa explicação leva em conta a descrição de movimento da estrela ao longo do tempo (seu "aparecimento" repentino) e apenas um cometa poderia ter essas características em um período de alguns meses (que seria comensurável com a duração da viagem dos magos até Belém).

O únicos registros que duraram milênios de passagens de cometas foram feitos por astrônomos chineses e coreanos. Um apareceu em 5 a. C e outro em 4. a. C.  Um outro, registrado em 12 a. C, coloca a data do nascimento de Cristo muito antes do tempo para ser aceito como possível. Segundo Humphreys [1] apenas o cometa de 5 a. C. seria um candidato à identificação de estrela dado seu brilho, conforme descrito na cronologia chinesa. Visível à vista desarmada de 6 de abril a 9 de março de 5 a. C, foi um cometa com longa cauda que teria aparecido e visto pelos magos. A cronologia permite inferir a região do céu onde o cometa foi visto, o que corresponde à constelação de Capricórnio (Ch'ien-niu). Conforme descreve Humphreys:
É interessante observar que os registros chineses descrevem o cometa de 5  a. C. como cruzando a constelação de Capricórnio. Em março-abril, Capricórnio se levanta no horizonte leste como visto desde a Arábia e vizinhanças e é observado nas primeiras horas do dia. Assim, esse cometa em particular foi visto se levantando à leste no céu da manhã. Mateus 2:2 diz que os magos viram "a sua estrela no oriente". Uma tradução alternativa para "no oriente" seria "em sua ascensão". Se essa tradução for adotada, o cometa de 5 a. C. se encaixa na descrição (...) [Ref. 1, p. 398] 
A hipótese cometária foi vista com ceticismo entre acadêmicos dada a crença generalizada de que cometas anunciariam desastres. Entretanto, conforme lembrado por Humphreys [1], cometas podiam simbolizar tanto bons como maus presságios. 

Uma vantagem da hipótese do cometa é que ela resolveria o problema com a data da morte de Herodes (por volta de 4. a. C), o que claramente indica que Cristo teria nascido meia década antes da data oficialmente fixada pela Igreja. Outro autor que defende a teoria comentária é Nicholl [2], embora não identifique o cometa chinês como um possível candidato, e afirme que o cometa de Cristo foi um outro, não encontrado nos registros chineses.

Fig. 1 Imagem da Wikipedia da obra de Kepler "De Stella Nova" de 1606 aberta na ilustração da nova estrela na constelação do Ofiúco (Serpentário). 

Conjunção planetária seguida de "nova estrela". Em outubro de 1604 uma "nova estrela" apareceu na constelação de Ofiúco (o Serpentário, Fig. 1), que foi vista por Johannes Kepler (1571-1630) depois de algumas dificuldades de observação por causa do mau clima na Europa Central [3][4]. 

Kepler, hoje conhecido como um dos mais importantes astrônomos do Renascimento, era também astrólogo. Um pouco antes, ele também observou uma grande conjunção entre Júpiter, Saturno e Marte em uma região do céu conhecida na época como o "Triângulo de fogo" (entre Sagitário, Áries e Leão). Para os astrólogos de então, uma conjunção desse tipo tinha um significado profundo. Kepler especulou que tal conjunção prenunciou o aparecimento da estrela no Serpentário . Como Kepler sabia que o ano imaginado para o nascimento de Jesus estava errado (como vimos, sabia-se que Herodes - responsável pelo massacre dos inocentes - teria morrido em 4 a. C), ele lançou a teoria de que a estrela de Belém seria uma nova estrela também precedida por uma conjunção como de Júpiter e Saturno. Os três reis magos, como astrólogos, teriam previsto a aparição da nova estrela por causas dessas conjunções. 

De fato, conjunções desse tipo ocorreram em 7 a. C. e nos anos seguintes [5]. As datas das conjunções foram 27 de maio, 6 de outubro e 1o de dezembro de 7 a. C. Uma conjunção tripla (envolvendo Júpiter, Saturno e Marte) ocorreu em 6 a. C. na constelação de Peixes (associada ao Cristianismo). Elas são comuns, embora a raridade aumente quanto mais próximo se avalie os planetas na conjunção ou se a conjunção é tripla (envolve três planetas).

Há quem afirme que uma coincidência de três grandes eventos astronômicos marcou o nascimento de Cristo [1]: um cometa, uma nova estrela e conjunções planetárias. Todas essas ideias estão profundamente arraigadas em interpretações astrológica, que se perderam no passado [1], p. 398:
Sugere-se que uma combinação de três eventos astronômicos estavam envolvidos: uma sequência de três conjunões de Saturno e Júpiter em 7 a.C, uma conjunção de três planetas em 6. a. C. e, finalmente, o aparecimento de um cometa na constelação de Capricórnio em 5 a. C. A história mundial astrológica, "Sobre conjunções, religiões e povos" de Mashalla do Sec. 8 AD baseou-se em uma teoria babilônica anterior de que importantes mudanças religiosas e políticas são preditas por conjunções de Saturno e Júpiter. Assim, Mashalla usou cálculos astronômicos Iranianos para declarar que inundações, o nascimento de Cristo e Maomé foram preditos por conjunções de Saturno e Júpiter sob circunstâncias astrológicas especiais... Dessa forma, sugere-se que a mensagem astrológica da conjunção de Saturno e Júpiter em Peixes em 7 a.C. era esta: o rei Messias nasceria em Israel. O fato de que a conjunção ocorreu três vezes em 7 a. C (maio, outubro e dezembro) reforçou a mensagem provavelmente. 
E os autores de [1] continuam:
Um encontro semelhante foi observado por Kepler em 1604 que, diferentemente de Regiomontano, calculou que tais encontros entre Júpiter, Saturno e Marte ocorreriam a cada 805 anos, e sugeriu que eles coincidiam com grandes eventos históricos (suas datas supostas foram 1617 a. C. para Moisés, 812 a. C. para Isaías, 6-7 a. C para Cristo, 799 AD para Carlos Magno e 1604 para a Reforma Protestante). Para Kepler, o encontro de três planetas era astrologicamente mais importante do que conjunções sucessivas de Júpiter e Saturno, de forma que sugeriu que a supernova de 1604 e a nova estrela de 5 a. C. devem ter sido resultados dessas conjunções. Para Caldeus, Marte representava o deus da guerra, para os Persas, o guerreiro celestial. Assim, sugere-se que o encontro de três planetas em 6 a. C., depois de três conjunções sucessivas em 7 a. C., confirmou para os magos que o rei Messias haveria de nascer em Israel e seria um rei poderoso. A cena estava dada: suas expectativas aumentaram depois do terceiro sinal que indicaria que o nascimento do rei era iminente. 
Assim, os "sinais do céu" (conjunções planetárias, eclipses etc) encontrados em citações bíblicas denunciam a influencia da astrologia na narrativa bíblica. A própria teoria de Kepler se fundamenta em crenças muito mais antigas, de raiz verdadeiramente astrológica.

Teorias "Aeronômicas". Para essas teorias, a tal estrela seria um corpo muito mais próximo da Terra - algo pertencente à alta atmosfera terrestre. Aqui entramos no campo puramente especulativo, sem registros ou de impossível "comprovação". Entretanto, um objeto desse tipo se ajustaria perfeitamente a uma interpretação literal do texto do evangelho.

A conjunção de Júpiter e Saturno em 2020. 

Conforme já divulgamos, o final de 2020 será marcado por uma aproximação entre Júpiter e Saturno, mais exatamente entre 20-21 de dezembro. Essa aproximação, de fato, é a mais fechada e visível a noite desde 4 de março de 1226. A Fig. 2 traz o registro da conjunção tripla que fizemos envolvendo também a lua em 16 de dezembro último. Muitos artigos recentes [6][7] identificam essa conjunção com o nome de J. Kepler, e erroneamente inferem que se trata de uma nova "estrela de Belém". Como vimos aqui, essa não foi a ideia de Kepler, a conjunção - como "ocorrência astrológica" prenunciaria para ele provavelmente outros fatos astronômicos. Para Kepler, a estrela de Belém seria uma nova estrela, que hoje sabemos serem "supernovas" ou estrelas grandes em seus últimos estágios de vida, que nenhuma relação podem ter com conjunções de planetas a milhares de anos-luz de distância.

Seja qual for a explicação, o mistério da estrela de Belém continua...

Fig. 2 Conjunção tripla entre a Lua, Júpiter e Saturno em 16 de dezembro de 2020, como visto em Brasília/DF. Foto do autor. Para J. Kepler (um dos últimos astrônomos-astrólogos), conjunções desse tipo prenunciavam o aparecimento de "novas estrelas" no céu. Uma delas teria sido a Estrela de Belém.

Referências

[1] Humphreys, C. J. (1991). The Star of Bethlehem a Comet in 5-BC and the Date of the Birth of Christ. Quarterly Journal of the Royal Astronomical Society, 32, 389.

[2] Nicholl, C. R. (2015). The great Christ comet: revealing the true Star of Bethlehem. Crossway.
http://www.armaghplanet.com/blog/6-theories-about-the-star-of-bethlehem.html

[3] Burke-Gaffney, W. (1937). Kepler and the Star of Bethlehem. Journal of the Royal Astronomical Society of Canada, 31, 417.

[4] Kemp, M. (2009). Johannes Kepler on christmas. Nature, 462(7276), 987-987.

[5] Clark, D. H., Parkinson, J. H., & Stephenson, F. R. (1977). An Astronomical Re-Appraisal of the Star of Bethlehem-A Nova in 5 BC. Quarterly Journal of the Royal Astronomical Society, 18, 443-449.

[6] C.  Choi (2020). Jupiter and Saturn’s Great Conjunction Is the Best in 800 Years—Here’s How to See It. https://www.scientificamerican.com/article/jupiter-and-saturns-great-conjunction-is-the-best-in-800-years-heres-how-to-see-it/ 

[7] Ashley Strickland (2020). "Watch for the 'Christmas Star' as Jupiter and Saturn come closer than they have in centuries":

15 setembro 2019

Cometas em 2019: C/2019 Q4 (Borisov)

Imaagem do cometa Borisov como obtida pelo telescópio GTC de 10,5 m nas ilhas Canárias (Espanha). 
Cometas em geral podem ser classificados de acordo com suas órbitas. Cometas que têm órbitas fechadas são periódicos. Em uma outra classe estão cometas com  trajetórias parabólicas ou mesmo hiperbólicas. Por terem um excesso de velocidade (se comparados a outros membros do sistema solar), objetos com órbitas hiperbólicas provavelmente nunca pertenceram ao sistema solar: são objetos extra solares ou interestelares, já que sua exata origem (de qual sistema estelar tiveram origem) não pode ser determinada.

No dia 30 de setembro, uma busca em campos de imagens do Observatório Astrofísico da Crimeia por Gennady Borisov detectou a presença de um objeto que se distinguia dos asteroides pela presença de uma fraca cabeleira. À medida que novas observações foram sendo obtidas, sua órbita pôde ser calculada. Tratava-se de um objeto que se movia em uma trajetória com enorme excentricidade orbital (da ordem de 3), o que indicaria sua origem interestelar. 

O objeto, na data de sua descoberta, era extremamente débil, com mag. ~18.5, o que dificultava uma análise mais detalhada de sua características físicas.  Em 14 de setembro, entretanto, uma análise espectrográfica foi conseguida no Instituto de Astrofísica de Canárias, o que revelou ser sua estrutura espectral não muito diversa dos cometas do sistema solar. Ainda assim, análises de dinâmica orbital desse cometa mostraram que seu excesso de velocidade tornam sua origem no sistema solar bastante improvável. Portanto, com certo grau de certeza confirma-se sua origem interestelar. 

Dinâmica orbital e proximidade com a Terra

Cálculos orbitais presentes (setembro de 2019) colocam o periélio desse objeto por volta de 10 de dezembro de 2019, ocasião em que as estimativas de brilho conservadoras preveem máximo de magnitude da ordem de 15.0 (o que permitiria sua observação apenas por telescópios de grande porte ou acima de 300 mm de abertura desde que localizados em regiões longe da poluição luminosa). Sua excentricidade é da ordem 3.2, com inclinação orbital da ordem de 45 graus em relação à eclíptica. Na data, não excederá em 1.9 UA de proximidade da Terra, quando então se localizará na região Hydra-Crater. Um mapa de sua movimentação pelo céu pode ser visto na figura abaixo.

Mapa da posição do cometa C/2019 Q4 fornecido por S. Yochida (aerith.net) onde a data é indicada no formato mês/dia.
A curva de magnitude estimada pode ainda sofrer ajustes e colocar o cometa ao alcançe de telescópios menores. De forma alguma, porém, ele poderá ser observado a vista desarmada. Para astrônomos amadores mais avançados, será um desafio observar esse cometa - que se coloca como um visitante de fora do sistema solar - e, quem sabe, obter o seu espectro no período de maior proximidade com a Terra.

Se novidades surgirem com esse cometa, atualizaremos esta página.

Referências

C/2019 Q4 (Borisov): The First Interstellar Comet



02 março 2018

Os 20 cometas que chegaram mais próximo da Terra

De tempos em tempos, objetos celestes acabam se aproximando muito do planeta Terra. Essa aproximação é considerada perigosa se ela ocorre a menos de 0,05 U. A. da Terra, o que equivale a aproximadamente 20 vezes a distância Terra-Lua. 

Abaixo temos uma lista dos 20 cometas mais próximos classificados (segundo [1]) em ordem de distância de aproximação. O mais próximo deles foi o P/SOHO 5 (1999 J6) que chegou a menos de 5 distâncias Terra-Lua da Terra. Entretanto, esse cometa era muito pequeno, tanto que não chegou a exceder magnitude 4.0.

Para que um cometa seja de aparecimento notável, uma combinação de fatores é necessária.  Não só o cometa deve ter um tamanho apropriado (principalmente a atividade de seu núcleo), mas principalmente ele deve se aproximar bastante da Terra.

Na tabela abaixo as colunas são designadas conforme:

CG - Classificação geral em ordem de distância
CM - Classificação dos cometas dos tempos modernos
DTL - Equivalente em "Distâncias lunares".
DUA - Distância em "Unidades Astronômicas" (~150 milhões de quilômetros)
DATA - Data da máxima aproximação
NOME - Nome do cometa

Lista dos 20 cometas mais próximos em ordem crescente de aproximação.
Nessa lista temos a presença de vários cometas históricos, como o cometa Lexell de 1770, o retorno do Halley em 837 e o grande cometa de 1760.  Nos temos modernos, o C/IRAS-Araki-Alcook em 1983 foi um cometa sobre o qual muito se falou. É possível que muitos outros cometas tenham se aproximado da Terra antes dos tempos das buscas automáticas, mas eles não foram reportados. O excesso de cometas próximos nos tempos recentes reflete assim o progresso tecnológico, que permitiu que esses cometas fossem descobertos prematuramente. 

Este ano, teremos o 46P/Wirtanen que chegará a aproximadamente 30 distâncias lunares em 16 de dezembro de 2018 e é o vigésimo da lista.

Referência

 [1] http://wirtanen.astro.umd.edu/close_approaches.shtml
[2] http://cometes.obspm.fr/en 

04 outubro 2014

Cometas em 2014: C/2012 K1 (PANSTARRS)

Imagem de Rolando Ligustri mostrando o cometa C/2012 K1 com duas caudas. Esse cometa poderá ser visto em boa parte de Outubro de 2014 como um astro matutino.
Um cometa visível em binóculos e em boas condições de observação para o hemisfério sul pode ser visto em Outubro de 2014: C/2012 K1 (PANSTARRS). Trata-se de um astro descoberto pelo telescópio Panstarrs (no Havaí) com mag. 19,7 no dia 17 de Maio de 2012.

No hemisfério sul, as condições para sua observação são particularmente favoráveis porque ele se mostra (por volta das 04:00 da manhã) como um astro bem posicionado no céu (aproximadamente 40 graus de elevação), visível em direção leste. 

Esse cometa atingiu o periélio em Agosto de 2014 e brilha em outubro com magnitude pouco acima de 7,0, podendo ser visto em pequenos telescópios e binóculos. Para tanto, o período ideal é quando a lua não se encontrar próxima (o que ocorrerá entre 08/10/2014 e 19/10/2014). No começo de Outubro, esse cometa estará numa região do céu entre as constelações da Popa (Puppis) e o Unicórnio (Monoceros)/Cão Menor (Canis Minor).

O mapa abaixo permite determinar a posição desse cometa para a segunda metade de Outubro de 2014. Ver "Referências" para a versão completa (Setembro e Outubro) desse mapa. No dia 14/10, por exemplo, o cometa será visível entre as estrelas ρ e ξ Puppis, o que facilitará sua localização.

Mapa da localização do cometa c/2012 K1 para a segunda metade de Outubro. Esse cometa passará em uma região do céu rica em aglomerados abertos.
Posição de C/2012 K1 entre estrelas da constelação de Puppis em 14 de Outubro de 2014.

Referências

  • Um mapa de sua localização pode ser obtido em PDF aqui.



02 maio 2014

Cometas em 2014: C/2013 V5 (Oukaimeden)

Fig. 1 Imagem do C/2013 V5 obtida por Jean-Francois Soulier em 26 de fevereiro de 2014.
Prosseguindo na perspectivas de cometas para 2014, há um novo visitante, que poderá se mostrar brilhante o suficiente para ser visto a vista desarmada. Trata-se do C/2013 V5 chamado "Oukaimeden", descoberto no dia 15 de novembro de 2013 por Michel Ory no observatório Oukaimeden no Marrocos com um telescópio de 50 cm. 
Fig. 2 Observatório Oukaimeden, onde foi descoberto o cometa.

A principal expectativa desse objeto é que ele atinja magnitude 5,5 em meados de setembro de 2014. Já em agosto, o cometa Oukaimeden poderá ser observado por meio de binóculo na constelação Monoceros (Fig. 3), a leste de Órion, no céu matutino. Em particular, observadores no hemisfério sul estarão melhor posicionados para observar esse cometa durante todo mês de setembro de 2014, de novo, no céu matutino. O periélio do C/2013 V5 ocorrerá em 28 de setembro de 2014.

Os elementos orbitais desse cometa já estão disponíveis para se determinar a posição dele com precisão em mapas. Na Fig. 3 representamos a posição do C/2013 V5 às 5:00 da manhã no período indicado. Veja que o cometa está acima da constelação do Cão Menor (que é um asterismo pouco significativo), baixo no horizonte leste. Nessa posição e data, o cometa poderá ser visto a olho nu em regiões sem poluição luminosa.

E após do periélio? A Fig. 4 ilustra a posição no céu vespertino (para aqueles que não gostam de acordar cedo) e mostra o cometa Oukaimeden nos domínios da constelação de Libra. A menos que algum fenômeno de aumento súbito de brilho aconteça, nessa posição, o cometa será visível com binóculos. Notem nos mapas a posição da cauda.

Fig. 3 Mapa do software Cartes du Ciel para o cometa C/2013 V5 na madrugas de 15 de agosto a 2 de setembro de 2014. A posição da projeção é para a cidade de São Paulo.
Fig. 4 Posição do C/2013 V5 entre 2 e 20 de outrubro de 2014. O horário é 19:00 para a cidade de São Paulo.
Posteriormente, traremos outras cartas e informações desse que talvez seja o principal cometa de 2014.

Referências

15 abril 2014

Cometas em 2014: C/2012 X1 (LINEAR)

Fig. 1 C/2012 X1 (LINEAR) numa imagem por Gianluca Masi, Ceccano, Itália em 25 de Outubro de 2013. Projeto telescópio virtual, www.virtualtelescope.eu.
Cometas são, verdadeiramente, objetos imprevisíveis. O fracasso do ISON pode reduzir o interesse de muitas pessoas pelos cometas, ao mesmo tempo que a imprevisibilidade deles os torna objetos fascinantes, o que contribui para restaurar esse mesmo interesse.

Tal é o caso do cometa C/2012 X1 (LINEAR) que, embora não possa ser visto à vista desarmada, está brilhante o suficiente para ser observado com um telescópio de pequeno porte. Isso só é possível porque esse cometa passou por um "outburst" (ou seja, um aumento súbito de brilho) em outubro de 2013. Em abril de 2014, ele continua a ser o cometa mais brilhante até abril, embora já tenha passado o periélio.

A curva de brilho é vista na Fig. 2 e mostra um comportamento bastante singular. Ainda em abril, esse cometa pode ser visto no hemisfério sul como um astro matutino, de magnitude 8.5.

Fig. 2 Curva de brilho do cometa C/2012 X1 (LINEAR) com a contribuição de vários observadores e produzida por Seiichi Yochida (http://www.aerith.net/index.html). Uma mudança súbita de brilho ocorrida em Outubro de 2013, deixou esse objeto ao alcance de pequenos instrumentos.
Mapas de observação

Um mapa de observação do cometa C/2012 X1 (LINEAR) pode ser baixado aqui. Ele se encontra entre Aquário e Capricórnio, distante 1,8 unidades astronômicas da Terra, com uma cabeleira (coma) da ordem de 4 minutos de arco. As madrugadas do final de abril de 2014 sejam talvez mais propícias para sua observação por contarem com influência evanescente do brilho da lua. No dia 25 de abril de 2014, por exemplo, ele poderá ser encontrado próximo a estrelas de 6a magnitude (17 e 19 Aqr) conforme mostra as Figs. 3 e 4. A lua estará baixa no horizonte leste, próxima ao planeta Vênus.

Fig. 3 Posição do cometa C/2012 X1 no dia 25 de abril de 2014, próximo às estrelas 17 Aqr e 19 Aqr na constelação do Aquário. As 05:00 do tempo local, por exemplo, nas latitudes -23 graus, ele se encontrará quase que 60 graus acima do horizonte, facilitando sua observação.

Fig. 4 posição do cometa C/2012 X1 entre 25 de abril a 13 de maio de 2014. O horário é 04:00 para a cidade de São Paulo. Sofware Cartes du Ciel.

Não se deve esperar um espetáculo porque o C/2012 X1 não é reconhecidamente um cometa brilhante. A posição no céu (relativamente alto no céu do hemisfério sul), porém, contribui para sua localização. Uma variação de 6 pontos no brilho já demonstra que o C/2012 X1 está se esforçando para fazer uma bela passagem pelo centro do sistema solar.

Referências

14 setembro 2013

Cometas em 2013: C/2012 V2 (LINEAR)

Imagem do cometa C/2012 V2 tirada por D. Peach em 1 de Setembro de 2013.

Descoberto no dia 5 de novembro de 2012 por instrumentos do projeto Lincoln Laboratory Near-Earth Asteroid Research (LINEAR) este é, em setembro de 2013, o cometa mais brilhante visível. Isso ainda é mais importante pelo fato de ser observável de forma ótima desde o hemisfério sul. O C/2012 V2 atingiu o periélio em 16 de agosto de 2013 e, agora, lentamente reduz seu brilho.

Para observá-lo ainda em setembro/2013 é necessário acordar cedo, antes do nascer do sol. Um bom horário é por volta das 05:00 da manhã, procurando, com um binóculo, por uma nebulosidade nas constelações de Hydra/Pyxis. Esse mesmo horizonte oriental será palco de vários cometas ainda em 2013. Para quem pretende treinar a localização de cometas, o C/2012 V2 é um bom teste de acuidade visual.

Posição de C/2012 V2 antes do nascer do sol em Setembro de 2013. A estrela mais próxima da posição do cometa vista um pouco abaixo dele é Alphard (α Hydra)
Não espere por um cometa de grande brilho. Com magnitude aproximadamente 8.7 em setembro/2013, sua localização exata pode ser obtida (sem ajuda de guiagem automática) por meio deste mapa aqui.

Este cometa permanece visível com ajuda de instrumentos por todo o mês de setembro. No final desse mês e início de outubro, a lua vem se juntar ao cenário do horizonte leste. Por causa do movimento do sol (o dia lentamente se inicia mais cedo), recomenda-se, para observar o cometa ainda em outubro, acordar mais cedo ainda (algo como 15' antes). A cada dia que passa em outubro, o C/2012 V2 torna-se um objeto cada vez mais austral e de menor brilho, dificultando o acesso por observadores do hemisfério norte. 

Referências

23 junho 2013

Relatos de minhas observação do 1P/Halley em 1986


Uma observação nossa, datada de 5 de abril de 1986 foi encontrada em nossos registros de observação. Depois de 27 anos, temos a chance de publicá-la, com desenhos que foram feitos na época. Essas observações foram feitas desde Piracicaba/SP e usei um binóculo 7X50 e um telescópio refletor Newtoniano de 120 mm de diâmetro marca DFV (DF Vasconcellos).

Página 1 do relato de observações em 5 e 4 de abril de 1986.
Clique na imagem para ampliá-la.
O texto da Página 1, escrito à máquina diz:
Minha primeira observação pós periélica do cometa Halley se deu às 8:30 da manhã (TU) do dia 14 de março. Estava ele acima da constelação de Capricórnio, dentro de um quadrilátero formado por quatro estrelas em forma de trapézio. 
A cauda perfeitamente visível não excedia os 4 graus, mas a cauda real deveria ser bem maior. A olho nu, era possível vê-la estreita e pequena. Esta cauda revelava-se, ao binóculo 7X50, grossa e com um bom comprimento. Talvez sua espessura seja devido ao efeito de perspectiva entre a cauda de poeria e a de gás. 
A magnitude visual do cometa na ocasião era, por incrível que pareça, superior à magnitude do aglomerado globular ω Centauri. A dimensão da cabeleira era da ordem de 7' de arco, com um núcleo óptico de diâmetro superior ao estelar, portanto, maior que 1" de arco.
E prossegue:
No dia 21 de março, volto à observação no mesmo horário.  
A principal diferença era o fato da cauda apresentar uma menor curvatura do que no dia 14. 
No dia 26 de março, a influência da Lua é marcante no comprimento da cauda. Sua redução é quase que completa, somente destacando-se a cabeleira e o núcleo. 
4 de abril -------------------
Início: 2:30 TU. 
A cauda apresentava-se muito menor do que no dia 14 de março. 
O fato mais marcante da observação foi o diâmetro da cabeleira, que apresentava-se bem maior do que antes, devido a sua maior proximidade com a Terra. O diâmetro era de ordem de 13' com núcleo um pouco mais nebuloso. 
A magnitude visual este dia era de ordem inferior ao do aglomerado globular ω Centauri. Talvez isso seja devido a proximidade do horizonte, o que diminuiria sua luminosidade. 
Observação: todas as observações foram realizadas em área urbana, com poluição luminosa não muito influente e sem poluição atmosférica.
Página 2 do relato de observações em 5 e 4 de abril de 1986.
Clique na imagem para ampliá-la.
Finalmente, a foto apresentada no final, é uma reprodução de uma imagem publicada no jornal na época, de autoria e data desconhecidos. O texto é acompanhado com desenhos feitos à mão do que pude observar nessas datas. Minha descrição do céu urbano de Piracicaba na época era de 'pouca influência da poluição luminosa', o que contrasta com os dias atuais.

01 março 2013

Cometas em 2014: C/2013 A1 (colisão com marte?)

Imagem de Janeiro de 2013 do cometa Siding Spring tirada no Observatório do Vaticano (telescópio de 1,83 m). Este seria um cometa normal, se não fosse a chance de colisão com marte em Outubro de 2014...

O cometa C/2013 A1, chamado de 'Siding Spring', seria um cometa "normal" para 2014 que atingirá magnitude abaixo de 9.0 (visível por meio de binóculos em regiões de céu muito escuro). O problema é que, em estimativas mais recentes de sua órbita, ele tem a chance de colidir com marte!

Descoberto em 3 de Janeiro de 2013 por Robert McNaught no Observatório de Siding Spring com um telescópio de 50 cm, uma imagem recente desse cometa pode ser vista acima (imagem obtida no Observatório do Vaticano). 

Siding Spring: em rota de colisão com marte?
Se ocorrer colisão, será no dia 19 de Outubro de 2014. As estimativas de hoje (março de 2013) mostram que ele passará a menos de  0,0007 Unidades Astronômicas de marte, ou aproximadamente 100 mil quilômetros, o que é bem pouco para os padrões de distância planetários. Como há incertezas, essa estimativa pode representar uma colisão de fato. 

Estimativas ainda mais recentes (feitas por L. Elenin em 27/2/2013) mostram que ele poderá chegar a 41 mil quilômetros de marte. No caso das previsões mais catastrofistas (que estima um diâmetro de 50 km para o núcleo do cometa), a colisão seria realmente muito grande, sem nenhuma 'destruição' de marte, apenas para o cometa.

Hoje, este cometa brilha com mag. 18.1 (inacessível a telescópios amadores) e, em outubro de 2014, sua 'colisão' com marte, desde o Brasil, não poderá ser visível, pois se dará durante o dia (a hora de máxima aproximação prevista será por volta das 16:50 do tempo legal).  Nos dias anteriores, a magnitude estimada será pouco pouco abaixo de 9,0. Nessa data, o cometa e marte se encontrarão na constelação de Ofíuco.

De qualquer forma, na data de 19 de Outubro de 204, como visto desde marte, esse cometa poderá atingir mag. -8,0, o que o colocaria como um dos mais brilhantes objetos do céu. 

Posição no céu do cometa Siding Spring na noite de 18 de Outubro de 2014  (21:15 TL).  A 'colisão' não será visível  no  Brasil. A distância entre marte e o cometa nesta data é de aproximadamente 43 minutos de arco que serão consumidos nas horas seguintes.
Referências

06 fevereiro 2013

Cometas em 2013: Panstarrs (C/2011 L4)

ATUALIZAÇÃO (12/3/2013):  Haverá uma janela de 10 a 20 minutos apenas para observar esse cometa nas noites que seguem o dia 12/3. Ele não é um objeto visível facilmente à vista desarmada exceto no caso de observadores muito bem treinados, que morem em lugares elevados e com horizonte ocidental livre de qualquer tipo de nuvem ou neblina. Dependendo da quantidade dessa neblina, nem mesmo binóculos poderão mostrar o cometa. A melhor opção é um telescópio com baixo aumento (grande campo de visão). O C/2011 L4 ou Panstarrs não será mais visível para observadores no hemisfério sul a partir do dia 16/3.
Representação artística do aparecimento do cometa PANSTARRS, totalmente visível a olho nu, na tarde de 7 de Março de 2013, como visto de Campinas/SP as 18:55 ena direção oeste (W). A estrela no canto superior é o planeta Júpiter. A magnitude estimada pode ficar abaixo de 1.0.
Cometas são como gatos: eles tem caudas e só fazem o que querem... (David Levy)
Antes que o cometa ISON (C/2012 S1) faça seu aparecimento no final de 2013, outro cometa poderá ser visível em seu máximo em março de 2013. O telescópio Pan-STARRS do Havaí descobriu esse astro em Junho de 2011. Como cometas levam o nome de seus descobridores, ele ficou conhecido como PANSTARRS ou C/2011 L4. Esse cometa se tornou acessível à equipamentos de amadores a partir de Maio de 2012. De acordo com algumas estimativas otimistas, esse cometa poderá ser mais brilhante do que Vênus, mas cometas são imprevisíveis de forma que essa previsão pode não se confirmar.

O Panstarrs é um cometa aperiódico. Isso significa que ele provavelmente levou milhões de anos para sair da Núvem de Oort (de onde se acredita os cometas originam) para atingir o interior do sistema solar. Depois que ele se aproximar do sol, especialistas dizem que sua órbita será encurtada para apenas 110 mil anos (ou seja, ele levará esse tempo para retornar na vizinhança do sol - o periélio - novamente).

Portanto, esse é um astro que somente será visto uma vez em nossas vidas...

A figura acima é uma representação artística para o cometa c/2011 L4 na tarde de 7 de Março de 2013 aproximadamente as 18:55 caso as condições de visibilidade sejam excepcionais. A magnitude estimada é 0,62 (lembrando que isso pode não ocorrer) e a altura desde o horizonte para o cometa é aproximadamente 9 graus. A cauda deverá ser visível verticalmente como mostra a figura. Nessa data o Panstarrs estará em Cetus (Baleia).

Prognósticos de visibilidade

5 de Março de 2013: o Panstarrs passará próximo da até a 1.1 UA de distância. Um UA equivale à distância entre o sol e a Terra ou 150 milhões de quilômetros;

10 de Março de 2013: O Panstarrs passará próximo ao sol - cerca de 0,3 UA ou tão perto quanto o planeta Mercúrio está do sol. Nessa data, ele provavelmente estará mais luminoso, pois o calor do sol vaporiza material do cometa, o que contribuirá para torná-lo mais brilhante e com uma cauda pronunciada;

Durante Março de 2013: infelizmente, o cometa será um astro favorável para observadores do hemisfério norte, onde aparecerá baixo no horizonte oeste depois do sol desaparecer. Tomando um momento fixo depois do por do sol, ele será um astro localizado sucessivamente mais alto no céu, à medida que se desloque da constelação de Peixes em direção a Pégasos e Andrômeda. Provavelmente, nesse mês  o Panstarrs exibirá sua maior causa de poeria e ficará visível à vista desarmada. 

Abril de 2013: o final de março marcará sua perda de brilho e movimento em direção à declinações mais elevadas no hemisfério norte, tornando-se um objeto circumpolar. Para os observadores no hemisfério sul, ele será um astro de difícil observação, à medida que evanesce e se aproxima do horizonte norte.

A Fig. 1 é uma representação de Panstarrs (baseada no software Stellarium) para o dia 17 de Fevereiro de 2013, as 5:15 da manhã na direção  sudeste (SE). Com mag. 4.0, o cometa seria visível à vista desarmada. A estrela mais brilhante da imagem (canto superior) é Peacock ou alpha Pavonis.

Fig. 1 Representação do cometa Panstarrs como visto na madrugada  de 17/2/2013 desde Campinas/SP na direção SE (aproximadamente 5:15) brilhando à magnitude 4.0 (visível à olho nu).
Na semana que vai de 22 de Fevereiro de 2013 a  9 de Março de 2013, o Panstarrs poderá ser visto, aproximadamente no mesmo horário mostrado na figura, na direção oeste movendo progressivamente para o norte e mudando de brilho desde magnitude 1,6 a 0,5, respectivamente. Mais informações sobre ele serão dadas futuramente.
Fig. 2 Mapa para localizaçaõ do cometa C/2011 L4 durante Fevereiro de 2013. Clique no mapa para ampliação.
A Fig. 2 traz um mapa para a localização do cometa Panstarrs durante Fevereiro de 2012. Note que ele se encontrará baixo próximo ao horizonte na direção leste (antes do nascer do sol) durante a maior parte desse mês.

Em março postaremos outros comentários e posições para este cometa.